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Eleição no WhatsApp: pedir voto no app vira alternativa para campanha


 

Prática no dia da eleição é considerado boca de urna; especialista dá dicas para não “encher o saco”

  • Daniel Aloísio

Publicado em 15/11/2020 às 05:30:00
Atualizado em 21/04/2023 às 19:28:04
. Crédito: França Mahin/Divulgação

“Oi, tudo bem? Você já sabe em quem vai votar nessa eleição?”. É assim que muitas pessoas iniciam a esperançosa conversa no WhatsApp em busca de um voto. Na reta final da campanha, surge o momento decisivo de muitos cabos eleitorais e apoiadores conquistarem votos de indecisos para seus candidatos. Com a pandemia da covid-19, o app se tornou ainda mais importante.    

“Primeiro, eu o apresento. Digo quem ele é e quais são seus interesses e ideais políticos. Só depois eu peço o voto”, explica Jaciane Silva, 36 anos, apoiadora de um candidato a vereador pelo PSB. “Dou a chance de conhecer meu candidato e suas propostas. Mesmo que não votem, sei que estou fazendo um trabalho de consciência política”, completa.  

Para o cientista político Claudio André, professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), até o sábado (14), véspera da votação, era o momento de consolidar os votos, principalmente dos candidatos a vereador. E o WhatsApp tem papel fundamental nisso:“É o que chamamos de mapeamento político. Os candidatos têm ferramentas para acompanhar e consolidar os votos. É um trabalho de base, de bastidor, de manter contato”, explica. 

Mas, atenção para o relógio: de acordo com o professor da UniFTC André da Silva de Jesus, especialista em Direito Público e Eleitoral, desde as 22h do sábado já é proibido pedir votos. “Caso faça, pode estar cometendo o crime de boca de urna”, alerta.  

Por outro lado, o analista judiciário do Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA) e professor da Ufba, Jaime Barreiros Neto, explica que existe uma divergência sobre isso. “A legislação é um pouco contraditória, pois proíbe a propaganda, mas permite a liberdade de expressão do eleitor. O voto é secreto, mas ele tem direito de falar para as pessoas. O que é realmente proibido, no domingo, é o impulsionamento pago. Há quem entenda que só se configura boca de urna quando tem o impulsionamento”, diz. 

Método Na hora de conquistar um voto pelo WhatsApp, cada apoiador segue uma estratégia. A cabo eleitoral Roberta Saad, 42, não tem saído de casa na pandemia. O jeito encontrado para fazer campanha para o candidato a prefeito pelo DEM foi partir para o ‘zap’. Roberta Saad e Jaciane Silva são mulheres que estão ativas no Whatsapp para conseguir votos para seus candidatos (Foto: arquivo pessoal) “Entro em contato com vizinhos e familiares para pedir voto. Posto cards e textos que eu mesmo escrevo nos status, grupos e no privado das pessoas. Até para quem é contra eu tento convencer. Não perco nenhuma oportunidade”, disse Saad, que garante nunca ter discutido por causa de política.  

Para o professor do Departamento de Ciência Política da Ufba, Cloves Oliveira, o uso desse aplicativo de mensagens na eleição é uma forma legítima de se fazer campanha, mas a desinformação é um elemento preocupante.“Hoje, temos o WhatsApp como rede de propagação de fake news. Essas notícias falsas são um instrumento presente nas eleições usados para desconstruir a imagem do adversário e atacar a honra”, disse.  Em nota, o WhatsApp informou que incentiva todos os usuários a verificar a veracidade das mensagens que recebem antes de compartilhá-las: “Desde abril, as mensagens que foram encaminhadas mais de cinco vezes só podem ser direcionadas para uma única conversa por vez. O aplicativo também conta com um sistema para identificar comportamento abusivo”.

Outros exemplos O produtor cultural Roberto Junior, 26, até entrou em grupos de compra e vendas aleatórios para enviar conteúdos de sua candidata a vereadora pelo PT. “E tive retornos positivos, de gente que gostou da proposta, que passou a acompanhar o trabalho e até a dizer que ia votar”, afirmou. Roberto não tira o olho do whatsapp nessa reta de final de campanha, pois cada voto conquistado é importante para eleger sua candidata (Foto: França Mahin/Divulgação) Roberto também criou listas de transmissões específicas para o seu público alvo: negros, estudantes e LGBTQIA+. “Se eu vejo um material que é voltado para algum desses públicos, eu envio na lista. Mas não é sempre, pois tem gente que se incomoda com tanta postagem”, afirmou o rapaz, que usa sua experiência como promoter.

Rodrigo Nascimento, 29, também optou pela lista de transmissão com 68 amigos mais próximos. Desses, 50 ainda não sabiam em quem iam votar - Rodrigo tenta convencê-los a votar no seu candidato do Cidadania:“Tem muita gente que não gosta de se envolver em política. Então, busco ir naquilo que toca as pessoas, nas suas necessidades”, afirma Rodrigo.

Já Karla Izabelle, 38, usa a estratégia de não pressionar o eleitor a quem pede o voto. “Dou os argumentos, explico e deixo que ela decida. Nunca pergunto se posso contar com ela, pois o voto é secreto. Mas algumas respondem de forma positiva”, afirma a funcionária pública, que apoia um candidato a vereador do PV.

Ela estabeleceu uma meta ambiciosa: conseguir 200 votos para o candidato.  Para isso, o WhatsApp será uma ferramenta fundamental. “Eu tenho 400 contatos no meu celular. São pessoas do meu ambiente profissional, que eu tenho proximidade, amigos e familiares. Não peço a quem não tenho relacionamento próximo”, disse.   

Interior  Para o cientista político Claudio André, o WhatsApp não é o elemento preponderante na conquista dos votos, principalmente no interior, onde a campanha ainda é mais ‘corpo a corpo’. Mas ele não subestima o poder da ferramenta.“Ele já começou a ser usado na eleição de 2014. Como o tempo, só foi se intensificando até chegar ao auge da eleição de 2018. Mas é importante entender que a eleição tem uma peculiaridade. Normalmente, o voto a vereador requer um certo conhecimento, indicação. Às vezes envolve relação com o bairro, com o trabalho... isso significa que outros fatores entram nessa disputa”, afirmou.  Mesmo assim, Renicelma Oliveira, 47, não deixa de usar a rede social como aliada. “Eu sempre pergunto se a pessoa já tem candidato a prefeito. Se ela disser que não, apresento a minha candidata. Já consegui uns 25 votos. E cada voto conta, né?”, afirma a moradora de Ribeira do Pombal, que acredita que a pandemia influenciou: “Por não poder ir para a casa das pessoas, temos que fazer isso”.  

Nas pequenas cidades, como a de Renicelma, uma forma comum de propaganda política é também usar o status do WhatsApp. Se nos seus status você vê mais conteúdo de um candidato do que de outro, é sinal que alguém está politicamente mais forte, pelo menos entre seus amigos. De Cruz das Almas, a assistente administrativa Ariane Magalhães, 34 anos, é a responsável de enviar o conteúdo que é compartilhado nessa função do WhatsApp pelos apoiadores.   

“Eu criei uma lista de transmissão com alguns contatos que tenho no município. Geralmente, antes do trabalho eu mando as propostas do candidato, o manual de comunicação e aí todo mundo compartilha na hora nos status. Demonstra que o candidato está forte”, disse.   

Cinco dicas de etiqueta ao pedir voto pelo WhatsApp:    1. Não envie muitas mensagens. O efeito pode ser o inverso do que você deseja;   2. Preste atenção no conteúdo da mensagem. Revise se não há algum erro ortográfico ou de digitação a ser corrigido;   3. Se você já sabe que o seu contato não se identifica com determinado conteúdo político, é melhor não insistir;    4. Não pressione seu contato a votar no candidato que você deseja. É melhor fazer um trabalho de consciência política do que exigir o voto, que é secreto.    5. Ao criar uma lista de transmissão, se certifique de que seus contatos aceitam receber o conteúdo enviado. Caso contrário, você pode estar cometendo crime eleitoral. 

Regras no WhatsApp:   1. Para enviar mensagens, o candidato precisa de autorização do eleitor;   2. Pedir voto após as 22h deste sábado (14) pode ser considerado boca de urna, que é crime eleitoral  3. Disparos em massa estão proibidos;   4. Compartilhar Fake News é crime.   

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro