É baratino! 10 mentiras sobre Salvador que você sempre acreditou

Subsolo do Mercado Modelo abrigava escravos? Pelourinho é a parte mais antiga da cidade? Sei não...

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 28 de novembro de 2018 às 11:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Colagem: Quintino Andrade/CORREIO

No Mercado Modelo é difícil achar quem duvide. Por lá, os comerciantes juram de pés juntos que aquele subsolo é assombrado. O motivo? Lá funcionava uma prisão para escravos e o espírito deles permanece vagando até hoje. Se der sorte, pode até encontrar algum relato de quem já ouviu gritos de dor e chicotadas no local. Assustador? Pode até ser. Só tem um detalhe: o Mercado nunca serviu pra isso. 

Se você se surpreendeu com a informação, saiba que existem muitas outras estórias e curiosidades sobre Salvador. Aquele tipo de coisa que não se sabe a fonte ou onde começou, mas todo mundo acredita cegamente que é verdade. 

Cadastre seu e-mail e receba novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, tecnologia, bem-estar, pets, decoração e as melhores coisas de Salvador e da Bahia: (Colagem: Quintino Andrade/CORREIO) “São mitos populares. Algumas coisas são repetidas erroneamente e se tornam algo em que as pessoas acreditam. Você ouviu falar, não sabe de onde veio a informação, mas acha que é verdade. Essa oralidade é muito comum na nossa terra, acaba virando algo pitoresco”, comenta Francisco Senna, arquiteto, historiador e professor de História da Faculdade de Arquitetura da UFBA durante 34 anos.

O historiador e escritor Daniel Rebouças (@daniel.reboucas.historia) também acredita que a oralidade tem papel fundamental na construção dessas estórias.

“Eu acho que a memória de uma cidade está muito associada à tradição oral. Como muitos nomes são parecidos, eles podem se confundir determinar situações, é o caso de pelourinho e Pelourinho, por exemplo”, diz Daniel.

Sim, tem diferença. Pelourinho com letra minúscula é um objeto, uma coluna de pedra presente em todo lugar colonizado por Portugal onde criminosos eram punidos.

O Pelourinho, Centro Histórico, é outra coisa. A confusão dos nomes iguais fortalece a ideia de que o ponto turístico baiano foi um local de tortura de escravos, o que também não é verdade.

Bateu curiosidade? Conversamos com os historiadores e listamos dez fatos curiosos sobre Salvador. Confira:

Subsolo do Mercado Modelo Como foi dito no início da reportagem, essa conversa de que o subsolo do Mercado Modelo abrigava escravos é pura falácia. “É mentira. O prédio foi inaugurado em 1861 e em 1850, 11 anos antes disso, foi promulgada uma lei que abolia o tráfico de escravos, então não entravam mais navios negreiros.

A estrutura do subsolo só foi aberta em 1971, depois do incêndio de 1969. Antes, ali não era nada, só um porão construído para que o piso da alfândega, que ficava junto ao mar, não sofresse com a umidade e prejudicasse as mercadorias”, revela Senna.  E se você pensou no contrabando, ok, ele existia. Mas também não passava pelo local.“Eles não paravam lá pois era uma alfândega, um local monitorado. O tráfico ilegal era feito no que hoje é o Jardim de Alah”, completa Daniel. (Colagem: Quintino Andrade/CORREIO) Fachada protetora Há quem diga que a fachada da Ordem Terceira de São Francisco é toda de pedras porque foi construída na época da invasão holandesa. Sendo assim, a estrutura servia como proteção. Mentira!

“A igreja foi fundada em 1705 e a invasão aconteceu em 1624, ela nem existia. Na verdade, toda a igreja foi construída com decoração barroca, mas depois ela caiu de moda e o neoclássico passou a ser o mais bonito. As irmandades mais ricas, como a Ordem Terceira, mudaram tudo. Como reconstruir a fachada era muito complicado, ela acabou ficando”, explica Francisco. (Colagem: Quintino Andrade/CORREIO) Torre das igrejas Algumas igrejas só tem uma torre pois não pagaram corretamente os impostos? Nada disso. As causas são diversas. “Ali no Terreiro de Jesus, por exemplo, tem a igreja de São Pedro dos Clérigos e a de São Domingos.

É mentira que não concluíram para não pagar impostos. Cada caso é um caso, o motivo pode ser até um relâmpago. Na igreja da Santíssima Trindade, no Comércio, foi isso que aconteceu”, afirma Senna.Castigar escravos Alguma vez você estava andando pelo Pelourinho e alguém comentou sobre aquela estória de que o local foi feito para castigar escravos? Se sim, saiba que não é 100% mentira, mas o negócio não é bem assim.“Não foi feito para escravos, mas para prisioneiros em geral que eram condenados ao escárnio público. Essa condenação era para quem cometia pequenos crimes e furtos”, conta Francisco.Pintando o sete O bairro Sete Portas é famoso pelo grande comércio de rua. Porém, o nome não tem nenhum significado literal. O mesmo serve para a Casa das Sete Mortes. Francisco esclarece:“O termo ‘sete’, no popular, quer dizer ‘muitas’. Quando você quer dizer que alguém anda muito, diz que usa bota de sete léguas, quando uma criança é muito danada ela pinta o sete… É a mesma coisa”.Salvador fundada em 1549 Ok, essa não é mentira. Mas acontece que Salvador, em 1549, não foi fundada como uma cidade. O título oficial só veio dois anos depois, em 1551, através de uma bula papal.

“No Regimento de Almeirim, documento que declarava a fundação de Salvador, a atual capital baiana era considerada uma fortaleza. Ela só passa a ser cidade quando o Papa Leão III edita uma bula papal e cria o Estado São Salvador da Bahia, elevando essa fortaleza à dignidade de cidade”, pontua Senna.“Antes disso, o conceito dela era de um lugar de defesa, típico de uma região colonizada”, acrescenta Daniel. (Colagem: Quintino Andrade/CORREIO) Graças à Rainha Você já visitou o convento da Ordem Primeira de São Francisco? Se você é mulher e a resposta é ‘sim’, saiba que a Rainha da Inglaterra tem muito a ver com isso.

“Os conventos, da Ordem Primeira e  da Ordem Segunda, eram divididos em masculino e feminino, respectivamente. Todos eles tinham clausura, local reservado unicamente para frades e freiras. A Rainha Elizabeth foi a primeira mulher a pisar no convento da Ordem Primeira de São Francisco, em 1968. No local, só era permitida a entrada de frades. Depois dela passaram a liberar a entrada de mulheres”, comenta Senna. Chile x Pelourinho Se te perguntassem qual é a parte mais antiga de Salvador e você respondesse Pelourinho, estaria errado.O trecho mais antigo da capital, na verdade, é a Rua Chile.

“Antes o nome era Rua Direita do Palácio”, comenta Daniel. Mas por que o Pelourinho parece tão mais antigo? “Lá a arquitetura original foi mantida, a Rua Chile, como toda região central, foi sendo modificada ao longo dos anos, se adaptando às necessidades da época”, explica Francisco.

Verdadeiro padroeiro Apesar da Lavagem, da pulseirinha, da igreja famosa… Não, não é Senhor do Bonfim. “É São Francisco Xavier, um santo jesuíta. Senhor do Bonfim é a maior devoção católica da Bahia, mas não é o padroeiro. Inclusive a prefeitura patrocina todos os anos uma festa para São Francisco”, conta Francisco.

“Tem a ver com a ligação de Salvador com as festas populares”, acrescenta Daniel. E por falar em igrejas, os historiadores revelam: Salvador tem muito mais que 365.

Praça José de Alencar Ao ouvir esse nome você pode até não associar, mas, com certeza, já visitou ou ouviu falar.“O nome oficial do Largo do Pelourinho é Praça José de Alencar”, diz Francisco.Além disso, o pelourinho, símbolo da justiça, ficou instalado nesse local por apenas 25. O largo "oficial", em tese, seria no Terreiro de Jesus, onde ele permaneceu por 124 anos.

*Com orientação do editor Victor VillarpandoSiga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: