Em meio a crise Salvador ganha restaurante e boteco português, cafeteria, empório e bistrô

Empreendimentos voltados para o setor de gastronomia que estavam prestes a inaugurar tiveram que se reinventar para funcionar mesmo durante a pandemia

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 25 de julho de 2020 às 15:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O mundo ainda girava sem o coronavírus quando o português Luís Marques começou a planejar a abertura do seu negócio no ramo de gastronomia. Radicado no Brasil há 20 anos, parte deste tempo na rede Othon, onde foi diretor-geral. O nativo de Coimbra, na região da Bairrada - que fez escola de hotelaria na Suíça e durante 37 anos exerceu várias funções nas mais importantes redes de hotéis espalhadas por 10 países de quatro continentes – estava prestes a realizar seu sonho de se dedicar exclusivamente à culinária, hobby que cultiva desde os tempos de garoto.  (Divulgação) Porção com seis bolinhos de bacalhau do Boteco Português (R$ 30) Tudo caminhava nos conformes quando o mundo parou e o Boteco Português, que estava sendo preparado para abrir as portas ao público em março último, foi obrigado a manter a cozinha em fogo baixo. Além do sonho adiado, pesava no bolso o investimento já feito na casa da Rua Borges dos Reis, nº 6, no Rio Vermelho – onde funcionou o Botequim São Jorge – “Gastamos cerca de R$ 300 mil com obras, decoração e montagem da cozinha”, conta. (Divulgação) Luis Marques e Josemar Rocha tocam a cozinha do Boteco Português Marques não desanimou. Adaptou o cardápio com pratos e petiscos mais tradicionais do seu país, acendeu o fogão na temperatura máxima, vestiu o avental e partiu para o ataque. Acionou sua vastíssima rede de contatos e, através das redes sociais, passou a oferecer acepipes populares de sua terra, como o bolinho de bacalhau, sanduíche de pernil no pão artesanal feito na casa, e outros petiscos de nomes curiosos e muito tradicionais no além-mar, como a punheta de bacalhau (bacalhau desfiado com sal, azeite e cebola), os pipis (moelas acompanhadas de pão de alho), além de pratos clássicos da cozinha de sua região como Cabrito e Leitão à Moda da Bairrada, além, claro, das mais variadas receitas de bacalhau disputadas nas tabernas de Lisboa.  (Divulgação) Sanduiche de pernil no pão artesanal feito na casa custa R$ 28 Foi um sucesso. “Apostamos no serviço de entrega a domicílio e, desde então, só tem aumentado a procura”, conta. Apesar do êxito da operação, Marques continua sonhando com o dia em que abrirá as portas da casa de frente para o mar e apresentar aos baianos as receitas tradicionais de seu país que executa, com maestria, diga-se de passagem, em parceria com o também chef Josemar Borges. (Divulgação) Leitão à Moda da Bairrada do Boteco Português custa R$ 62 "Nossa ideia é que entre outubro e novembro possamos abrir para o público, mas estamos cientes da gravidade do momento e das adaptações que teremos que fazer na casa para que possamos funcionar com o máximo de segurança”, diz. (Divulgação) Cabrito assado à padeiro com batata ao murro e arroz de tomate (R$ 62) A casa, que tem uma grande área externa, tem capacidade para 180 lugares, mas a ideia de Marques – que tem como parceiros na empreitada, além do chef Josemar, os sócios Giuseppe Salvetti e Everty Rocha –  é abrir com apenas um terço da capacidade. “Creio que funcionaremos inicialmente com 80 lugares, incluindo a esplanada (área externa) para mantermos a distância de dois metros de uma mesa para outra”, planeja.  (Divulgação) Arroz de Pato das Lezírias com choriço caseiro do Boteco Português (R$ 55) A proposta do Boteco Português é abrir para o almoço e seguir direto para o jantar, passando pelo happy hour. “Queremos que o cliente chegue, seja pra fazer uma refeição ou beliscar nossos petiscos especiais, tomar um vinho português, assim como acontece nas boas e tradicionais tabernas lisboetas. Queremos transformar o espaço num autêntico boteco e restaurante, bem ao estilo português”, diz. Enquanto isso não acontece o chef está lá esquentando a barriga no fogão para levar as iguarias de sua terra para a casa dos baianos.  (Divulgação) Feijoada portuguesa (feijão branco, porco, choriço e morcela (R$ 55) Comida saudável Investir num negócio direcionado ao público numa época em que este está impedido de frequentar e o dono de abrir as portas pode parecer uma ideia de maluco. Mas e quando o investidor já adquiriu até os insumos para funcionar?  “Não tivemos outra saída se não abrir da forma que deu, operando nos sistemas de delivery e retirada no balcão (take away)”, explica Juliana Mascarenhas que, junto com o marido Devison, investiram R$ 1,3 milhão num empreendimento focado no segmento de alimentação saudável, no Caminho das Árvores.  (Divulgação) Lattuga abriu no último mês de junho no Caminho das Árvores Segundo ela, o Lattuga, empreendimento que envolve empório, cafeteria e restaurante, estava previsto para abrir no começo de março, quando todo o comércio do setor fechou as portas. “Funcionários contratados, cozinha afinada e mercadoria nas prateleiras, aí o mundo parou!”, conta. (Divulgação) O petit gateau do Lattuga é livre de açúcares Mas quem disse que o casal desanimou. Foram quase três meses de planejamento e testes para seguir em frente. “Enxugamos toda a operação, reduzimos o número de funcionários previstos de 20 para seis e, desde o dia 10 de junho passado, passamos a operar com os sistemas de entrega a domicílio e retirada na loja porque não aguentávamos mais prejuízos com o estoque que fizemos. Precisávamos fazê-lo girar”. (Divulgação) Todo o cardápio do Lattuga prima pela comida saudável Juliana, adepta da alimentação saudável, sempre sonhou em ter um negócio neste segmento. Ela e o marido, que já trabalhavam na área de alimentos e bebidos, não mediram gastos para fazer o negócio dos seus sonhos e apostar num diferencial. “Todos os pratos do nosso cardápio são low carb , sem lactose, sem glúten, sem açúcar e sem refinados, mas todos muito saborosos, desde os lanches, doces e opções para almoço”, explica. (Divulgação) Vista noturna da varanda do Antique Café & Bistrô, no Carmo Pé no freio Mas nem todos os empreendedores da área de gastronomia que estavam para abrir os seus negócios optaram por fazê-lo durante a pandemia. O chef Davi Bastos preferiu colocar o pé no freio e reduzir a velocidade das obras do casarão histórico que vai abrigar o Antique Bistrô, na Rua do Carmo.  (Divulgação) Costelão defumado do Antique Bistrô: prato para compartilhar O espaço que fica em frente à Igreja do Carmo, foi pensado para funcionar com um cardápio de bistrô, com uma comida caprichada, como, aliás, Bastos já mostrou aos baianos que domina o riscado quando esteve à frente da cozinha do Al Mare. “Estamos muito ansiosos, mas com os pés no chão. Pensamos em abrir este mês, mas vamos adiar para o final de agosto, começo de setembro, se este tipo de comércio estiver liberado até lá”, afirma.  (Divulgação) Filé Chateaubriand com Fettuccini do Antique Bistrô no Centro Histórico Enquanto isso, o chef diz que a cozinha não para. “Estamos testando receitas, criando pratos, experimentando e sonhando com a casa cheia de clientes quando tudo isso passar”, planeja. E nós, assim como eles, torcendo para tudo isso passar e assistirmos de volta o mundo girar como no passado quando éramos felizes e não sabíamos. 

Serviço:Boteco Português - @botecoportugues – 71 3565 0599Lattuga - @lattugasalvador – 71 99999 5090Antique Bistrô - @antiquecafebistrô – 71 98686 2940