Endividamento bate recorde e chega a 57,1% em Salvador

Taxa é o maior percentual desde outubro de 2016, aponta Fecomércio-BA

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Shutterstock

Os efeitos da pandemia e das necessárias medidas de isolamento são diversos e uma das principais preocupações diz respeito aos reflexos econômicos causados pela crise. Os índices de endividamento, por exemplo, cresceram. Em maio, a taxa de famílias endividadas na capital baiana disparou para 57,1%, maior percentual desde outubro de 2016 e 7,2 pontos percentuais acima do visto em abril (49,9%), conforme registra a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), divulgada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado da Bahia (Fecomércio-BA)

Conforme a pesquisa, são 530 mil famílias em Salvador com algum tipo de dívida, 94,4 mil a mais em relação ao mesmo período do ano passado. O percentual de famílias que não conseguiram pagar as dívidas até data do vencimento também passou de 16,9% em abril para os atuais 21,6% de maio, o maior patamar desde janeiro de 2018. Em números absolutos, significa 200 mil famílias inadimplentes, aumento expressivo de 40 mil em apenas um mês. Entre os endividados, o principal tipo de dívida continua sendo liderado pelo cartão de crédito com 90,3%.

Para o economista e consultor econômico da Fecomércio-BA, Guilherme Dietze, o cenário fica ainda mais agravado entre as famílias de menor renda, e isso não é nenhuma surpresa. “É natural pensar que as famílias com renda mais baixa são as que mais sofrem neste momento, pois, em sua maioria, não têm recursos guardados para complementar a renda neste momento de pandemia”, afirma.

Outra questão são a condições de pagamentos oferecidas pelo cartão de crédito, maior gerador das dívidas “As condições que os bancos darão para esse perfil de consumidor são altamente desfavoráveis, com restrição nos valores e taxas de juros elevadas. Vale lembrar que o cartão de crédito tem uma taxa média no rotativo próxima a 300% ao ano”, diz.

Entre os que estão endividados, o percentual de famílias com renda até 10 salários mínimos é de 58,8%, enquanto que para os que ganham mais a taxa é de 39%. Em relação à inadimplência, o grupo com renda mais baixa registrou 23,2%, cinco pontos percentuais acima do mês anterior. Já na faixa com renda mais elevada, o percentual ficou em 8,1%, pouco acima dos 6,3% vistos em abril.

“Eu trabalho como autônoma, com massagem, e conseguia tirar entre R$ 5 e R$ 7 mil mensais. De repente não consigo trabalhar e nem o aluguel foi pago no último mês. Também entreguei a sala onde eu atendia para poder cortar gastos, mas não ajudou”, conta uma moradora do bairro da Federação que preferiu não ser identificada. “Meu filho, que trabalhava em shopping e acabava ajudando em casa, também perdeu o emprego por causa da crise. Agora estou contado com algumas clientes que seguiram pagando sem receber o serviço e vendendo voucher de massagem para quando tudo isso passar, mas todo dinheiro que entra precisa ir basicamente para alimentação”, explica. 

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Razões

“O endividamento vai ser uma tônica para os próximos anos, essa é uma crise muito séria, então a tendência é um agravamento de uma série de parâmetros como desemprego, endividamento, falências no caso das pequenas e médias empresas. Isso tudo vai gerar a necessidade de resposta dos atores públicos para tentar minimizar os efeitos da crise”, explica o economista e professor do curso de Economia da Universidade Salvador (Unifacs), Moisés Conde. 

É justamente a desestabilização no mercado de trabalho que, segundo o professor, contribui para gerar os altos números de endividados.  “A gente está vivendo um cenário de recessão econômica, praticamente. Não temos expectativa de crescimento econômico e isso gera um impacto muito grande em pontos como o aumento do desemprego, que já está ocorrendo. A redução dos salários de parte dos trabalhadores também é algo que acaba gerando o aumento da inadimplência em diversos setores”, acredita, 

Outro ponto que, para o professor, acaba contribuindo com o cenário de dívidas está justamente na mudança de comportamento causada pelo próprio isolamento. “As pessoas estão mais em casa, isso também contribui para gerar um aumento de gastos nesse período. Alimentação, energia e alguns outros custos geralmente são menores quando você tem parte da família fora de casa no dia a dia”, acrescenta. 

A pedido do CORREIO, Moisés listou uma série de dicas que podem ajudar a diminuir ou evitar as dívidas. Veja abaixo:    Coloque no papel - Todo orçamento começa sendo materializado no papel, colocando os números das despesas e receitas para se ter uma idéia geral da situação

Converse com a família - Torne as decisões financeiras um assunto de família e como um resultado de um acordo coletivo. Em momentos como esse, é preciso que a decisão dos gastos seja conversada e acordada entre todos os membros da família para evitar desgastes desnecessários

Reduza o consumo de bens supérfluos - É importante que o consumo dos bens essenciais seja preservado, como: aluguel, alimentação ou energia elétrica

Se possível, guarde - É difícil nesse momento, mas, se for possível, a criação de uma poupança emergencial é uma boa ideia, diante da imprevisibilidade do futuro. 

Evite as compras por compulsão - Com a infinidade de ofertas pela internet, é muito fácil comprar produtos desnecessários. É preciso manter o controle e não cair na armadilha dessas compras por impulso.

Não estoque alimentos e produtos - Por exemplo, nada de comprar além da conta itens como álcool em gel, papel higiênico ou alimentos não perecíveis. Não corremos risco de desabastecimento e os supermercados estão entre os estabelecimentos considerados essenciais, portanto, permanecerão abertos durante a pandemia. 

Cozinhe, e evite o delivery -  Fazer sua própria refeição pode ser uma atividade prazerosa e também evita o gasto com entregas de restaurantes

Foque em atividades que não gerem gastos extras - Uma ideia pode ser ler os livros que já possui e que ainda não teve tempo para ler ou buscar outras atividades que não geram gasto extra 

Substitua o pago pelo gratuito - Uma quantidade imensa de aulas e atividades gratuitas estão sendo oferecidas na internet e podem ser uma opção para diminuir os gastos com uma atividade que você pode não considerar como essencial, como é o caso de uma academia, por exemplo.   Dê preferência aos negócios locais - Na hora de uma compra necessária prefira os pequenos empreendedores, eles são os mais afetados pelo momento e ajudá-los diminui o impacto geral da crise. 

*Com orientação da subeditora Clarissa Pacheco