Em meio à pandemia, Vitória completa 121 anos de história

CORREIO elege 10 momentos marcantes protagonizados pelo rubro-negro

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  • Daniela Leone

Publicado em 13 de maio de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Robson Mendes/ Arquivo CORREIO

Um capítulo inédito está sendo escrito na história do Vitória fora das quatro linhas. A pandemia do novo coronavírus obrigou o clube a fechar as portas temporariamente. As atividades da Toca do Leão estão suspensas desde o dia 17 de março para evitar a propagação da covid-19, doença que já acometeu 177.589 pessoas no Brasil e levou à morte de outras 12.400, segundo balanço divulgado pelo Ministério da Saúde no início da noite de terça-feira (12). 

Clubes do mundo inteiro foram afetados e campeonatos interrompidos. Diante de um cenário repleto de incertezas não apenas no mundo da bola, prever o futuro ainda é tarefa árdua. O projeto rubro-negro para deixar a Série B e retornar à elite do futebol brasileiro está momentaneamente paralisado. 

Porém, recordar o passado não só é possível como necessário para aquecer os corações rubro-negros hoje, quando o Leão completa o 121º aniversário. Por isso, o CORREIO elegeu, entre muitos, 10 momentos marcantes de um dos únicos clubes centenários da Bahia (o Ypiranga, fundado em 1906, também é) e terceiro mais antigo do país, atrás apenas de Flamengo e Vasco.

FUNDAÇÃO

O Club de Cricket Victoria foi fundado em 13 de maio de 1899 por dezenove jovens que moravam no Corredor da Vitória, região nobre de Salvador. Era uma noite chuvosa quando os irmãos Valente, Arthur e Arthêmio reuniram os amigos no casarão da família, onde hoje está localizado o Condomínio Edifício Casablanca. Como o próprio nome sugere, o clube foi criado inicialmente apenas para a disputar críquete, esporte praticado na época somente pelos ingleses que viviam na capital baiana. Os soteropolitanos participavam apenas como gandulas. A ideia era que os uniformes fossem nas cores patrióticas verde e amarela para combater tal discriminação, mas a dificuldade para encontrar tecidos fez com que inicialmente fossem adotados o preto e branco.

O primeiro registro de jogo de futebol aconteceu em 1901. A adesão do vermelho e preto e a mudança de nome para Sport Club Victoria ocorre no ano seguinte, em 1902, quando o críquete já não era o único esporte praticado. Além do futebol, o clube era representado em outras modalidades como natação, atletismo e remo. O apelido Leão da Barra também surgiu naquele ano, quando os remadores rubro-negros chamaram a atenção ao completarem travessia entre o Porto da Barra e o Porto dos Tainheiros, em Itapagipe.

TIMAÇO EM 1972

O time do Vitória de 1972 é considerado por muitos torcedores e pesquisadores como o melhor de todos os tempos da história rubro-negra. Ídolos do clube, Osni, André Catimba e Mário Sérgio guiaram o Leão a um emocionante título estadual em cima do rival Bahia. Naquele ano, o Vitória precisava vencer os dois jogos da final para ficar com a taça e alcançou o objetivo. Com gols de Mário Sérgio, ganhou por 2x1 a primeira partida. Na segunda e decisiva, o 3x1 no placar foi assegurado por Osni (duas vezes) e novamente Mário Sérgio. Estava escrito um dos capítulos mais marcantes da história do clube.

BARRADÃO

O estádio Manoel Barradas foi inaugurado em 11 de novembro de 1986, em um amistoso contra o Santos que terminou empatado em 1x1. A equipe paulista estreou a rede da praça esportiva com Dino. De pênalti, Heyder marcou o primeiro tento do Vitória na história do santuário rubro-negro. Àquela época, o Barradão era composto por campo e arquibancada. Não havia portaria, bilheteria, banheiros, bares e nem tribuna de honra apropriados. Primeiro jogo do Barradão foi amistoso entre Vitória e Santos, em 1986 (Foto: Carlos Catela/ Arquivo CORREIO) Apesar de ter inaugurado o próprio estádio, o Vitória seguiu utilizando a Fonte Nova como mando de campo. O Barradão só voltou à cena a partir de 1991, quando o atual presidente, Paulo Carneiro, foi eleito para o primeiro mandato. O primeiro jogo oficial do estádio foi disputado em 15 de setembro daquele ano. O Leão goleou o Serrano por 4x0, pelo Campeonato Baiano. O placar foi aberto pelo meia Wagner.

Como o estádio não tinha iluminação, só podia ser utilizado durante o dia. A inauguração dos refletores aconteceu em 1º de outubro de 1994, contra o Náutico. A partida, vencida pelo Vitória por 2x0, foi a primeira do Barradão na elite do Campeonato Brasileiro. A utilização do estádio é um divisor de águas na história do clube e o Campeonato Baiano mostra isso. Foram 12 títulos estaduais conquistados em 91 anos jogando em outras praças esportivas e 17 em 30 anos com o Manoel Barradas oficializado como mando de campo do Leão.

BRINQUEDO ASSASSINO

Pela primeira vez em sua história, o Vitória esteve perto de erguer uma taça nacional. Apelidado de Brinquedo Assassino, o time dos jovens Dida, Rodrigo, Vampeta, Paulo Isidoro e Alex Alves, todos formados na Toca do Leão, chamou a atenção do país inteiro ao deixar para trás Corinthians, Santos e Flamengo até chegar à final do Brasileiro de 1993, contra o Palmeiras. Só não resistiu ao alviverde paulista, sensação do momento, parceiro da Parmalat e dono de uma folha salarial muitíssimo mais alta. Na Fonte Nova, diante de 77.772 torcedores, Edílson, o Capetinha, garantiu o triunfo por 1x0 ao Palmeiras. Na volta, 88.644 pessoas viram Evair e Edmundo garantirem o título aos donos da casa no Morumbi.  Em 1993, Leão perdeu o título do Brasileirão para o Palmeiras (Foto: Antenor Pereira/ Arquivo CORREIO) TRICAMPEONATO DE 1997

Em 1997, o Vitória comemorou pela primeira vez um tricampeonato estadual. Após erguer a taça em 1995 e 1996, o rubro-negro conquistou o feito inédito numa temporada em que iniciou parceria com o Excel Econômico e teve condições de fazer grandes contratações. Bebeto, Chiquinho, Russo, Uéslei, Júnior Touchê, Preto e Gil Baiano eram algumas das peças da campanha do tricampeonato, em que o Leão teve 17 vitórias, três empates e apenas duas derrotas. 

HEGEMONIA ESTADUAL

O Vitória foi soberano no começo do século XXI e deixou o rival Bahia 11 anos sem comemorar um título estadual. Campeão baiano de 2002 a 2005 e depois de 2007 a 2010, o Leão só tropeçou diante dos times do interior. O decacampeonato não existiu por causa dos fracassos diante de Colo Colo, em 2006, e Bahia de Feira, em 2011, ambos no Barradão. 

QUEDA PARA SÉRIE C EM 2006

O Leão até começou bem a Série B do Campeonato Brasileiro de 2005 e chegou a figurar entre os oito primeiros colocados, mas caiu de produção e amargou a queda para a terceira divisão na última rodada da competição. O rubro-negro precisava vencer, em casa, o time reserva da Portuguesa para escapar, mas empatou em 3x3 e amargou o rebaixamento à Série C pela primeira e única vez na história. Atual presidente, Paulo Carneiro também era o dirigente máximo do clube na época. A permanência dele no comando, no entanto, ficou insustentável e ele deixou o cargo. Adermar Lemos Júnior assumiu.

REI DO NORDESTE

Em 16 edições da Copa do Nordeste, ninguém conseguiu superar o Vitória. Dono de quatro títulos, o rubro-negro é o maior campeão do torneio regional. A primeira conquista, em 1997, contou com o brilho do tetracampeão mundial Bebeto. Ele e outros nomes importantes na campanha, como Uéslei e Agnaldo ‘Capacete’, bateram o Bahia nas finais e ergueram a taça. Em 1999, mais uma conquista em cima do rival tricolor. O time tinha o talento do sérvio Petkovic, mas não contou com ele nas finais, que viajou para acompanhar as complicações da gravidez da esposa. Mesmo sem ele, o Leão comemorou o bicampeonato. Em 2003, o Vitória foi campeão invicto, mas sem o mesmo destaque, já que Náutico, Sport, Santa Cruz e Bahia decidiram não disputar a edição do torneio. Em 2010, o clube usou um time formado por garotos e bateu o ABC na final.  

BATEU NA TRAVE, DE NOVO

O Vitória chegou à segunda final de um torneio nacional de sua história. Assim como no Brasileiro de 1993, a decisão da Copa do Brasil de 2010 também foi diante de um time paulista que protagonizava o futebol no país. Liderado por Ramon Menezes, o rubro-negro não conseguiu bater o Santos de Robinho, Ganso e Neymar. Após Edu Dracena abrir o placar, os gols de Wallace e Júnior fizeram o Leão vencer por 2x1, no Barradão, na grande decisão. Só que a derrota no jogo de ida, por 2x0, na Vila Belmiro, garantiu a taça ao Santos.

GOLEADAS 

O dia 7 de abril de 2013 reserva uma doce recordação para a torcida rubro-negra. A data da inauguração da nova Fonte Nova ficou marcada por uma goleada aplicada pelo Vitória em cima do maior rival. Diante de mais de 32 mil pagantes, o rubro-negro aplicou um sapeca de 5x1 no Bahia, mandante do jogo válido pela quarta rodada do Campeonato Baiano. Renato Cajá, Maxi Biancucchi, Michel, Vander e Escudero garantiram a festa do Vitória. Zé Roberto anotou o gol de honra tricolor. Dinei marcou quatro gols no triunfo por 7x3 em 2013 (Foto: Robson Mendes/ Arquivo CORREIO) O título estadual seria comemorado pelo Vitória pouco tempo depois, com direito a nova goleada na Fonte Nova, no primeiro jogo da final. O dia 12 de maio de 2013 reservou outro atropelo histórico. Com gols de Gabriel Paulista, Dinei (quatro vezes), Fabrício e Maxi Biancucchi, o rubro-negro bateu o Bahia por 7x3 e colocou a mão na taça, erguida no jogo seguinte, no Barradão. Fernandão (duas vezes) e Adriano descontaram, mas não conseguiram evitar o vexame tricolor.