Energia solar vai abastecer residencial na antiga Cidade de Plástico

Projeto na Guerreira Zeferina faz parte de acordo entre Prefeitura e Coelba

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  • Nilson Marinho

Publicado em 22 de maio de 2018 às 15:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO

Os primeiros moradores chegaram em meados dos anos 1990, e foram erguendo, de forma informal e precária, as primeiras casas em um terreno de cerca de 20 mil metros quadrados, no bairro de Periperi, às margens da Baía de Todos os Santos. Todas as residências foram construídas de madeira, papelão e plástico - de onde vem, por sinal, o primeiro nome da ocupação que, mais tarde, passou a ser conhecida como Cidade de Plástico e hoje foi reconstruída e rebatizada de Guerreira Zeferina.

Em 2013, a Prefeitura anunciou a construção de novas unidades habitacionais no local. Quase cinco anos depois, nesta terça (22), já como parte das casas entregues, a gestão municipal anunciou também a implantação de um sistema de energia solar para os moradores - quase todos ex-moradores da antiga ocuparação irregular. O projeto vai beneficiar 230 famílias que hoje moram no Conjunto Habitacional Guerreira Zeferina. 

O anúncio foi feito pelo prefeito ACM Neto, na manhã desta terça-feira (22), em uma coletiva de imprensa realizada no Palácio Thomé de Souza. A iniciativa faz parte de um acordo entre o Município e a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), que investirá, nesta primeira etapa do projeto, R$ 1,2 milhão para a implantação do sistema de geração solar fotovoltaica de energia elétrica.  Reunião entre Prefeitura e Coelba selou acordo sobre implantação de sistema de captação e distribuição de energia (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Energia solar O projeto prevê a instalação de placas solares que serão colocadas sob as casas, convertendo os raios de sol em uma energia limpa e renovável. As placas, conectadas umas às outras, serão interligadas a um inversor solar, aparelho capaz de transformar a energia produzida pela luz do Sol em uma corrente alternada (CA), transferindo para a rede da Coelba. 

Toda a força produzida pelas placas vai fornecer energia às residências e às áreas comuns do conjunto habitacional. De acordo com a empresa de energia, a geração estimada é de 297 MWh ao ano, produção capaz de abastecer as casas, as áreas comuns, a creche da comunidade, e outras instalações da Prefeitura construídas no local. "Essa parceria chega em uma das áreas que, no passado, era considerada uma das mais pobres e sem qualquer condição digna de vida. A Prefeitura transformou a comunidade, construindo um novo conjunto habitacional. A energia solar vai contribuir para a preservação do meio ambiente, dando a chance dos moradores de ter acesso à tarifa social de energia. Portanto, os moradores vão pagar pouco por uma energia barata e renovável", explicou o prefeito.Caso o consumo seja inferior ao da produção, ainda de acordo com a concessionária, o excedente será revertido para outras estruturas da administração municipal. O prefeito também anunciou, durante a coletiva, que será lançado em breve o projeto IPTU Amarelo, que dará desconto de até 10% para os imóveis que possuírem sistema de energia solar.

Novos rumos Georgina Maria de Oliveira, 60 anos, uma das lideranças da Guerreira Zeferina, lembra que foi uma das primeiras pessoas a ocupar o espaço e uma das últimas a deixar a ocupação para a construção do conjunto habitacional, há pouco mais de dois anos. 

O seu barraco, assim como a maioria dos erguidos por lá, sempre foi de plástico. Agora, além de uma nova casa, bem diferente da antiga, com dois quartos e com instalações seguras, a líder comunitária comemora, também, a chegada de uma energia sustentável que deve deixá-la tranquila em relação à conta de luz.  "Vivíamos em uma situação precária. Meu barraco era de plástico. Meu ventilador e todos os aparelhos queimavam por conta dos 'gatos'. Não tínhamos saneamento e éramos considerados 'desclassificados'. Agora, temos um endereço", comemora Georgina. A nova residência da liderança faz parte da primeira etapa do projeto de construção do conjunto de prédios. Em abril deste ano, 125 apartamentos foram entregues. Os próximos devem ficar prontos nos próximos meses, inclusive o apartamento 102, que pertence a Georgina. Atualmente, ela mora em uma casa alugada com ajuda do auxílio-moradia da Prefeitura. 

Gatos Ao ocupar o espaço e após levantar as primeiras casas, os moradores começaram a fazer instalações irregulares de energia, os conhecidos 'gatos', que eram feitos para desviar eletricidade de postes de ruas vizinhas.

As ligações de energia clandestinas, que inclusive são consideradas crime, eram feitas, de acordo com o pedreiro Manoel das Neves, 53, à luz do dia, sem muita preocupação. Os fios, quando não se emaranhavam sobre as casas, arrastavam-se pelo chão, passando até por baixo da linha férrea por onde circulam os trens do Subúrbio. O pedreiro Manoel das Neves admite já ter usado gato de energia, mas a partir de agora se prepara para nova realidade (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)  A energia fraca e irregular fazia com que os eletrodomésticos dos moradores queimassem, como foi o caso do próprio pedreiro Manoel, que perdeu muita coisa. Ele confessa que também já realizou os 'gatos'.

"Perdi geladeira, som, televisão, mas a gente não tinha com quem reclamar porque estavámos errados, mas era a nossa única opção. Hoje, graças a Deus, com esse projeto, estamos buscando uma qualidade de energia melhor; inclusive a solar vai diminuir nossos gastos", diz o pedreiro, que trabalha na construção das residências da segunda etapa do projeto do conjunto. "Estou construindo minha própria residência. Nunca imaginei que isso pudesse acontecer", comemora.

*Sob a supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier