Ensino da Matemática - PED Brasil

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  • Da Redação

Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 16:42

- Atualizado há um ano

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A pesquisa Todos Pela Educação, de 2017, aponta que apenas 7,3% dos estudantes brasileiros concluíram o ensino médio com níveis básicos de aprendizagem em Matemática. Nas escolas públicas, o cenário é ainda pior: apenas 3,6% dos egressos atingem níveis satisfatórios de aprendizado. Na última edição do Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes (Pisa), o Brasil alcançou a 66ª posição dentre 72 participantes. O relatório do Banco Mundial World Development Report de 2018 alerta que, no ritmo de investimento atual em ensino, o Brasil só atingiria a meta satisfatória educação matemática daqui a 76 anos. Culpar estudantes e professores é a reação não produtiva que, geralmente, é provocada pela divulgação dessas pesquisas.

O problema, todavia, é mais profundo e encontra-se em tradições arraigadas na forma como a Matemática é ensinada, tanto para os futuros professores quanto para os alunos. Na maioria das escolas ainda predomina um ensino de Matemática pautado na memorização de fórmulas e reprodução de algoritmos com pouca ou nenhuma conexão com o mundo real. Tal tradição é fruto da permanente desconexão entre teoria e prática na formação de professores. De um modo geral – e esse não é um problema exclusivo do Brasil – há uma tendência na formação inicial de professores de focar na aprendizagem de conteúdos em desconexão com sua aplicação na sala de aula, o que leva às dificuldades encontradas pelos professores em fazer a “tradução” do conteúdo acadêmico para aquilo que é acessível aos alunos do ensino básico.

O enfrentamento desse problema tem ocorrido de diferentes maneiras, algumas delas alcançando grande destaque internacional. A Universidade de Stanford vem desenvolvendo diversas estratégias a partir da ideia de construção de mentalidades matemáticas de crescimento. Mais do que romper a barreira que muitos alunos possuem com essa disciplina, as metodologias e estratégias propostas por seu time de pesquisadores foca no desenvolvimento de habilidades matemáticas de alto nível cognitivo, possibilitando a exploração e a autonomia dos estudantes. 

Trata-se da aprendizagem matemática por meio da resolução de problemas complexos, abertos e interessantes, nos quais as múltiplas formas de raciocinar são valorizadas e onde os alunos podem expandir as fronteiras de seus conhecimentos. Visando engajar todos os estudantes na aprendizagem, rompendo com a ideia de que algumas pessoas possuem mais inclinação para esse tipo de saber enquanto outras não possuem esse “dom”. O mais interessante com relação a essa abordagem é que ela tem se mostrado efetiva entre alunos de baixo nível socioeconômico, demonstrando que boas metodologias e escolhas pedagógicas acertadas podem sim levar à aprendizagem equitativa e de excelência.

Desde 2016, as estratégias pedagógicas e a formação de professores desenvolvidas na Universidade de Stanford chegaram nas universidades do Brasil. Um time da instituição americana vem implementando especializações em ensino de Matemática com foco nos professores que atuam em sala de aula. Desde 2017, o programa está sendo executado em Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife-PE (pela Secretaria Estadual de Educação). Em Salvador, a Unijorge tem um grupo de professores prontos para a implantação do programa e está capacitando os docentes para a abertura das turmas. A maior dificuldade tem sido o estabelecimento de parcerias com redes públicas de educação.

* Martin Carnoy é professor and Vida Jacks Professor of Education Dr. Martin Carnoy, Stanford University; Guilherme Marback Neto é reitor da Unijorge, Doutor em Educação  e Professor da Escola de Administração da Ufba; Barbara Barbosa Born  é mestre e doutoranda Stanford University e Valter Forastieri  é professor da Unijorge, coordenador do Programa PED na Bahia e mestre e doutorando em Ensino, Filosofia e História das Ciências da Ufba