Eleição no Bahia: 'Temos que fazer uma reformulação', diz Lúcio Rios

Administrador é o único adversário de Guilherme Bellintani no pleito de sábado (12)

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  • Gabriel Rodrigues

Publicado em 11 de dezembro de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Participante ativo da vida política do Bahia desde os anos 2000, o administrador de empresas Lúcio Rios, de 44 anos, será o único adversário do atual presidente Guilherme Bellintani na eleição à presidência do clube, sábado (12). Lúcio Rios faz parte do grupo Mais Bahia e tem como vice na chapa o empresário Fernando Passos. Conselheiro suplente por dois mandatos, ele concorrerá ao posto pela primeira vez e fala ao CORREIO sobre as suas propostas para o Esquadrão. Na eleição, os sócios poderão votar presencialmente na Fonte Nova ou online através do site oficial do clube, das 9h às 17h.

Quando você decidiu ser candidato e por que tomou essa decisão? Foi um processo de amadurecimento diante da história e participações que eu tive nessas eleições. O grupo Mais Bahia decidiu que deveríamos lançar uma chapa com um participante renovado, um novo nome, e que tivesse, ao longo desses três anos, participação ativa. Me coloquei à disposição, houve uma eleição interna no grupo e fui identificado como o candidato para o momento, formando a chapa com Fernando Passos, grande empresário e com participação política na vida do clube.

Como avalia o cenário da atual eleição com só duas chapas concorrendo à presidência? Vejo com muita tristeza. O Bahia sempre foi um clube com muita participação popular, mas a impressão que fica é que nos últimos anos, principalmente na gestão de Guilherme Bellintani, não vem tratando muito bem o processo democrático. É só analisar, por exemplo, as assembleias. A assembleia geral é o momento de festa da democracia. O Bahia deveria cuidar melhor da assembleia geral e, inclusive, não marcar as assembleias em datas próximas ao feriado. Entendo que temos a participação ativa dos sócios e parece que há o interesse de esvaziar. São nas assembleias gerais que aparecem as lideranças.

Caso seja eleito, a ideia é dar continuidade ou reformular o trabalho da gestão atual? Entendo que temos que fazer uma reformulação. Na minha gestão, diretor de futebol não terá carta branca porque é só nós verificarmos o quanto o atual diretor de futebol fez em contratações. Nos últimos três anos foram mais de 110 jogadores contratados. Mais de dez times contratados em três anos. Contratação tem custo. Vamos reformular esse processo, criar núcleos de inteligência e estratégia, ao qual vamos incorporar o Dade. Estamos analisando e mantendo contato com profissionais, inclusive de fora do Brasil. Temos exemplos de equipes que não têm grande poder de contratar grandes estrelas, mas fazem o trabalho de captação de jovens atletas e conseguem ganhar títulos. É isso que o Bahia precisa voltar a ter.

Outro setor do Bahia que recebe críticas é a divisão de base. Quais são os seus planos? Precisamos voltar a ter uma divisão de base que ofereça ao jovem atleta um plano, uma carreira. A nossa base vai receber um importante investimento para o desenvolvimento de atletas. A gente precisa ter profissionais adequados para buscar esses talentos cedo, para reduzir o custo de contratações no time profissional, como também voltar a atuar com a participação de olheiros, tanto na Bahia quanto no Nordeste.

Qual a estrutura diretiva ideal que você imagina e pretende aplicar no clube? Entendo que a centralização não é benéfica. O Bahia terá uma gestão compartilhada com diversos profissionais do clube, sob a minha liderança, irei monitorar. Vamos criar um departamento de base, entendemos que a base precisar ter um núcleo de negócios com administração específica. Vai haver um diretor de base, um diretor de futebol, sob a minha coordenação. A centralização dos setores do clube fortalece apenas a figura do presidente e não entendo que esse seja o modelo ideal de gestão para o Bahia.

Sob a sua gestão, qual o perfil de atletas e profissionais do departamento de futebol? O Bahia precisa voltar a ter de fato o DNA do Bahia e de sua torcida. O nosso modelo de jogo precisa ser definido. Precisamos traçar o perfil de atleta, de treinador e, a partir daí, com a nossa filosofia, juntar o perfil do atleta à filosofia do clube. Hoje o Bahia não tem não esse planejamento. Basta analisar como a gente foi mal no segundo semestre de 2019 e permanecemos com o diretor de futebol, permanecemos com Roger e só viemos a desligar o treinador após uma final de Campeonato Baiano em que ganhamos do time do interior (Atlético) nos pênaltis. Esse campeonato que deveria ter sido disputado pelo time de transição, mas por decisão do gestor de futebol e do presidente foi finalizado com o time principal.

O contrato com a Fonte Nova se encerra em abril. Como você analisa a relação do clube com a arena? Pretende mudar algo? Iremos aperfeiçoar alguns processos de comunicação com o torcedor, para que ele possa identificar o que temos como direito ao usar a Fonte Nova. Em relação a produtos, temos que melhorar o desenvolvimento da oferta de serviços, principalmente quanto à prestação e atenção ao torcedor pela Fonte Nova e empresas contratadas. Para isso irá haver um estudo do que o cliente demanda em relação aos serviços.

Por causa da pandemia o Bahia registrou uma queda no número de associados. Quais projetos você tem em mente? Em relação aos sócios, entendo que, por exemplo, a modalidade com acesso garantido vai chegar em um momento que vai ter um máximo, até por conta da capacidade do estádio. Então, precisamos voltar as atenções também ao sócio que não tem direito ao acesso. Melhorar questões de serviços, produtos, voltar a ter uma comunicação melhor com o sócio do interior, de outros estados.  Vamos criar rotinas de reuniões para que as demandas desse torcedor do interior sejam atendidas. Uma outra coisa é o Sócio Digital. Enxergo que a dinâmica é interessante, mas precisa entender o que esse tipo de sócio quer ter como produto. Um outro problema que vejo como desafio, e que precisamos resgatar, é o uso do rádio. O rádio tem um poder muito grande em nossa população e precisamos voltar a estar presente no rádio, já que nem todo mundo tem acesso à banda larga.

Nos últimos anos o Bahia tem ganhado notoriedade por promover ações afirmativas. Como você enxerga esse posicionamento? Precisamos ter uma agenda positiva. As ações não podem ficar restritas apenas a uma data específica, para um mês específico, mas que seja trabalhada o ano todo. Como por exemplo a participação da mulher na vida do clube. Precisamos de uma rotina em que a mulher seja inserida de fato. Não apenas incentivando a sua presença no estádio e no quadro associativo, mas também oferecendo espaço de participação efetiva na vida e gestão do clube. Em relação a questões sociais, precisamos estar atentos aos temas, como o racismo, por exemplo, mas não podemos nos limitar que o marketing seja apenas ferramenta política. Precisamos oferecer espaço também na gestão do clube.

O Bahia aguarda propostas para vender o Fazendão. O que pretende fazer com esse equipamento? O cenário mudou do momento em que o Bahia abriu para receber propostas para o momento atual. Existe um aquecimento do mercado de imóveis e nós iremos analisar novamente todo o processo. A gente entende que o Fazendão é um patrimônio, e o recurso da venda será incrementado no patrimônio Bahia, no caso investimentos na própria Cidade Tricolor.

Hoje a principal receita do clube é oriunda dos contratos de televisão. Quais as suas propostas para aumentar a arrecadação? Precisamos avaliar os contratos vigentes, o próprio Guilherme Bellintani questionou o contrato assinado com a Turner, então precisamos analisar esse contrato, o que foi assinado, mas entendemos que a Globo é a grande parceira do esporte nacional. Vamos nos aproximar da Globo, não temos como ideia romper qualquer tipo de contrato existente, mas amadurecer. Sabemos que o streaming é uma realidade, mas temos que saber que nem todos os lugares têm acesso à banda larga. A televisão é uma realidade, assim como rádio, e precisa ser fortalecida e bem tratada.

Você vê o Bahia em qual patamar e onde o clube pode chegar em três anos? O Bahia deveria estar em um patamar mais à frente, principalmente quando há o discurso de que tem o maior orçamento do Nordeste. Infelizmente em campo isso não vem sendo concretizado. Precisamos liderar o Nordeste em orçamento e no campo, trazer de volta o sentimento do torcedor tricolor de que somos o maior clube do Nordeste.