Enem 2020: nervosismo e críticas aos protocolos sanitários no 1º dia de prova

Com a pandemia, a prova do Enem, que já é bastante desafiadora, colocou ainda mais pressão sobre o ombro dos estudantes

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 16:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tiago Caldas/CORREIO

Neste domingo (17), na primeira etapa da verdadeira maratona que é o Enem, os participantes tiveram que responder 45 questões de Ciências Humanas, 45 questões de Linguagens e a confecção da Redação. Além da tensão de realizar uma prova que pode significar a porta de entrada para o ensino superior, este ano o psicológico precisou enfrentar um outro obstáculo: o coronavírus.

A candidata Stephanie Oliveira fez o Enem pela primeira vez e confessou que o psicológico estava abalado. “Estou muito nervosa, não consegui nem dormir direito”, diz. Ela se sentiu mal minutos antes do fechamento dos portões, mas se recuperou e conseguiu entrar para realizar a prova. 

Com a estudante Naiane Costa, de 20 anos, a situação não foi muito diferente. Mesmo já tendo feito o Enem em outra edição, o nervosismo é inevitável. “O sono esta noite foi agitado, estou com o coração na mão porque não me sinto preparada. Foi difícil estudar esse ano, principalmente por ser ensino público, praticamente não tive aula nem suporte”, desabafa a candidata. 

Para a psicóloga Priscila Pardo,  membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBTC), a sensação de incerteza generalizada por conta da pandemia interfere diretamente no desempenho do aluno no Enem. “Este ano a preocupação é: eu estou sendo exposto, eu posso contrair o vírus, mas eu não posso deixar de fazer a prova”, analisa. 

Ela avalia que o Enem, que já é visto como um divisor de águas na vida do estudante, nesta edição causou uma pressão ainda maior sobre o candidato e uma sensação de corrida contra o tempo. “O participante entende que se não fizer a prova ou não tiver um bom desempenho, vai ter a vida ainda mais atrasada do que já está com a pandemia. Percebo uma dificuldade deles entenderem que não é a vida de cada um que está atrasada, mas o mundo inteiro parou”.

A psicóloga ainda ressalta que o fator psicológico pode ser determinante para indicar quem vai ter um bom desempenho e quem não vai. A mente afeta o corpo, gerando ansiedade e sintomas físicos que podem atrapalhar bastante na hora da prova. “Para esta semana, é momento de buscar estratégias para relaxar, se desligar, porque o conteúdo que tinha que ser absorvido já foi. Pode ser ir para a praia, meditar, estar com a família ou com os amigos”, recomenda Priscila. 

E o meme dos atrasados?

Movimento tranquilo em pleno dia de prova do Enem e nenhum candidato para levar fama de atrasado no Colégio Central, em Nazaré. Um cenário atípico assim só poderia acontecer em plena pandemia, que mudou completamente o que se entende por normalidade.   Foto: Tiago Caldas/CORREIO Quem estava trabalhando com panfletagem na porta do colégio se espantou com a pouca quantidade de estudantes. Assim como Seu Antônio, de 40 anos, que já trabalha como ambulante em dia de prova do Enem há anos. Na barraquinha, água e máscaras de proteção facial, mas as vendas não foram muito boas. "Não está tendo saída não, não vendi nenhuma máscara", lamentou. 

O porteiro do colégio, que preferiu não se identificar nem gravar entrevista, confirmou que é a primeira vez que viu um movimento tão fraco e sem candidatos chegando atrasados. 

Para o estudante Rafael Bispo, de 23 anos, o cenário já era esperado. Ele conta que se esforçou para estudar ao longo do ano, mas tanto ele quanto os amigos acabaram sendo desmotivados por conta da pandemia. "Acho que muita gente vai acabar desistindo de vir com medo do aumento de casos do coronavírus. Eu fiquei com receio, mas estou tomando todas as precauções e, como moro sozinho, fico mais tranquilo por não infectar outras pessoas", conta o candidato.

Quem chegou mais cedo ficou no pátio do colégio ou no portão aguardando o tempo passar. Alguns candidatos encontraram conhecidos e aproveitaram para conversar e aliviar a tensão pré-prova. Aqueles que chegavam a poucos minutos do fechamento do portão vinham correndo, mais tensos. Tinham pressa, claro.

Mas um estudante chamou atenção. A cinco minutos do horário limite, ele chegou caminhando com uma caneta na mão. Parou na barraquinha do ambulante para comprar mais canetas e garrafas de água. Na maior tranquilidade, atravessou o portão faltando apenas dois minutos. Haja confiança! 

Protocolos Foto: Tiago Caldas/CORREIO O presidente do Conselho Municipal de Juventude de Salvador (COMJUV), Gustavo Mercês, esteve pela manhã no Colégio Central e apontou falhas em protocolos estabelecidos para a prova do Enem. Segundo ele, não havia posto de álcool em gel em todas as salas, somente um no corredor. Além disso, não foi observada medição da temperatura dos alunos.

"Nos preocupou primeiro que não há disponível a informação de quantidade máxima de aluno por cada sala, não há fixada as listas. Segundo, nós verificamos que a disposição das cadeiras parece que permaneceu do mesmo jeito, ou seja, enfileiradas umas atrás das outras. Questionei junto à coordenação do colégio porque que não foi feito o isolamento alternado das fileiras e eles me informaram que vão fazer isso na hora da prova”, explica o presidente.

No pátio do colégio, estudantes que chegaram mais cedo aguardavam o horário da prova sentados e, muitos deles, conversando entre si. Alguns ficaram com a máscara abaixada até o queixo e nenhum funcionário do Inep se aproximou para intervir.   

O Inep não divulgou, até o momento, o percentual de abstenção da prova. 

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier