É tempo de prioridade na avaliação formativa

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  • Da Redação

Publicado em 31 de maio de 2022 às 05:00

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A retomada das aulas presenciais em todo o país nos recolocou diante de desafios históricos, mas que agora agregam novas complexidades, com as dificuldades agravadas por quase dois anos letivos de aulas remotas, em turmas alternadas ou de frequência não-obrigatória.

Ainda em 2020, iniciaram-se discussões sobre a recomposição da aprendizagem e o esperado aumento das desigualdades. Com isso, ganhou força a ideia de uma espécie de balanço de perdas e danos, representado pelas avaliações diagnósticas baseadas em testes de múltipla escolha, aos quais muitos estados e municípios recorreram.

Todas devem indicar o mesmo: que a criança que não está na sala de aula aprende muito menos, e aquelas que tinham mais apoio da família e condições safaram-se um pouco melhor. Por isso, há tempos eu tenho defendido que deveríamos ter investido em avaliação, sim, mas em avaliações formativas, que ajudam o aluno a avançar. 

Avaliação formativa é a que quer saber em que ponto está cada aluno para ajudá-lo a seguir aprendendo. A avaliação somativa tem o foco na instituição, e avalia um conjunto abstrato de estudantes a partir de questões de múltipla escolha.  

No contexto da educação não presencial, as grandes diferenças sociais agudizadas pela pandemia aumentaram as diferenças de aprendizado. É papel da avaliação reconhecer as diferenças de aprendizagem, mas rejeitar a diferenciação. A escola deve buscar tornar iguais os desiguais revelados pela avaliação. Por isso, a devolutiva é um momento essencial da avaliação formativa, e deve considerar o contexto cultural dos estudantes.

Precisamos ter um foco prioritário na alfabetização. Há uma geração inteira de crianças que não chegou na escola e não teve a alfabetização completa. Quem entraria no 1º ano do Ensino Fundamental, aos 6 anos, pode estar chegando às aulas presenciais com 8 ou 9. Isso é muito grave.

É preciso lembrar que os dados mais recentes do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica mostram que 38,9% dos alunos brasileiros de 5º ano do Ensino Fundamental têm aprendizagem considerada abaixo da adequada, em Língua Portuguesa. Na Bahia, esse índice era de 52,5%. A capacidade de ler e compreender textos variados é essencial nas sociedades modernas.  É por meio da leitura que se aprende e é por meio dela que o sucesso pessoal, educacional e profissional é atingido. 

Portanto, a seleção de textos adequados a cada momento com perguntas que caracterizam seu entendimento é o caminho.  Os textos devem pautar o ensino e, também, as avaliações de Língua Portuguesa. Toda escola deveria saber qual o texto que uma criança deve conseguir ler, a cada ano do Ensino Fundamental, nos anos iniciais. 

O Brasil tem gente capaz disso, mas nós optamos pelo mais fácil, que é a prova de múltipla escolha. Nós dominamos o que é preciso fazer, o Brasil sabe como alfabetizar. Há um número muito grande de crianças que não estão atendidas. Precisamos investir no tempo integral. Isso é dinheiro gasto da forma correta. Estamos saindo de uma guerra, e precisamos atender as crianças. É difícil? Dificílimo. É impossível? Não. É o que o momento exige.

José Francisco Soares é professor emérito na Universidade Federal do Rio de Janeiro e membro da Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave). Foi presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Anísio Teixeira (2014-2016).