É preciso estar próximo dos alunos

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  • Da Redação

Publicado em 2 de julho de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Neste momento de crise me questiono sobre a “normalidade” que as pessoas esperam que volte. Onde estaria essa tal normalidade? Falar disso é também tratar sobre a realidade dos estudantes, principalmente os de escolas públicas, que não têm, nem nunca tiveram, acesso a esse ideal de normalidade.

Em um cenário dito “comum”, muitos dos meus estudantes, em Alagoinhas (BA), trabalham e estudam, mas também são fundamentais no sustento das próprias famílias. E, no contexto atual, esta realidade fica ainda mais evidente.

Enquanto o risco do aumento da evasão escolar nos assombra, é importante dizer que o desemprego também é um monstro que ronda boa parte da população. Afinal, muitos dos jovens entram no mundo do trabalho precocemente, pois as mães e pais ficaram desempregados. Nosso maior medo é que isso se intensifique no período pós-pandêmico, afastando ainda mais os meninos e meninas da escola. Esse receio não é à toa. Segundo a plataforma “Trajetórias de Sucesso Escolar”, do Unicef e Instituto Claro, apenas em 2018 quase 462 mil abandonaram a escola em todo o Brasil. Este problema se agrava quando os estudantes migram para o Ensino Médio. E não podemos esquecer que, em geral, os alunos que deixam a escola têm cor e gênero: meninos negros que se veem obrigados a abandonar os estudos.Nesse contexto, qual é o papel que a escola deveria desempenhar? Enquanto educadora, sinto a necessidade de estreitar o diálogo com os estudantes, além de começar a pensar com meus colegas formas de motivá-los quando voltarmos às aulas presenciais. Uma das alternativas é ampliar as conversas sobre os desafios em continuar com nossos momentos coletivos, mesmo que por meio dos grupos virtuais que estamos inseridos. É urgente que a gente tenha espaços de diálogo para conversar sobre nossas dificuldades, não apenas sobre aquilo que deu certo.

Devemos compartilhar os nossos medos e anseios diante do que estamos vivendo, sobre o que nos trava e nos impede de realizar caminhadas ainda maiores. A troca de sentimentos pode ser um caminho possível, sem culpa e com franqueza,  para encontrarmos alternativas coletivas e cooperativas.

Precisamos repensar, junto à comunidade escolar, o nosso fazer. E, assim, nos prepararmos para oferecer novas perspectivas aos estudantes, para que possam não só aprender, mas compreender o que está acontecendo em seus territórios e no mundo de maneira geral.

Por isso, não é estratégico agora sobrecarregá-los com conteúdos, desviando-os do objetivo central desse momento, que é entender como a crise os afeta diretamente em várias dimensões. Precisamos ser cuidadosos ao escutá-los e ao tentarmos estimulá-los para que nenhum menino ou menina desista dos estudos ou deixe de voltar para a escola no período pós-pandêmico.

*Lourdes Ramos é professora da rede estadual da Bahia. Foi educadora orientadora do projeto Da escola para o Mundo, um dos premiados no Desafio Criativos da Escola de 2017.