Em risco: 21% dos idosos baianos não estão imunizados contra a covid-19

Um a cada 20 pessoas com mais de 60 anos no estado sequer tomou 1ª dose

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  • Daniel Aloísio

Publicado em 19 de agosto de 2021 às 05:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Mesmo com a vacina anticovid disponível em toda a Bahia, 21% dos idosos do estado ainda não tinham tomado as duas doses até o domingo (15), não completando o esquema de imunização. São 1.299 milhão de pessoas com 60 anos ou mais que tomaram as duas doses frente a 1.637 milhão de idosos que não concluíram o processo. Os dados são do Painel Vacinação COVID-19, iniciativa do Laboratório de Estatística e Ciência de Dados da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), dentro do projeto ModCovid19. 

Para piorar, 83 mil pessoas com 60 anos ou mais na Bahia não tomaram sequer a 1ª dose. Ou seja, 5% do total dessa população ou um em cada 20 idosos baianos. Dos que tomaram a 1ª dose, 16,42% não retornaram para completar o esquema, cerca de 255 mil baianos.  

Professor da Ufal, o doutor Krerley Oliveira  também reponsável por coordenar o estudo, explicou que a estimativa populacional utilizada é a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2020, disponibilizada no Ministério da Saúde através do Datasus. É daí que são coletados, também, os dados com o número de pessoas vacinadas. A equipe do projeto atualiza a base de dados pelo menos duas vezes por semana. Cobertura vacinal na Bahia por faixa etária (Gráfico: Painel Vacinação Covid-19) Os dados preocupam os cientistas, uma vez que os idosos fazem parte do grupo de risco da doença. Tanto que, no início da vacinação, em janeiro desse ano, foram os primeiros beneficiados junto com os profissionais de saúde. A prefeitura de Salvador, por exemplo, começou a vacinar os adultos de 59 anos em abril. Como os imunizantes possuem, no máximo, três meses de intervalo entre as doses, houve tempo para que todos os idosos estivessem imunizados.  

“Cada pessoa que não se vacina contribui para que a doença continue existindo. Mas, no caso dos idosos, o perigo é ainda maior, pois eles têm mais chance de sentir os efeitos perversos da doença, já que são grupo de risco. Isso também vale para quem tem comorbidades. Não se vacinar, portanto, é colocar a vida em risco”, argumenta o professor Gesil Sampaio Amarante, da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) e membro do Portal Geocovid MapBiomas.  “Nosso país já começa a ter problemas com a variante Delta e essas pessoas não vacinadas estão mais vulneráveis. Essa cepa, até onde mostram os estudos, pode ser barrada pelo esquema vacinal completo. No entanto, quanto mais o vírus for propagado, maior será a chance de surgir variantes, inclusive alguma que aí sim possa tornar as vacinas inúteis. Precisamos correr com a vacinação antes que isso aconteça”, defende.   Leia mais: Raio-x da vacina: só 4 cidades baianas imunizaram mais da metade da população

Bahia vacinou 70% da população de 18 anos ou mais com 1ª dose 

A Bahia já aplicou a primeira dose do imunizante em quase 70% da sua populaçã, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). Até às 16h dessa quarta-feira (18), eram 7,541 milhões de pessoas com 18 anos ou mais vacinadas frente a população adulta de 11,149 milhões de habitantes.  

No entanto, alguns especialistas não acham que ainda seja hora de comemorar algo. O cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt, coordenador da Rede Análise Covid-19, explica que o correto é calcular o percentual de vacinados referente a população total daquela região, não apenas da população adulta.  “Todos contraem e transmitem (inclusive bebês). Então, não podemos deixá-los de fora da contagem, mesmo que hoje ainda não seja possível vaciná-los, pois se contraem e transmitem, fazem parte do cálculo do limiar da imunidade comunitária”, argumenta.  

Levando isso em consideração e como a população baiana estimada é de 14,931 milhões de pessoas, de acordo a última projeção realizada em 2020 pelo IBGE, o percentual de baianos vacinados com a primeira dose é de 50,5%. Mas Isaac ainda pondera que a imunização só ocorre com as duas doses.  

“Fora a Janssen, os estudos clínicos das vacinas foram feitos para duas doses. Qual o motivo de se estampar "100% da população adulta vacinada com uma dose"? É tipo dizer que 100% das pessoas chegaram a 50% do caminho?”, questiona. Até o momento, 3,456 milhões de baianos completaram a imunização, o que equivale a apenas 31%.   

Para o professor Krerley Oliveira, com esse percentual de imunização, ainda não é possível prever quando o estado terá 70% da população vacinada com as duas doses. Ele explica que a estimativa do painel não pode ser tratada como certeza porque há uma série de variáveis que podem mudar o ritmo de vacinação no país. Essas variáveis passam desde a quantidade de vacinas disponibilizadas até a própria adesão das pessoas à vacinação. Segundo Oliveira, o Painel analisa o ritmo de vacinação em duas doses nos últimos 30 dias. 

"Digamos que Salvador tenha 3 milhões de pessoas com mais de 20 anos. 80% disso é o correspondente a 2,4 milhões de pessoas. O que a gente calcula é: no ritmo atual de vacinação de Salvador, quantos dias são necessários para completar as duas doses desse público? É uma estimativa, não é algo que a gente pode garantir que vai ocorrer ou sequer se vai ocorrer, já que tudo é dinâmico nesse processo. Agora, por exemplo, temos a expectativa de entrar uma terceira dose, que já mudaria completamente as coisas", explica.

Leia mais: Salvador inicia a vacinação de jovens de 19 anos nesta quinta (19)

Bahia ainda não começou a vacinar adolescentes  A insistência no cálculo com base na população vacinável é devido ao fato do estado não ter iniciado a vacinação no público menor de 18 anos, o que equivale a cerca de 3,8 milhões de pessoas. Outros estados brasileiros estão com a imunização mais avançada e já aplica doses em menores de idade. É o caso de Roraima, Amapá, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Maranhão, além do Distrito Federal   

Na Bahia, Salvador será a primeira cidade a avançar para o público de 12 a 17 anos. Segundo a Sesab, nenhum outro município concluiu a vacinação do público de 18 anos ou mais - requisito para que se avance à próxima etapa –, o que a prefeitura de Salvador espera fazer já nessa semana. Além disso, a Sesab informa que o Ministério da Saúde ainda não enviou doses específicas para essa faixa etária. 

Para isso, os jovens terão que realizar o recadastramento do SUS no site da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e, no caso das crianças com comorbidades, é possível fazer um outro cadastro. Quem realiza, nesse caso, é um médico, com a mesma senha usada no Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia (Cremeb). Até então, 3 mil jovens com comorbidades estão cadastrados no sistema da SMS.   Lista das 10 cidades que mais vacinaram pessoas com a primeira dose de acordo com o portal Geocovid:   Maetinga – 131,31%  Jussiape – 97,71%  Guajeru – 78,62%  Ibicuí - 77,63%  Mortugaba – 76,17%  Catolândia - 74,8%  Palmeiras – 72,44%  Contendas do Sincorá - 72,26%  Barro Preto – 69,09%  Cristópolis - 68,35% As cidades de Maetinga e Jussiape chamam a atenção pelo elevado índice de vacinação, chegando até mesmo a ultrapassar os 100% no caso de Maetinga, que é o menor município baiano com apenas 2,8 mil habitantes, de acordo com a projeção mais atualizada do IBGE. No entanto, a prefeitura contesta o cálculo do órgão e afirma que, só de cadastros feitos nas unidades de saúde, são quase 8 mil.  

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Essa diferença nos dados faz com que a cidade receba menos vacina. Atualmente, eles estão imunizando com a primeira dose quem tem 23 anos ou mais. “Nós estamos cobrando um novo censo. A Sesab está ciente dessa situação. Inclusive, a prefeita já cobrou ao governador o envio de uma maior quantidade de vacina”, disse Sabrina Souza, secretária de Saúde de Maetinga. Lista das 10 cidades que mais vacinaram pessoas com a segunda dose de acordo com o portal Geocovid:   Jussiape – 48,73%  Catolândia - 39,09%  Contendas do Sincorá - 37,4%  Abaíra - 34,89%  Piatã - 32,67%  Mortugaba – 31,98%  Maetinga – 31,58%  Rio de Contas – 31,46%  Banzaê - 31,17%  Mulungu do Morro – 30,34% Mais de 290 mil pessoas ainda não tomaram 2ª dose na Bahia  

Em toda a Bahia, são 290 mil o número de pessoas que não retornaram aos postos de saúde para tomar a segunda dose da vacina, segundo a Sesab. A situação também preocupa as autoridades de saúde, que lançaram uma campanha nas redes sociais para estimular a adesão a vacinação. "Reforce, segunda dose já. Vamos todos estar vacinados, conto com vocês", disse a secretária da Saúde em exercício, Tereza Paim, num dos vídeos publicados em rede. 

A pasta também reforça que a imunização só acontece após a segunda dose da vacina e quem não toma as duas doses fica vulnerável. “Por isso, acompanhe o cronograma, confira o local e data da sua segunda dose e complete o seu esquema vacinal contra a covid-19", pediram. 

172 municípios registraram mortes por covid em agosto   As consequências da não vacinação são a permanência de casos e óbitos de covid. Até às 16h dessa quarta-feira, 172 das 417 cidades baianas tinham registrado mortes pela doença. Os dados são da Central Integrada de Comando e Controle da Saúde, site mantido pela Sesab com dados da covid-19.  

A cidade de Nova Soure, no nordeste da Bahia, não registrou morte em agosto, mas só em julho foram dois óbitos por covid, o que abalou o município de 27 mil habitantes que já está sendo vacinado, mas num ritmo mais lento do que outros locais. Por lá, a imunização ainda é em quem tem 23 anos ou mais, enquanto outras cidades da Bahia já vacinam a população de 18 anos.  

Para o secretário de Saúde de Nova Soure, Ernesto da Costa Lima Junior, é a vacinação que impedirá que novos óbitos ocorram na cidade. Ele explicou que a demora em diminuir a idade do público alvo está relacionada com o cuidado da secretaria em buscar todos os que podem tomar a vacina.  “A maioria dos municípios estão avançando sem buscar as pessoas que são cadastradas na unidade de saúde. A gente faz um levantamento fiel das pessoas atendidas pela secretaria e vamos atrás deles para tomar as doses. É um processo de busca ativa. Vamos nas casas, informamos que a vacina está disponível... é algo até complicado, pois temos que ir na zona rural, mas o importante é que todos sejam imunizados”, defende.  *Com a orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro.

*Colaborou Vinícius Nascimento