Em que século está a mentalidade brasileira?

Por Aninha Franco

  • Foto do(a) author(a) Aninha Franco
  • Aninha Franco

Publicado em 25 de agosto de 2018 às 05:02

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Enquanto o Brasil acorda e dorme discutindo eleições de outubro que, sabe-se lá pra que servirão, escrevo meu trilhão de sábado, mistura de trilha com textão, pra conversar sobre a mentalidade brasilidade, sobre a mentalidade desse Brasil incógnita que me abriga. Em que século está a mentalidade brasileira? Pergunto. E Daciolo me responde que expulsará os maçons e os illuminati do Brasil e entregará o país a Deus. Século 18? Século 17? Lula, morador da Papuda, condenado por corrupção, me lembra Antônio Conselheiro, final do século 19, desafiando a República.  Bolsonaro, atemporal e violento, me rebate perguntando a uma criança: “Você sabe atirar?”. Marina, como a floresta amazônica, emite sons distantes.

O IBGE informa que há 11 milhões de analfabetos no Brasil. E milhões de analfabetos alfabetizados incapazes de perguntar qualquer coisa mantêm o Brasil fora do século 21. Mas os candidatos não falam de educação. Mas os candidatos não têm projetos para a educação. E o Brasil produz analfabetos alfabetizados depois de oito anos de FHC, depois de oito anos de Lula e depois de seis anos de Dilma, dois deles com o emblema de pátria educadora. É a redemocratização inculta.  

A desigualdade provoca indignação, sobretudo porque nós sabemos a sua origem e persistência. A pobreza provoca compaixão, porque desconfiamos que ela permanecerá no Brasil ainda por muito tempo, impondo-lhe os séculos 17, 18 e 19, quando quase todo o resto do Planeta está nos séculos 20 e 21. Mas a existência de analfabetos me obriga a lembrar, todos os dias, a política rasteira e ineficaz do país.

Nesta semana, a Folha de S.Paulo publicou informações e sobre a eficácia dos governos estaduais brasileiros, e a Bahia aparece em 16º lugar em eficiência. Apurou-se a eficácia na educação, na saúde, na infraestrutura e nas finanças, no uso de recursos públicos, e a Bahia está abaixo de Tocantins, que só tem 30 anos de estado. A Bahia está abaixo do Piauí, aquele estado que, dizem, não existe. E abaixo do Maranhão eternamente saqueado pelos Sarney. A Bahia está caudalosamente abaixo dos primeiros colocados em educação e segurança. Santa Catarina pontua 0,670 em educação e 0,915 em segurança. A Bahia pontua 0,189 em educação e 0,554 em segurança.

A Bahia está na 24ª pontuação em educação dos 26 estados, acima, apenas, de Alagoas (0,134) e de Sergipe (0,147), talvez, por isso, a receita per capita de São Paulo pontua 0,577, a do Paraná 0,521, a do Rio Grande do Sul 0,653, e a da Bahia 0,106.

Os candidatos à Presidência ignoram os problemas do Brasil medieval, necessitado, urgente, de um choque de mentalidade para entrar no século 21 através do pensamento. As telas e a web transmitem conteúdo. Entra-se e se sai delas com o conteúdo que se tem. Milhares de brasileiros ignoram que estão no Brasil, por que estão no Brasil e o que é o Brasil. Até quando? Os candidatos ao governo do estado já se manifestaram sobre o 16º posto de eficácia da Bahia entre os 26  estados do Brasil e o seu 24º lugar em Educação? Ainda não? Exijam. Porque o resto é papo furado.