'Ele ameaçava minha esposa todos os dias', diz marido de baleira morta pelo irmão

Baleira foi morta a tesouradas pelo irmão na última terça-feira (17)

Publicado em 19 de setembro de 2019 às 15:53

- Atualizado há 10 meses

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Companheiro de Iane não teve coragem de contar à filha que mãe da menina morreu (Foto: Acervo pessoal/CORREIO) Muito abalado e ainda sem entender direito como tudo aconteceu, o pintor Cristian Igor Souza ainda tenta assimilar a notícia da morte de sua esposa, a vendedora de balas Iane Vitória da Conceição Nascimento, de 20 anos. 

Ela foi assassinada com golpes de tesoura pelo irmão, Luiz Cláudio da Conceição Nascimento, 26, por causa do cartão da pensão da mãe de ambos. O crime aconteceu por volta do meio-dia da última terça-feira (17), dentro da casa da jovem, na Rua do Dique Pequeno, no Engenho Velho de Brotas.

Segundo o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA), Luiz teve a prisão em flagrante convertida para preventiva nesta quinta-feira (19). O TJ-BA informou, ainda, que Luiz já foi encaminhado para o Complexo Penitenciário de Mata Escura, onde segue à disposição da Justiça.

Nesta quinta (19), durante o enterro da esposa, Cristian fez um desabafo e disse que Iane sofria ameaças diárias do irmão. “Ele sempre ameaçava ela, todos os dias, mas nós não acreditávamos que ele seria capaz de fazer isso. Desde o dia da morte dela, nossa filha pergunta pela mãe, e eu ainda não sei o que falar. Digo para ela que a mamãe viajou. Ainda não caiu a ficha”, relatou Cristian, que não sabe como criará a pequena Lavínia, de apenas dois anos, sozinho.Luiz Cláudio foi preso horas depois do crime por policiais militares, e levado para o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde foi autuado em flagrante e acusado de cometer feminicídio contra a irmã.

Durante o sepultamento de Iane, no Cemitério Municipal de Brotas, familiares e amigos demonstraram indignação e gritaram pedindo justiça. Parentes e amigos de Iane se reuniram para se despedir da jovem (Foto: Eduardo Dias/CORREIO) Premeditado Cristian, que vivia há cerca de quatro anos com a esposa, acredita que seu cunhado premeditou o crime por não aceitar o fato de Iane utilizar o cartão de pensão da mãe, Ubiranice da Conceição Nascimento, que possui problemas psicológicos.

Segundo ele, sua companheira utilizava o dinheiro exclusivamente para comprar coisas para a mãe, como roupas e móveis novos.“Ela nunca quis esse cartão, passou a utilizar depois que ele começou a usar o dinheiro da mãe para outras coisas, como usar drogas e comprar roupas e tênis para ele. Iane não fazia questão do dinheiro da mãe dela. Ela era independente, acordava às 6h da manhã para embalar os queimados dela depois ir para sinaleira vender”, afirmou.Cristian conta ainda que também já foi ameaçado por Luiz Cláudio, mas não levou a sério, por não acreditar que o cunhado seria capaz de cometer um crime. “Ele já falou que ia me matar, mas eu não acreditava que ele faria isso com ela. O que me resta agora é cuidar da nossa filha”, lamentou. Iane Vitória e Luiz Cláudio (Fotos: Acervo pessoal e Divulgçaão/SSP) Amizade Amiga e colega de vendas de Iane nas sinaleiras, Talia Lima estava muito emocionada no enterro (veja vídeo abaixo). Ao CORREIO, ela disse que a jovem era uma mulher guerreira e ajudava a mãe sempre que possível.

“Minha amiga era uma pessoa do bem, trabalhadora, vivia debaixo do sol, na sinaleira, para ajudar a mãe e a filha. Ele já ameaçou a mim e ao esposo dela outras vezes, e isso que ele fez não pode ficar impune. Nós queremos que ele vá a júri popular, queremos justiça”, afirmou.

Talia também refutou a versão dada por Luiz Cláudio, de que sofria de transtornos mentais. “Ele está alegando problemas mentais. Isso é mentira, ele não tem problema nenhum. Não é para soltar ele. Deus vai mostrar a ele que o que ele fez foi errado, ele vai pagar por isso”, completou.

Iane deixa a mãe, dois irmãos e uma filha de dois anos.

Crime Iane Vitória foi morta dentro de casa, a golpes de tesoura, pelo próprio irmão. O crime ocorreu na Rua do Dique Pequeno, no Engenho Velho de Brotas. O suspeito foi preso.

De acordo com a família da vítima, Luiz Cláudio sempre foi agressivo com os parentes, em especial, a irmã, e teria premeditado o crime. “Ele deu dinheiro para a mãe comprar cigarro com a filha da minha sobrinha. Só estava ele e ela em casa na hora do crime”, contou a tia de Iane e mãe de criação da jovem, Alexandra Santana.

A mãe da dupla, Ubiranice, recebia pensão e, de acordo com os familiares, Luiz Cláudio ficou irritado porque a irmã tentava restringir o uso do cartão, que ele utilizava para comprar pertences pessoais e drogas.

A única testemunha foi uma prima da vítima, que mora no imóvel em cima de onde ocorreu o crime. Ela ouviu o barulho da confusão e desceu para ver o que estava acontecendo. 

De acordo com os familiares, a adolescente teria tentado ajudar a prima, mas o suspeito a empurrou para fora da casa e trancou a porta. “Ele jogou ela pro lado de fora e foi terminar de cometer o ato. Quando a minha outra sobrinha conseguiu arrombar a porta, Iane estava cheia de sangue. Ela até tentou chamar o Samu, mas Iane caiu na frente da porta, já morta”, relatou Alexandra.

Denúncias As agressões eram tão recorrentes que a família conta que Iane havia dado entrada em um pedido de medida protetiva contra o irmão. O CORREIO entrou em contato com o Ministério Público e o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), mas ainda não obteve resposta.

De acordo com os familiares, os filhos de Ubiranice foram cuidados por toda família. Além dos dois, Ubiranice possui outro filho, Bruno Vinicius da Conceição Nascimento, 30 anos. “Durante a gravidez, minha irmã foi internada. Quando a menina nasceu, minha irmã foi internada novamente. Como a menina tinha que mamar, e eu estava amamentando, eu a criei”, relembrou Alexandra.

Após passar pela casa de vários familiares, a jovem alugou uma casa, onde morava com a filha. Entretanto, ela passou a morar com a mãe e Luiz Cláudio, na Vila Almir, no Engenho Velho de Brotas, por ter que cuidar da progenitora. De acordo com a família, Iane foi morar longe dos parentes devido à forma como o irmão a tratava.

“Depois que ela ficou adulta, ela sempre ia para a casa da mãe para cuidar dela. Nessa desconfiança de que o irmão não cuidava da mãe, ela voltou para casa. Minha irmã tem dificuldade de tomar banho, de se alimentar”, disse Alexandra.

Ainda de acordo com a tia, Iane suspeitava que o irmão abusava sexualmente da mãe. “A motivação foi o dinheiro e porque ela desconfiava que ele abusava sexualmente da mãe. Um dia, ela acordou com a mãe gritando 'Para'. Quando ela foi ver, o irmão estava deitado na cama da mãe”, relatou.

Antes do crime, Luiz Cláudio disse para a família que ia viajar para São Paulo e devolveu o cartão da mãe para Iane. Na segunda-feira (16), ele ficou dentro da casa da tia, Milena Conceição, para tentar fingir que havia viajado. “Ele fingiu que já tinha ido para São Paulo para tentar não deixar vestígios do crime.” De acordo com Milena, o sobrinho queria que ela fosse cúmplice no crime.

“Eu vou matar Iane e se você avisar, eu vou te matar também. Mesmo com medo, eu contei para as pessoas”, relatou Milena.

Devido a ameaça, Iane dormiu na casa da tia, Paula, na noite de segunda para terça. A parente mora na casa de cima de onde a jovem residia e, naquela noite, ninguém conseguiu dormir porque Luiz Cláudio gritava que ia matar a irmã e se matar.

Equipes da 1ª Delegacia de Homicídios Atlântico (DH/Atlântico) autuaram em flagrante Luiz Cláudio.

De acordo com as investigações da Polícia Civil, o crime aconteceu após uma desavença entre os irmãos, motivado pela disputa da propriedade do cartão de saque do benefício da mãe deles. A responsável pelo cartão era Iane, que vendia balas de gengibre no Dique do Tororó. 

A família acredita que o suspeito tenta agora forjar que tem problemas psicológicos para conseguir se safar do crime, mas alega que ele já havia ameaçado e batido na irmã antes do crime. “Ele não é louco, ele está fingindo ser maluco. Ele inventou isso para falar que fez por loucura. Ele pediu para ir para o Juliano Moreira porque teria entrada no hospital”, contou a Alexandra.

Segundo Alexandra, o jovem foi no Dique do Tororó na noite de segunda (16) para forjar um suicídio. Na ocasião, ele teria jogado documentos e uma bicicleta na lagoa para tentar não ser incriminado pelo assassinato de Iane.

Em nota, a Polícia Militar (PM) informou que policiais da 26ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Brotas) foram acionados pelo Centro de Comunicação Integrada (Cicom) órgão da Secretaria de Segurança Pública (SSP) após informações de que uma mulher foi atingida com golpes de arma branca, tipo tesoura. Ainda segundo a PM, os policiais realizaram o isolamento da área e logo após acionou os agentes do Departamento de Polícia Técnica para remoção. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro