DPT analisa se ossadas encontradas em matagal são de colombiano e namorada

Casal desapareceu no dia 14 de fevereiro; primo diz que reconheceu roupas

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  • Eduardo Dias

Publicado em 2 de março de 2020 às 15:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução/Arquivo Pessoal

(Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) Durante exatos 16 dias, os familiares do colombiano Edilson Cardona Martinez, de 27 anos, e de sua namorada, Kimberly Dias dos Santos, 21, desaparecidos desde o dia 14 de fevereiro, procuraram incansavelmente por eles. Agora, a família tem um fio de esperança de poder dar um enterro digno aos dois.

Neste domingo (1º), familiares receberam uma ligação anônima informando que ossadas humanas foram encontradas na BA-526, conhecida como estrada CIA-Aeroporto. A polícia foi acionada e os restos mortais foram levados para o Departamento de Polícia Técnica (DPT) para análise e a família acredita se tratar do casal, já que parentes reconheceram as roupas usadas por ambos.

Durante o procedimento de reconhecimento do corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLRN), um primo de Edilson, que por segurança preferiu não ser identificado, contou ao CORREIO que durante esses 16 dias procurou pelo primo incansavelmente. Ele distribuiu fotos do colombiano e da namorada em hospitais e ofereceu uma recompensa de R$ 3 mil por qualquer informação sobre o casal.

Segundo o rapaz, logo após a ligação anônima, ele foi com o sogro ao local indicado, em meio a um matagal, próximo à via que dá acesso à cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, e a menos de dois quilômetros do Jardim das Margaridas, onde o colombiano morava e trabalhava.“A investigação foi feita por mim. Busquei meus meios de conseguir a informação. Fui até o local e vi os corpos. Eu reconheci os dois logo de cara. Ainda estavam com as roupas que tinham usado em uma foto postada no dia anterior”, contou o rapaz. Edilson morava em salvador há 3 anos (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal) Edilson e Kimberly estavam juntos há dois meses e já moravam juntos. Antes de se mudar, o colombiano morava com o primo, que trabalha com ele como comerciante de mercadorias em Salvador.

Segundo o familiar, Edilson guardava cerca de R$ 35 mil em sua residência para pagamentos de fornecedores. O primo do colombiano afirmou que chegou a alertá-lo para o risco de guardar um valor tão alto em espécie, já que ele usava o imóvel também para atender seus clientes.  

“Eu também trabalho com mercadorias e sei do risco de estrar com tanto dinheiro dentro de casa. Foi uma burrice dele guardar tanta quantia em dinheiro em casa. Era quase R$ 40 mil. São muitas versões, mas eu estou achando que eles tiverem a casa invadida, pegaram eles e sumiram com o dinheiro, mercadoria e celulares dos dois”, disse.

Edilson trabalhava com venda de produtos e acessórios para celulares, além de consertos e assistência técnica. Ele atendia na própria residência, no Jardim das Margaridas. O dia de seu desaparecimento, 14 de fevereiro, seria justamente o dia em que ele iria depositar o valor no banco.

“Ele desapareceu na sexta pela madrugada, e iria fazer o depósito na manhã do mesmo dia. Foi um dinheiro que ele arrecadou ao longo do mês. Os bandidos chegaram, bagunçaram a casa dele, levaram quase toda a mercadoria que tinha lá, avaliada em torno de R$ 5 mil. Acredito que pelo fato de entrar pessoas diferentes na casa dele, o olho de alguém cresceu”, pontuou.

Família e alívio O primo do colombiano revelou ainda que, por conta da quantidade de dias de desaparecimento, ele já não tinha mais esperança de encontrar o casal com vida.

"Muito difícil passar por tudo isso. Ele era meu único parente aqui no Brasil. Eu vim da Colômbia primeiro que ele, ele veio depois, por minha causa. Eu e a mãe dele temos uma relação muito forte, imagino a situação que ela está vivendo, pois ela ainda acreditava que eles estavam vivos”, disse o rapaz, que apesar da fisionomia séria, por, segundo ele, já ter sido soldado do exército colombiano, sentiu muito a perda do parente.

“Tudo o que eu ia fazer, eu pensava nele. Por mais que eu tenha sido um soldado e seja acostumado com essas coisas, eu também sou um ser humano. Eu não conseguia nem comer direito, só de imaginar que ele poderia estar sentindo fome, amarrado e sendo torturado. Foram dias totalmente difíceis”, completou.

O sumiço do turista ainda é um mistério, mas segundo o primo, Edilson vinha recebendo constantes ameaças do ex-namorado de Kimberly, identificado como Cairo. Ele acredita que o rapaz seja suspeito do crime ou tenha alguma participação.

“Eram ameaças por telefone. Eu não ouvia o que o cara dizia, mas ouvia as respostas dele. Em uma dessas respostas eles disse: ‘Me perdoe, mas ela está onde ela quer estar’. Eles discutiam, mas ele ligava muitas vezes ameaçando meu primo. Pode ser que, por ciúmes, esse cara tenha mandado alguém invadir a casa dele e sequestrar os dois, mas lá perceberam que tinha dinheiro e mercadorias”, acredita.

O rapaz disse ainda que optou por não se identificar pois não imagina que tipo de pessoa pode ter cometido o crime contra seu primo. “Fiquei com medo desde que recebei a ligação anônima. Era um local de muito mato, quase eu desistia. Tudo que eu descobri, passei para a polícia. Vou deixar a investigação com eles agora”, revelou.

Em nota, a Polícia Militar informou que policiais militares 49ª  Companhia da PM (CIPM/São Cristóvão) foram acionados para atender a uma ocorrência de dois corpos localizados na rodovia Cia/Aeroporto. No local, os policiais adentraram ao matagal, onde encontraram os corpos em estado avançado de decomposição. A guarnição acionou a perícia técnica e a Polícia Civil, que investigará o caso.

Já a Polícia Civil reforçou que uma equipe do Serviço de Investigação de Local de Crime (Silc), do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP), foi acionada, na tarde do domingo (1º), referente a ossadas humanas de duas pessoas, encontradas em um matagal, na Estrada do Cia, em São Cristovão.

Foram expedidas as guias de remoção e perícia e as ossadas, além de uma faca encontrada no local, foram encaminhadas para o Departamento de Polícia Técnica (DPT), onde serão periciadas. A investigação seguirá com a 1ª Delegacia de Homicídios (DH/Atlântico).

Liberação e enterro Os corpos permanecem no DPT aguardando a realização de exames de identificação pela arcada dentária, para atestar se são mesmo de Edilson e Kimberly. Além do primo do colombiano, os parentes da namorada também estiveram no órgão, mas não quiseram falar com a imprensa. 

Caso seja confirmado que o corpo é mesmo de Edilson, ele será encaminhado para enterro na Colômbia.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier