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Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2019 às 10:16
- Atualizado há 2 anos
Numa viagem ao interior de Goiás, mais precisamente a uma cidade chamada Silvania, entrei numa conversa entre amigos e me chamou a atenção para a quantidade de pessoas negras que dizemos ser no Brasil. Ao final, cheguei à conclusão de que realmente precisamos averiguar com mais profundidade e mais ligeireza a velocidade no aumento ou redução da população do país. Isso porque fiquei com a impressão de não sabermos de fato quantos negros, brancos e índios somos nesse país.>
Em se tratando de negros e brancos, porque a situação indígena é bem mais particular,é certo que Salvador é a cidade mais negra fora do continente africano. A última vez que me apresentaram os números da capital soteropolitana os negros são em sua totalidade 82,1% , número bastante expressivo num cenário nacional que se diz ter 55,4% de negros, estamos acima da média nacional.>
Mas a relação desses dados com a minha viagem a Silvania se dá quando um amigo não negro, morador de Goiânia, capital de Goiás, me diz que ele é negro por ter sido declarado pardo, nos autos de registro civil quando recém nascido, pelos seus pais. Pai branco, descendente de italiano, e mãe negra descendente de africanos. Isso me levou a deduzir que a pesquisa do IBGE realmente pode não estar batendo certo quando se trata da quantidade aproximada de negros no Brasil.>
Para mim, esse amigo com suas características absolutamente brancas, com sua garantia de privilégios sociais assegurada, não passava de um branco querendo me convencer de que “...ser negão é ser legal...”. O fato dele ter assumido ser pardo/negro pode e deve alterar para cima o número de negros no Brasil, deixando a gente na verdadeira falsidade populacional.>
O mesmo pode acontecer em outro momento com pessoas que se auto-declaram brancas com pais e mães, avós e ancestrais negros. Isso também altera essa falsidade populacional.>
Mas, um outro agravante me deixou certo de que meu pensamento não deveria ficar por ali. A minha reflexão avançou quando pensei em outros números que supostamente podem embaralhar essa conta,a morte de jovens negros. Nos últimos 20 anos a morte dessa parte viril da população negra, em idade produtiva, aumentou em 428%. Os jovens e crianças negras são as maiores vítimas desse fenômeno social que mais me parece um plano de extermínio chancelado pelo estado brasileiro e que desde sempre tenta enfiar goela abaixo do povo negro brasileiro que eles são o motivo de fracasso do país.>
Basta ver o retrocesso que estamos passando nesse momento. Entre 1997 e 2017 a juventude branca brasileira acumulou 102% de fatalidades.>
Como vimos, negros morrem mais. E o fator determinante é o contexto social em que esses jovens vivem, ambiente de total descaso onde a letalidade é personagem principal.>
Com isso, pensei com meus búzios que esses números podem estar errados. Será que nascemos mais que morremos? Pode ser. Mas segundo o próprio IBGE a população brasileira tende a diminuir. A população total projetada para o país em 2018 era de 208,5 milhões. Número que deve crescer até alcançar o máximo de 233,2 milhões em 2047.>
A partir desse ano, a população irá diminuir até atingir 228,3 milhões em 2060. O número de filhos por mulher é de 1,77 hoje e deve cair para 1,66 até 2060. Para se ter uma noção, a Bahia que citei como local com maior concentração negros fora do continente africanos deve começar a diminuir o volume populacional a partir de 2035. Logo ali.>
Se meu amigo branco se acha negro, negros morrem mais que brancos, o controle da natalidade avança e estamos em queda livre, nascendo menos negros na Bahia a partir de 2035. Posso afirmar que a quantidade de negros está diminuído no país desde a Abolição da Escravatura de 1888, quando se torna proibido no Brasil a prática da escravidão e os negros passam a ser alvo na limpeza étnica.>
É nítida a vontade de acabar com a herança física africana nesse país. Continuar alimentando a vontade de ser uma nação guiada pela Europa e Estados Unidos continua empurrando as nossas vidas para um penhasco nas periferias do mundo em que caindo uma vez, talvez não tenhamos volta. O revezamento entre a direita e a esquerda no Brasil tem deixado de lado o que mais interessa para a humanidade, que é viver. E viver bem, aceitando a importância de cada um dentro da construção do país, com um equilíbrio na política, aumentando a quantidade de negros capazes de decidir por suas vidas de forma justa, eficaz e lucrativa para a nação.>
Essa confusão na contagem de negros e brancos, essa vontade de brancos em serem negros, esses negros que aprenderam a ser brancos é o reflexo de uma nação confusa, sem respeito à própria vida e que prefere rasgar sua identidade para ser o que não sabe ser.>