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Fernanda Santana
Publicado em 22 de dezembro de 2019 às 03:28
- Atualizado há 2 anos
Debaixo de uma árvore, no Porto da Barra, a ambulante Jocélia de Jesus, 62 anos, troca de lugar conforme a posição do sol. "E ainda dizem que vai ficar mais quente. Oh, meu deus", preocupa-se ela sobre o verão, oficialmente iniciado hoje. O CORREIO, com ajuda de meteorologistas, analisou as temperaturas dos últimos 30 verões e mostra que não é só impressão: desde 1989, a estação está mais quente. >
As primeiras semanas de dezembro já bateram o pico de temperatura do mesmo período ano passado, por exemplo. Em dezembro de 2018, o auge do calor foram 31,3 ºC. Neste ano, às 14h do dia 6, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 32,6 ºC. O órgão disponibiliza, online, medidas de tempo desde 1963. “O que a gente tem observado, e está claro, é que essas temperaturas têm ficado mais elevados. Quando observamos a média, talvez não uma diferença significativa. Mas, em termos pontuais, temos temperaturas mais elevadas”, explica Cláudia Valéria, meteorologista do órgão.Leia mais: De maltado de côco a teatro com vista para o mar, conheça tendências da estação>
Os meteorologistas não arriscam dizer se este verão será, ou não, mais quente. As mudanças podem acontecer rapidamente e surpreender até os especialistas. Mas o retrospecto mostra padrões.>
Desde o verão de 1989, a elevação do pico de temperatura de um dia - o máximo registrado em 24 horas - foi de 1,2 ºC nos meses de fevereiro. Durante todo o verão, o aumento foi de 0,6ºC. >
Exposto ao sol, sobre a balaustrada da orla da Barra, o aposentado José Andrade de Lima, 70, sentia a pele queimar no início da tarde da última quinta-feira (19). "Se tá mais quente? Ô se tá", opinou ele, para quem o calor dá trégua apenas sob a água do mar.>
O mar costuma mesmo ser o principal refresco para o calor de um verão que já era sentido na pele mesmo antes do início. O CORREIO buscou algumas respostas para as dúvidas mais comuns sobre o verão, tenta explicar os motivos do aumento da temperatura e mostra os casos em que o calor pode adoecer.>
HÁ 30 VERÕES, ESTAÇÃO ESTÁ MAIS QUENTE Desde 1989, a temperatura máxima do verão chegou a evoluir 1,2 ºC nos meses de fevereiro. Durante todo o verão, o aumento foi de 0,6 ºC. Para entender o crescimento, é preciso analisar alterações como as mudanças pelas quais o mundo passa. As árvores funcionam como espécies de umidificadores de ar, explica o meteorologista Ricardo Rodrigues, mas perdem espaço para urbanização. Há também a quantidade de emissão de poluentes por exemplo, que aprisionam calor. Ainda não há estudos sobre o curso de uma mudança climática na cidade. Para isso, seria preciso estudar se as chuvas diminuíram, a urbanização, se a umidade mudou e como, e quando, se dá o aumento da temperatura.>
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DEZEMBRO COMEÇOU COM RECORDE DE CALOR Há duas semanas, o celular do diretor da Defesa Civil de Salvador (Codesal), Sosthenes Macedo, disparou com mensagens. O conteúdo era o mesmo: o verão 2019-2020 seria o mais quente de todos os tempos. O texto era falso. “Todo ano tem essa conversa de que está mais quente”, brinca. Afinal, o que esperar do verão? Desde o início do mês, as temperaturas estão mais quentes. Já superamos o pico de calor do mesmo período de 2018. Embora seja impossível prever como será o verão. Meteorologista do Inmet, Cláudia Valéria conta que, sensivelmente, é possível identificar que as temperaturas estão mais elevadas. O próprio retrospecto de temperaturas pode oferecer algumas respostas.>
O QUE FAZ DO VERÃO DE SALVADOR UM FORNO Massas de ar quente e seco chegam até o ambiente e impedem a formações de nuvens - que condensariam até chover. As chuvas contribuem para uma sensação de menos calor, explica o meteorologista Ricardo Rodrigues. Outros sistemas, como os chamados vórtice ciclônico de ar e convergência do atlântico sul agem de maneira similar. Por outro lado, nos dias mais úmidos, há a sensação do que chamamos de abafamento, quando a perda de calor pelo corpo por meio do suor, um refresco, fica mais difícil. A localização da capital baiana, mais próxima à Linha do Equador, contribui para que a emissão de raios seja ainda mais intensa, explicaram os meteorologistas ouvidos.>
FEVEREIRO E MARÇO TÊM PICOS DE CALOR MAIORES Desde 1989, das cinco maiores temperaturas registradas, quatro foram registradas no verão. O pico do verão aconteceu no dia 10 de março de 2018, quando o termômetro chegou a marcar 35,6 ºC. Os meses de fevereiro e março são, inclusive, os que aparecem na lista dos mais quentes. O meteorologista Heráclio Alves explicou que esse período costuma registar as temperaturas mais altas da estação. Isso porque é quando as massas de ar quente e seco agem mais intensamente. Apesar de ser um mês de transição para o outono, no dia 23 de março, as características do verão seguem até a primeira metade da estação de transição. "Já fevereiro está no centro do verão", classifica Heráclio.>
MESMO NO CALOR DA CIDADE, EXISTEM REFÚGIOS As temperaturas variam dentro de uma mesma cidade. Locais mais arborizados ou próximos do mar são mais frescos. Em centros urbanos, a sensação é contrária. O vento, ao passar pela superfície da água do oceano, chega mais frio ao continente e resfria a temperatura, explica o oceanógrafo Guilherme Lessa. Qualquer calor – ou frio – que sentimos também pode ser maior ou menor do que o real, a depender de onde estejamos. É o que os meteorologistas chamam de sensação térmica. É possível, então, buscar refúgios em determinados locais da cidade. A temperatura pode ser elevada, em média, a 3ºC, a depender das condições do ambiente, explica Cláudia Valéria.>