Embasa é multada em R$ 10 milhões por descarte de esgoto no Rio Vermelho

As informações foram divulgadas pela prefeitura de Salvador

Publicado em 8 de fevereiro de 2019 às 09:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação
. por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

A Secretaria de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) autuou a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) por crime ambiental em Salvador, por causa de despejo de esgoto no mar. Uma fiscalização conjunta da pasta com a Secretaria de Manutenção (Seman), feita nesta quinta (7), detectou o crime na praia que fica em frente à Rua Fonte do Boi, no Rio Vermelho. 

Técnicos das duas secretarias estiveram no local após denúncias e constataram que existe um sistema de captação de esgoto da Embasa com um extravasor irregularmente direcionado para dentro da galeria de águas pluviais pertencente ao município. Esse tipo de prática é criminosa, permitindo que o esgoto seja jogado no mar.

"A Embasa demonstra, mais uma vez, que não tem qualquer responsabilidade com a cidade. Nós já temos alertado e multado a empresa em função desse tipo de situação que, no entanto, continua acontecendo. Mas seremos rigorosos na fiscalização e na aplicação das leis", declarou o titular da Sedur, Sérgio Guanabara. 

"Qualquer informação e crítica dessa ordem é bom para o município. Nós vamos para cima. A Embasa faz e a gente busca uma maneira de resolver identificando as ligações irregulares de esgoto para a empresa fazer a correção o que, muitas vezes, não acontece. Temos buscado um diálogo para que a gente resolva os problemas. O esgoto não é problema da prefeitura", comentou Virgílio Daltro, secretário da Seman.

Esta será a quarta vez, segundo a Prefeitura de Salvador, que a Embasa receberá punição em função do despejo irregular de esgoto na rede pluvial e, consequentemente, nas praias de Salvador. Em dezembro do ano passado, a Sedur protocolou denúncia contra a empresa junto ao Ministério Público da Bahia por poluição do Rio Trobogy. A multa por reincidência por este tipo de crime é de R$10 milhões. 

"Infelizmente, a empresa não tem uma boa relação com a cidade. A Embasa, além de não investir na cidade, de não melhorar as condições de saneamento básico de Salvador, causa transtorno, inclusive, e infelizmente num momento em que a cidade está tão bem. Coisas como essa na Fonte do Boi acabam sendo compartilhadas em fotos que se reproduzem pelo mundo inteiro. Eu peço responsabilidade e compromisso da Embasa com Salvador", declarou o prefeito ACM Neto, nesta sexta-feira (8) durante evento no Vale das Pedrinhas. 

Veja imagens registradas nesta manhã no local pelo CORREIO: [[galeria]]

Em nota enviada ao CORREIO, a Embasa informou que 'a água que escorre na praia da rua Fonte do Boi, no Rio Vermelho, não é esgoto'. "Trata-se de um córrego que, após intervenção da empresa ligando todos os imóveis residenciais e comerciais à sua rede, retomou seu fluxo normal. Ou seja, atualmente a Embasa não possui, como diz a Prefeitura, sistema de captação em tempo seco no local. A estrutura, que desviava esse fluxo do córrego para a rede coletora da Embasa, foi desmontada desde o ano passado", afirmou a Embasa. 

Em outro trecho do comunicado a Embasa afirma que o curso natural de córregos, em cidades litorâneas, segue para as praias. "A presença de poluição nas águas deste córrego provém da sujeira e do lixo das ruas, trazidos pela chuva, ou de lançamentos criminosos por parte de moradores ou proprietários que, ao ampliarem ou reformarem seus imóveis, não cumpriram o que determina o código de obras de Salvador, a saber, ligar seus esgotos na rede pública coletora. A fiscalização sobre o cumprimento das exigências do código de obras de Salvador é feita pelo poder público municipal", argumentou a Embasa. 

Turistas e moradores reclamam Mateus Ferreira e Danilo Carrijo estavam empolgados para conhecer a praia da Fonte do Boi. As referências eram as melhores possíveis: ora, como esperar algo diferente do bairro mais boêmio de Salvador? Mas o anseio dos dois estudantes de Uberlândia, em Minas Gerais, foi frustrado logo que sentiram o mau cheiro vindo do esgoto."A gente veio empolgado. Queríamos uma praia com onda. Achei o preço da cadeira caro, ainda teve o fedor... aí não deu", apontou Mateus.Ele estuda Ciências Contábeis na Universidade Federal de Uberlândia (Ufu). Foi lá onde conheceu Danilo, estudante de Engenharia Mecatrônica. Os dois vieram para Salvador por conta da Bienal da União Nacional dos Estudantes (Une). Depois da experiência ruim na Fonte do Boi, decidiram ir a outra praia do Rio Vermelho: o Buracão.

"Vamos tentar lá. Tomara que seja melhor", torceu Danilo.

O incômodo atinge quem passam pela rua. Com moradores não seria diferente. Também mineira, a aposentada Alice Mota, 55, se mudou para a capital baiana, onde mora com a filha, e já reclama do forte cheiro."Minha filha estava reclamando do mau cheiro na casa. Eu falei a mesma coisa. Nunca vi nada assim. Precisamos reclamar. Algo precisa ser feito", pontuou a aposentada.Trabalhando como supervisor do estacionamento no Hotel Íris, Ailton Lima falou à reportagem do CORREIO que não foram raras as vezes que ouviu reclamação dos hóspedes sobre o odor. Além disso, ele também contou que costuma desaconselhar passeios por lá.

"Muita gente pergunta se a praia é boa e a gente diz que não. Dá a dica de ir pra outro lugar porque aqui tem esse problema do esgoto. É uma pena", lamenta Ailton.

*Com a supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier