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Segundo especialistas, entre os principais desafios estão o planejamento, qualificação, equipe, burocracia e investimento
Priscila Natividade
Publicado em 25 de novembro de 2019 às 06:00
- Atualizado há um ano
Ainda que para muitos empreender em algo que gosta é um sonho, até o negócio dar certo há um longo caminho pela frente. Seja para quem empreende por propósito ou por quem viu na abertura de um negócio uma solução financeira, o fato é que é preciso um plano de negócios que mostre com clareza onde o negócio agrega na vida dos seus clientes e que problema ele é capaz de resolver.
Esse é só um dos pontos que o empreendedor deve estruturar para que o sonho de abrir um negócio não vire pesadelo. Especialistas em gestão e empreendedorismo listaram as cinco principais dificuldades de quem tem um negócio. Entre elas estão a falta de planejamento, qualificação, montagem da equipe, burocracia e investimentos.
“Está muito ligado ao comportamento do próprio empreendedor. Quantas vezes você está tão apaixonado com a sua ideia que acaba ficando cego? Ele precisa ser mais analítico. É importante sonhar, projetar, mas, sobretudo, entender o negócio dele, os concorrentes e o que faz sentido”, afirma o gerente regional do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-BA), Rogerio Teixeira.
Os obstáculos existem, mas só são superados quando o empreendedor mantem a relevância do seu negócio. “Quando ele se mantém relevante para seus clientes, o empresário também consegue ver o valor que o seu produto ou serviço tem. É importante ser a primeira pessoa na cabeça do seu cliente”, acrescenta Rogério.
‘Pé no chão'
Depois de entender o mercado, de conhecer o cliente e desenvolver a visão de dono, vem a sustentabilidade do negócio. Para a presidente e diretora comercial da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi, ao montar um negócio vale a pena ter em mente que serão, no mínimo, dois anos sem tirar dinheiro dali, até que aquele investimento possa retornar. “Para o empreendedor crescer, inovar e investir torna-se muito caro. O capital de giro acaba sendo um limitador do negócio. Ai que muitos se perdem. Tem que ter perseverança e fôlego financeiro”, fala.
Para alcançar esse ‘fôlego’, a alternativa é focar em uma gestão financeira eficiente. “A disciplina financeira em analisar resultados é fundamental para entender se o negócio está bem ou não. Olhar estoques, contas a receber e a pagar e acompanhar os custos são imprescindíveis para que os faróis acendam no lugar certo”, aconselha Ana.
Eficiência
Os maiores erros estão relacionados à disciplina de gestão e à visão clara do que está indo bem ou mal. A correção de rota tem que ser rápida e eficiente desde o começo, como analisa o fundador da startup LinkApi, Thiago Lima. A plataforma trabalha com o desenvolvimento de interações entre sistemas.
“O tempo todo é necessário estar alerta. Tem que ser muito observador para manter a rastreabilidade do planejamento e analisar as diferenças entre o realizado e planejado em todas as áreas”.
A melhor maneira é avaliar os meios necessários para alcançar a sua demanda. Aí entram pessoas, investimento, infraestrutura e dinheiro em caixa. “A falta de visão pode causar ineficiência operacional, prejudicar o timing de crescimento, o target (público) que pretendia atingir e, o resultado”, observa.
Outra dica é do especialista da plataforma de Educação Kultivi, Ricardo Pydd: Defina metas de curto, médio e longo prazos. “Utilize indicadores de desempenho. Para cada projeto ou ação estabeleça metas e esteja atento aos resultados. O empreendedor deve ter em mente que irá cometer erros e o maior desafio é saber lidar com falhas e usá-las como exemplos futuros. Se souber onde e por que errou, terá um excelente aprendizado”, recomenda Pydd.
RELATO: CAFÉ COM BIKE Para Márcio, é preciso fazer muita pesquisa e buscar qualificação antes de tirar uma ideia de negócio do papel (Foto: Divulgação/ ASN Bahia) Márcio Matos, criador do The Best Coffee Eu sempre tive o sonho de empreender. Abri minha primeira empresa em 2009, uma copiadora. Mas não deu certo. A gente tinha muita vontade, mas não tinha conhecimento. Resultado, me perdi nas contas e fechamos a porta. Dois anos depois eu tentei mais uma vez e no mesmo ramo. De novo, não deu certo. Consegui um emprego, mas ainda queria apostar em um negócio que fosse meu e, então, fiz um acordo e pedi para sair disposto a fazer algo que desse certo. Eu já gostava muito de café. Enquanto estudava as possibilidades de um novo negócio, ainda cheguei a trabalhar como motorista de Uber para garantir uma renda. Fiz muita pesquisa sobre foodbikes e vi que aqui em Salvador ainda não havia um empreendimento desse tipo voltado para vender café, como eu vi em alguns outros lugares. Também apostei em qualificação e fui em busca de cursos na área e me tornei um barista. Então, chegou a hora de colocar a minha ideia no papel - coisa que eu não tinha feito antes nas minhas experiências mais antigas. Aprendi que é preciso desenhar o negócio e enxergar o mercado. Conhecer o seu produto, o serviço, entender a sazonalidade também. Minha proposta era um food bike com um café mais elaborado. Criei 16 diferentes tipo de bebidas e há 1 ano e meio fui conquistando o meu espaço. A verdade é que dá muito medo de que não dê certo porque a incerteza é grande. O começo é muito difícil e por isso, pra mim, foi fundamental aprender a medir os riscos, o que me permitiu me preparar para passar pelas tempestades porque todo negócio enfrenta alguma dificuldade. Hoje eu faço o dobro de eventos que fazia, quando comecei. Neste mesmo período meu faturamento cresceu 40%. A gente precisa administrar o negócio o tempo todo, principalmente com relação aos custos. Tem que estudar mesmo para entender como funciona. A gente não consegue vender o que não conhece. Faz a diferença quando o empreendedor conhece o mercado dele.
OS CINCO PRINCIPAIS DESAFIOS
1. Planejamento Muita gente começa a empreender sem colocar a ideia que teve no papel. Seja por necessidade ou por vocação, é fundamental elaborar um plano de negócio que formate a proposta do que pretende vender. analise o mercado, seus pontos fortes e de melhoria e estude também a sua concorrência. “Identifique todos os caminhos e estratégias para chegar ao resultado. A ausência de planejamento é um grande obstáculo para que o negócio possa, efetivamente, dar certo”, destaca o gerente regional do Sebrae em Salvador, Rogério Teixeira.
2. Qualificação Sim, é preciso aprender a empreender, principalmente temas como gestão, gerenciamento de equipes e finanças. “Os maiores erros estão relacionados à disciplina de gestão e à visão clara do que está indo bem ou indo mal. Por isso é importantíssimo entender que empreender significa gerir pessoas, gerir finanças, gerir clientes. Ou seja, muitas vezes analisamos o glamour do negócio sem entender as agruras do dia-a-dia”, destaca a presidente e diretora comercial da AGR Consultores, Ana Paula Tozzi.
3. Equipe À proporção que o negócio vai crescento e a demanda também, não vai dar para o empreendedor fazer tudo sozinho. e aí é fundamental montar uma equipe engajada com o negócio. “Criar um negócio é impactar os consumidores positivamente com um sonho. Conseguir selecionar e montar um time com uma equipe que esteja 100% preparada é muito raro e uma tarefa difícil. É necessário um grande trabalho de formação para capacitar os profissionais”, recomenda o fundador da startup LinkApi, Thiago Lima.
4. Burocracia Seja para abrir uma empresa, contratar funcionários ou negociar com fornecedores e clientes, vêm por aí muita papelada pela frente: “No âmbito jurídico, as constantes alterações legais dificultam o acompanhamento do empreendedor em relação à aspectos trabalhistas e tributários. É necessário buscar ajuda de um profissional para realizar este trabalho, ou ainda uma qualificação específica para compreender os diferentes processos burocráticos”, aconselha o especialista da plataforma Kultivi, Ricardo Pydd.
5. Investimento Esse é também um dos grandes obstáculos na hora de empreender. Dificuldade de contratar crédito e capital de giro são limitações que interferem muito no crescimento do negócio. Para o gerente regional do Sebrae em Salvador, Rogério Teixeira, a solução é fazer uma boa gestão financeira. “Ainda que empreender, muitas vezes, seja a realização de um sonho, é fundamental tomar conta das finanças e ser seu maior crítico, ter o pé no chão e não perder a direção do que realmente faz sentido para o negócio dele”, acrescenta Teixeira.