É fogo! Um pouco da história dos incêndios em Salvador

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  • Nelson Cadena

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 05:00

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Tantos e tão frequentes foram os incêndios ocorridos na Bahia ao longo de sua história que os baianos adotaram um mantra bem ao estilo das teorias conspiratórias de hoje: incêndio de prédios públicos foi o governador que mandou, incêndios de prédios privados foi o dono que ordenou para receber o seguro. Fazia sentido a dúvida. Alguns dos incêndios desobstruíram ruas e permitiram novos projetos urbanos. Quanto às companhias de seguros, cujo mandamento principal continua a ser desconfiar do cliente, estas, adotaram as suas providências, constituindo os primeiros corpos de bombeiros informais da cidade, na década de 1870. Serviço particular das Companhias de Seguros Aliança e Interesse Público.

No século XIX nossos antepassados testemunharam a destruição do Mercado de Santa Bárbara, Banco da Bahia, sobrados das Ruas das Princesas e do Corpo Santo; dez prédios de propriedade da Santa Casa de Misericórdia na Rua Conselheiro Dantas; Trapiche Querino; Trapiche da Piaçava; Tipografia de O Alabama. E no século XX, quando já contávamos com um corpo de bombeiros organizado, assistimos os incêndios da Faculdade de Medicina da Bahia; Palácio Rio Branco...

... Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; grande parte dos casarões do Taboão; Trapiche Novo; vários sobrados da Rua Chile (no bombardeio de 1912); Foto Lindemann e Revista Renascença; Diário da Bahia; Foto Europa, Alfaiataria Spínelli; Costa & Filhos; Mercado Do Ouro; Drogaria América; Liceu de Artes e Ofícios; E em tempos recentes os incêndios de Água de Meninos; Mercado Modelo, Rádio Excelcior; TV Itapoan; Loja Duas Américas; Cine Capri; Igreja da Barroquinha; Solar Boa Vista; Bradesco da Piedade; Shopping Iguatemi; Assembleia Legislativa; Ortobom e muitos outros que a memória não registrou, deixou passar.

A carência de água sempre foi o calcanhar de Aquiles no combate aos grandes incêndios, por falta de hidrantes, ou pelo entupimento deles; a comunicação em tempo hábil também era um entrave. Antes da existência de um Corpo de Bombeiros, o combate ao fogo era de responsabilidade do Arsenal da Marinha que dispunha de duas bombas para essa finalidade. Em 1850 a Associação Comercial da Bahia adquiriu uma a vapor e a disponibilizou. O tempo de início da operação era o tempo de levar as bombas até o local do sinistro, se na cidade alta, uma logística complicada. A comunicação se dava através de sinais de fumaça - do próprio fogo - que pela intensidade denunciava o desastre.

A partir de 1854 vigorou a lei das badaladas, complementar da fumaça, que consistia em códigos pre-estabelecidos no toque dos sinos, permitindo identificar o local do sinistro. A igreja mais próxima tinha a obrigação de badalar conforme as instruções. E para comunicar o fim do incêndio a mesma igreja procedia a um breve repique. Os vizinhos auxiliavam os “bombeiros” mandando seus escravos encher barris do líquido nos chafarizes e fontes. Em 1871 passamos a ter a Associação de Voluntários Contra Incêndios cuja principal tarefa era a ronda noturna. E em 1880 a Companhia Queimado instalou dez hidrantes na cidade baixa e daí por diante se multiplicaram por toda soteropolis. Ficou mais fácil o combate ao fogo.

A formação de um corpo efetivo de bombeiros veio tarde, depois de muitos sinistros, no período republicano, com a criação em 1894 do Corpo de Bombeiros da Cidade do Salvador pelo Conselheiro Almeida Couto. Contava com alguns equipamentos, mas não tinha carro para transportar os barris de água. Não sei como era feito em Salvador, no Rio e São Paulo até a década de 1920 jumentos puxavam um carro-carroça contendo os apetrechos necessários para o combate ao fogo. Funcionava desse jeito.