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Georgina Maynart
Publicado em 14 de dezembro de 2018 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Mais agilidade, segurança jurídica, e melhoria na infraestrutura voltada para a produção agrícola. Estas são apenas algumas das reinvindicações imediatas do setor agropecuário para 2019.>
“Nós precisamos fazer com que o setor possa progredir. Ainda enfrentamos muitas dificuldades, as infraestruturas não são adequadas, o custo de produção é muito alto, e muitas licenças demoram dez anos para sair. É preciso diminuir a burocracia e é possível realizar isso com respeito às leis, à Constituinte e ao meio ambiente. Sem favorecimento e sem ideologia”, afirma Bartolomeu Braz Pereira, presidente da Associação Brasileira os Produtores de Soja - Aprosoja, que representa os produtores de todos os estados brasileiros onde o grão é cultivado.>
Os desafios e os rumos do agronegócio brasileiro foram discutidos durante o Agro Cenário 2019, evento realizado em Brasília, promovido pela Aprosoja Brasil e pela Corteva Agriscience, divisão agrícola da DowDuPont.>
Com o tema “Cultivando o progresso da Agricultura Brasileira”, o evento reuniu mais de mil pessoas, entre economistas, pesquisadores, especialistas no setor, indústrias e produtores de soja de todo o país.>
“É importante planejar, saber como o mercado vai se comportar. Daí a importância da certeza regulatória e da estabilidade, para que os agricultores saibam com o que estão lidando. Se as previsões de crescimento da população e demanda por alimentos se concretizarem, a situação vai ficar crítica. É importante estar à frente deste processo para resolver os problemas. Precisamos trabalhar juntos para criar novas oportunidades e conseguir ir mais longe”, pontua Krysta Harden, vice-presidente global de Relações Institucionais da Corteva Agriscience, uma das maiores empresas do mundo em biotecnologia e proteção de culturas agrícolas.>
Muitos representantes do agro brasileiro defendem a criação de um plano de longo prazo para a agricultura nacional. Atualmente, o Plano Plurianual da Agropecuária, traçado pelo governo federal com as principais diretrizes e previsões de orçamentos, prevê ações apenas para um período de até 4 anos. Os agricultores querem planejamento mínimo para um período de até 10 anos.>
“Queremos descenalidade, temos que aprender a pensar em 10 anos no mínimo. O planejamento no agro brasileiro não pode ser feito em 3 anos. As pessoas precisam de previsibilidade, compromisso e planejamento em um pacote inteiro do governo. Não podemos construir um armazém e depois alguém dizer que a estrada não vai mais passar pela região, como se pudéssemos sair voando com o armazém para outro lugar”, afirma o deputado federal Alceu Moreira, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária e produtor rural.>
União>
A deputada federal Tereza Cristina Dias (DEM-MS), futura ministra da Agricultura e Pecuária, defendeu a união entre os produtores rurais, independentemente do tamanho da propriedade.>
“Vamos dialogar e vamos juntar tudo. Vamos acomodar as agriculturas, acabar com as divisões entre pequeno, médio e grande agricultor. Temos que ter políticas públicas para que todos tenham êxito. Precisamos de simplificação e de entrosamento de todos que fazem a agricultura brasileira”, defendeu.>
A futura ministra também sinalizou como será a postura do Brasil frente aos outros países, principalmente no que diz respeito aos assuntos de interesse dos agricultores brasileiros.>
“Nós temos que nos comunicar melhor aqui no nosso país e principalmente lá fora. Nós precisamos não deixar mais que nos apontem o dedo. Temos que mudar o rumo deste grande navio que é o Brasil. Por exemplo, há quantos anos temos uma linha de transmissão em Roraima que não foi finalizada e nós continuamos comprando energia da Venezuela? Só tem que passar a linha de transmissão de energia. Ninguém vai acabar com os licenciamentos, mas vamos conversar e criar um ambiente para que as coisas aconteçam no Brasil. Precisamos deste entendimento, e da união de todas as estruturas que fazem a pujança do agronegócio brasileiro”, acrescentou.>
O atual ministro da agricultura Blairo Maggi concordou. “É a grande oportunidade de fazer as mudanças que tanto desejamos. Agora existe um objetivo único, para dar mais agilidade. A ministra terá pela frente uma tarefa dura, mas tem plena capacidade de gerir isso”, comentou.>
Tecnologia>
Durante o evento, os pesquisadores de várias instituições defenderam mais apoio para a ciência agrícola, reafirmando que as novas tecnologias se consolidam como essenciais para o aumento da produtividade no campo, da qualidade dos alimentos e da sustentabilidade.>
Em foco estão possíveis soluções para problemas que afetam o desempenho da agricultura tropical, como excesso e escassez de chuva, surgimento de pragas e adaptação para diferentes biomas.>
Durante esta edição do Agro Cenário, a Corteva Agriscience anunciou ainda uma parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O projeto prevê apoio a cinco pesquisas voltadas para o desenvolvimento de alimentos resistentes a seca, de pesquisas na produção de feijão e no combate a ferrugem asiática, principal doença que atinge as lavouras de soja no Brasil.>
“Acabamos de assinar cinco contratos, sendo dois na área digital, para dar suporte ao desenvolvimento da agricultura sustentável brasileira. Esse apoio é fundamental. Nas últimas quatro décadas o Brasil deixou de ser um país importador de alimentos para se tornar um grande produtor, e isso tudo em função do que foi feito em tecnologia, e no que o Brasil desenvolveu de culturas baseadas em ciência tropical”, pontou Celso Morete, diretor de Pesquisa da Embrapa.>
A Corteva Agriscience está presente em vários países. Com dez unidades de pesquisa e doze escritórios no Brasil, o país já representa o segundo maior faturamento da companhia, atrás apenas dos Estados Unidos.>
“O Brasil já representa o país de maior potencial de crescimento, tendo em vista a expansão do agronegócio nos últimos anos e as perspectivas para os próximos. A parceria com a Embrapa nos dá a oportunidade de abrir um canal de diálogo e de colaborarmos com a ciência e a tecnologia em benefício do nosso país. Nós investimos em nova genética de soja e vamos compartilhar as alternativas na área de biotecnologia”, afirma Roberto Hun, presidente da Corteva Agriscience para o Brasil e Paraguai.>
A principal inovação, divulgada durante o evento, e incluída na parceria com a Embrapa, envolve a chamada tecnologia CRISPR de edição genética. Em linhas gerais, através da técnica os pesquisadores conseguem isolar algumas características do gene da planta.>
“Na tecnologia CRISPR nós identificamos um gene indesejável e retiramos, criando uma nova planta mais tolerante a seca, mais resistente a pragas e que necessite de menos defensivos. Através dela podemos reduzir o tempo de produção de novas sementes de 8 para 3 anos, e já temos pesquisas avançadas em tecnologias para o combate a pragas como o cancro cítrico, comuns nas lavouras”, afirma a cientista brasileira Sandra Milach, que atualmente é líder de pesquisa da Corteva Agriscience nos Estados Unidos.>
A cientista também explicou a diferença entre tecnologia CRISPR e os chamados OMGs, organismos geneticamente modificados. “A CRISPR não é o mesmo que transgênicos. Nos transgênicos se faz a transferência do gene de uma planta para outra. No CRISPR o método envolve apenas a própria planta. É uma tecnologia mais precisa, mais barata e que pode ser realizada por empresas menores, sem grandes custos. Através desta nova parceria, nós vamos compartilhar esta tecnologia com todas as culturas que a Embrapa já trabalha”, concluiu Milach.>
O primeiro produto comercial desenvolvido com a nova tecnologia, e que deve chegar ao mercado nos próximos anos, é uma variedade de milho ceroso, mais rico em amido.>