É preciso mudar o caminho na guerra ao tráfico

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  • Ivan Dias Marques

Publicado em 18 de setembro de 2021 às 05:00

- Atualizado há 10 meses

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Quantos policiais, como o tenente da Rondesp Mateus Grec, já morreram em confronto com as famigeradas - e cada vez mais fortes - facções do tráfico de drogas na Bahia? Ao longo dos anos e anos de guerra, muitos. Somos incapazes de mensurar a dor de tantas famílias que tiveram seus entes queridos mortos por uma política de segurança pública - do país, como um todo - que foca mais no confronto do que qualquer coisa. Grec, de 35 anos, morreu no último domingo (12), após confronto com bandidos no Alto do Cruzeiro.  Não só famílias de policiais choraram. Pais e mães lamentaram filhos mortos por balas perdidas - que sempre acham o corpo de alguém pobre e negro - ou que, por destino ou azar, estavam no lugar errado, na hora errada. Alguns podem não lamentar as mortes de muitos daqueles que se envolveram com o tráfico, mas eles tinham pais e mães que, por vezes, tentaram tirar seus entes do mau caminho e não conseguiram. E não é por isso que não sofrem. E depois de tantas baixas, de inocentes e culpados, o tráfico segue onde está. E, aparentemente, cada vez mais forte e mais organizado. A guerra contra o tráfico não tem dado resultado. É preciso repensar a forma de lidar com o problema das drogas e com o tráfico no Brasil. Se não existe enormes plantações de coca ou de maconha nos locais dominados pelo tráfico - geralmente pobres -, a droga chega de algum jeito lá. Se não existe uma fábrica de fuzis, munições e outros armamentos dentro dessas mesmas comunidades, as armas que abastecem os traficantes chegam de algum jeito lá.  Combater o transporte e interromper essa cadeia lucrativa e mortal já é um ótimo início e, para isso, é preciso bastante investimento em inteligência e tecnologia, mais do que aumentar tanto o poderio da polícia, como muitos pedem, como a quantidade de armas em circulação. Outro ponto que precisa ser discutido, sim, é a regulamentação do comércio de determinadas drogas. Países como Estados Unidos, Uruguai, Portugal e, claro, Holanda usaram a racionalidade ao invés do conservadorismo religioso secular e estão ganhando: com impostos e mais recurso para educar no combate às drogas. O secretário da Segurança Pública da Bahia, Ricardo Mandarino, e o governador Rui Costa já estão em consenso. “Eu acho que isso [guerra às drogas] não funciona, apenas minimiza, mas não é a solução. Solução é a sociedade acabar com essa hipocrisia e discutir a regulação. Esse é um debate sério, uma questão de saúde e segurança pública”, afirmou Mandarino. Que os primeiros passos nessa direção também sejam dados. Para que menos pais e mães chorem por seus filhos mortos. 

Possibilidade de tsunami gera preocupação - e, claro, memes A notícia de um possível tsunami na Bahia - e em boa parte do Brasil - por conta de uma possível erupção do vulcão Cumbre Viejo, nas Ilhas Canárias, deixou os baianos e o Brasil em alerta durante a semana.  Mas só por alguns minutos. Porque pouco depois começou um fenômeno, que não é geográfico e, sim, tecno-humorístico já bem conhecido de nós: a gastação. Isto é, pertubação e galhofa. Ainda que a tragédia se aproxime, não podemos jamais perder a piada e, nisso - ao contrário da geografia -, todos nós somos especialistas. Em que pese a chance mínima de um tsunami acontecer, já que os especialistas garantiram que é necessário que uma série de fatores raros aconteça conjuntamente, os soteropolitanos já instituíram a saída principal para a sobrevivência: fugir para Brotas.  O bairro conhecido por suas inesgotáveis ladeiras (dizem que uma delas dá em Feira de Santana) é um dos preferidos das piadas, pelo seu tamanho e população. Dentro do enorme tsunami de criatividade, também sobrou para o surfista Gabriel Medina, tricampeão mundial, colocado para dropar nas ondas gigantes que chegariam ao país. Além disso, já que a chance de ser afetado por um tsunami gigante ficou maior do que a de ser atingido por um meteoro, muitos daqueles que esperam o fim do mundo para acabar com os problemas do país - e seus habitantes - vibraram. Deu tempo também para aprender que já houve um tsunami na Bahia, lá em 1755 e comprovado em livros históricos. Não acredita? Dá uma olhada aqui e confere.

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Mobilização pelo Glauber O mais forte e esperançoso da notícia do fim do Cine Glauber Rocha foi a rápida mobilização que o anúncio do fechamento das salas de cinema gerou. Astrid Fontenelle e Daniela Mercury se ofereceram para publicidade gratuita de parceiros, a imprensa deu o peso necessário, o poder público pressionou e os frequentadores também correram atrás de reclamar junto ao Itaú. Deu certo. Ainda que o banco mantenha sua posição, fará doação dos equipamentos aos sócios. O Glauber vive!

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Fonte Nova volta a receber futebol De suma importância para o combate à covid, o Hospital de Campanha da Arena Fonte Nova foi desativado e o estádio volta receber partidas de futebol. A desativação em si é uma boa notícia, já que significa que os números da doença no estado estão num decréscimo importante. Ao todo, foram 1.314 vidas salvas nos corredores acostumados a receber torcedores do Bahia e que já foram usados em Copa do Mundo. Que essa desativação seja definitiva e que, em breve e em segurança, o grito da torcida possa voltar.    

***Cesare La Rocca foi o italiano mais baiano que conheci. Seu amor por nossa terra é representado por todas as milhares de crianças e jovens atendidas pelo Projeto Axé, ao longo de mais de três décadas (Bruno Reis, prefeito de Salvador, sobre a morte do fundador do Projeto Axé)