Entenda a falta de doses da Coronavac e saiba quando chega o próximo lote

Em Salvador, cerca de 84 mil pessoas ficaram com a 2ª dose atrasada; previsão é de que o número caia para 58 mil até domingo

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  • Carolina Cerqueira

Publicado em 12 de maio de 2021 às 06:24

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A administradora Patrícia Orrico, 63 anos, deveria ter recebido a segunda dose da vacina Coronavac no dia 2 de maio, mas não foi isso que aconteceu. Ela só conseguiu se vacinar nesta terça (11) devido à falta de doses do imunizante, que atinge a maioria dos municípios baianos, inclusive a capital, e também outros estados do Brasil. O atraso e as incertezas têm preocupado quem espera pelas doses. “Foi muito frustrante. Esses dias não foram de espera, porque a gente não sabia quando ia poder tomar, foram dias de incerteza e angústia mesmo”, diz Patrícia.  

A aposentada Nara Pizarro, 67 anos, também passou pelo mesmo problema. Ela deveria ter completado a imunização com a Coronavac no dia 30 de abril, mas só conseguiu se vacinar no dia 10 de maio. “Eu fiquei muito apreensiva, muito ansiosa, pensando que não ia conseguir me vacinar, mas procurando me controlar porque eu não tenho mais 20 anos de idade. Fiquei com medo de pegar covid nesse tempo de espera”, conta a aposentada. 

De acordo com o secretário municipal da Saúde (SMS), Leo Prates, a falta de doses da Coronavac teve início no dia 29 de abril e atingiu cerca de 84 mil pessoas. Com a chegada de três mil doses da vacina nos dias seguintes, foi possível suprir a demanda de quem estava com os dias 29 e 30 de abril - e algumas com o dia 1º de maio - marcados no cartão de vacinação como a data para a segunda dose. Mas, depois disso, o cenário ficou mais complicado. Somente a partir da chega de 26 mil doses à capital no último sábado (8), é que Salvador pode dar continuidade à imunização desse público.

Na segunda (10), a vacinação seguiu para as pessoas que tinham segunda dose prevista para o dia 1º de maio, um total de 13.191 pessoas. Nessa terça (11), além dos remanescentes do dia anterior, foi a vez dos que estavam sinalizados para 2 de maio, que somam 7.666 pessoas. Até o próximo domingo, o número de atrasos, antes de 84 mil pessoas, deve diminuir para 58 mil.

A falta de doses, porém, tem explicação: o atraso no envio de imunizantes da Coronavac pelo Ministério da Saúde para os estados e municípios. “Nós tínhamos um estoque controlado para 12 dias e o Ministério da Saúde ficou cerca de 20 dias sem nos enviar”, afirma Prates. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesab), o Ministério da Saúde alega que os fabricantes não estão conseguindo entregar as vacinas conforme contrato estabelecido, sobretudo, por dificuldades na importação do IFA (Insumo Farmacêutico Ativo), que é a base da produção da vacina.

A recomendação inicial do Ministério da Saúde era de que fossem reservadas pelos estados as doses referentes à segunda aplicação. De acordo com a Secretaria Estadual de Saúde, a recomendação mudou no dia 21 de março deste ano, a partir do 8º lote das vacinas. Ou seja, a orientação passou a ser de que não fosse feita mais reserva de segunda dose e que todas as doses recebidas fossem logo aplicadas. Na prática, isso significa que o Ministério tem a obrigação de garantir a segunda dose em tempo hábil.

Mas, de acordo com o secretário municipal, Salvador não seguiu essa orientação e reservou uma parte das doses, mas, mesmo assim, não foi suficiente. “Não aplicamos logo tudo que recebemos e, por isso, pudemos passar um longo período sem falta de Coronavac, mesmo sem o envio pelo Ministério, mas não conseguimos sustentar isso por tanto tempo. Alguns membros do governo federal falavam que os municípios não aplicavam as doses no mesmo ritmo que elas eram enviadas, mas a história está respondendo agora a eles que não era isso”, explica o secretário.

Além da demora no envio de doses, Prates também culpa a quantidade de líquido nos frascos do imunizante. “Outro problema noticiado pelo Brasil todo é que imaginávamos ter uma quantidade em estoque que não era verdadeira porque os frascos estavam com menos doses do que deveriam. No nosso entender, a máquina do Butantan estava descalibrada e, ao invés dos frascos virem com 10 doses, vieram com nove ou oito. Em Salvador, isso representou cerca de 23 a 25 mil doses”, afirma. 

O problema não se restringe à Salvador e nem à Bahia. Segundo informações divulgadas pela TV Globo, um levantamento feito com as secretarias estaduais de saúde aponta que ao menos 19 estados do país estão sendo atingidos pela falta de Coronavac. Esses 19 estados necessitam de mais de 1,5 milhão de doses para completar a imunização de todas as pessoas que já tomaram a primeira dose da Coronavac. São eles: Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão, Ceará e Piauí.

Qual a consequência desse atraso?

O fabricante da Coronavac, que é o Instituto Butantan, determina que o prazo máximo entre as duas doses de Coronavac seja de 28 dias. No entanto, o Ministério da Saúde tem sinalizado que este prazo pode ser ampliado para 40 dias, sem que haja redução da eficácia.  

“O Ministério da Saúde diz que não há ainda registro de comprometimento da eficácia. Ele diz que nós devemos garantir as segundas doses, que o importante é completar a imunização, independentemente do tempo que exceder”, diz o secretário de saúde municipal, Leo Prates.

A infectologista Fernanda Grassi, pesquisadora da Fiocruz, tenta tranquilizar quem está na fila de espera ou que recebeu a segunda dose após o prazo. “Não é um número mágico, são números com ensaios clínicos. A Coronavac está indicada para 28 dias, mas acreditamos que com uma, duas semanas de atraso, não terá perda significativa de imunização, porque não é algo matemático”. 

A infectologista, porém, explica que não há estudos definitivos sobre as consequências de tomar a segunda dose depois do prazo, apenas antes. “No caso da Coronavac, já há um estudo que indica que, quando a segunda dose é aplicada após 14 dias da primeira, há uma resposta muito baixa. O intervalo de 28 mostrou uma resposta melhor. Esse é o prazo recomendado agora e que o Brasil está seguindo. Ou seja, com um prazo menor do que o indicado, já sabemos que a eficácia cai, mas é importante ressaltar que não sabemos o que acontece se for um prazo maior”, conclui.

Filas Ao longo desses dois dias, foram registradas longas filas nos postos de vacinação da capital. Um dos locais com maior movimentação foi o ponto montado na UniFTC, na Avenida Paralela, com relatos de algumas pessoas que aguardam na fila há mais de 6 horas nesta segunda (10). Nesta terça (11), o problema continuou e, pela manhã, também foi registrada uma longa fila no local. Por volta das 17h, porém, não havia mais pessoas à espera de vacinação na fila destinada aos pedestres. 

De acordo com Leo Prates, o grande problema das filas é que muitas pessoas estão indo se vacinar sem terem agendado o atendimento. “O sistema pode suportar 7.666 ou 10 mil pessoas, mas os postos não dão conta de 84 mil”, diz. O secretário alerta que a prefeitura não está mais agendando vacinação para as pessoas com segunda dose de Coronavac atrasada. “Nós abrimos no domingo (9) todas as vagas para até amanhã, cerca de 8 mil vagas. Então paramos aí porque não há mais doses”.

Ainda não há previsão para a vacinação correspondente ao dia 3 de maio. Notícia ruim para Viviana Martin, de 62 anos. Ela tem o dia 3 de maio marcado no cartão de vacinação como data para a aplicação da segunda dose. A filha, Emília Marini, de 36 anos, estava na expectativa de conseguir vacinar a mãe ainda nesta quarta (12). “Eu já estava pronta para levar ela nesta quarta. Estava acontecendo vacinação para o pessoal do dia dois, então acreditei que nesta quarta já seria o pessoal do dia três. A gente fica ansioso, preocupado para que ela fique logo imunizada. Soube que está tendo bastante fila, mas não tem problema, a gente encara a fila mesmo", diz Emília.  

Quando chegam mais doses?

O prefeito de Salvador, Bruno Reis, anunciou durante entrevista coletiva na manhã desta terça (11), que a cidade deve receber 70 mil doses da Coronavac até domingo (16). A Bahia vai receber, ao todo 400 mil doses. Com o recebimento, a previsão é de que a situação dos atrasos seja regularizada. 

As doses vêm do lote de 2 milhões de doses da Coronavac que foi entregue ao Ministério da Saúde pelo Instituto Butantan nesta segunda (10) e dos demais que chegarão ao longo da semana, totalizando 5,1 milhões de doses a serem entregues até o final desta semana. 

Durante a entrega de doses para o Programa Nacional de Imunizações (PNI), do Ministério da Saúde, o Instituto Butantan demonstrou preocupação com os próximos prazos. O diretor do Instituto afirmou que a indefinição para o governo da China liberar a exportação do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), necessário para a produção da Coronavac, pode afetar o cronograma de vacinação contra a covid-19 a partir de junho. 

Há a expectativa de que o insumo seja liberado até próxima quinta-feira (13) e, assim, chegaria até o dia 18, mas o envio ainda não foi confirmado.

Em depoimento à CPI da Covid, nesta terça (11), o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, reforçou que existem problemas no recebimento do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA) usado na produção de vacinas contra a covid-19. "Temos visto problemas de demora pontual de chegada da IFA, em especial da China", disse.

"Temos dois grandes países que detém primazia na produção do IFA, um a Índia e outro a China. Esses países acabam influenciando um porcentual maior que 50% da produção de medicamentos do mundo. Observamos dificuldades, momentos que IFA demora a chegar", afirmou o presidente da Anvisa, segundo quem não existem dados que apontem para uma menor qualidade de produtos advindos da China”, completou o presidente da Anvisa.

Chegada de mais doses da vacina Pfizer

Um novo lote de vacinas contra covid-19 produzidas pela farmacêutica norte-americana Pfizer, em parceria com a empresa alemã BioNTech, chegou à Bahia nesta terça (11), reforçando o estoque de imunizantes. São 69.030 doses para o estado, sendo 17.500 delas para Salvador. O restante, cerca de 80%, fica com os 12 municípios da Região Metropolitana de Salvador.  

O avião trazendo a carga pousou no aeroporto de Salvador às 0h45 desta terça-feira (11). Com mais este envio, a Bahia soma 95.940 imunizantes da Pfizer/BioNTech. Além dessas, o estado já recebeu 2.794.200 doses da Coronavac e 216.3950 Oxford/AstraZeneca, totalizando 5.054.090.

As Secretarias Municipais de Saúde podem fazer a retirada gradual das vacinas na Central Estadual de Armazenamento e Distribuição de Imunobiológicos (CEADI), em Simões Filho, em virtude do prazo de aplicação de até cinco dias quando refrigerado em temperaturas de 2°C e 8°C.

De acordo com o secretário Leo Prates, as doses destinadas à Salvador já estão no Complexo Municipal de Vigilância à Saúde, na Avenida Vasco da Gama. Lá, estão armazenados nos ultracongeladores, que chegam a uma temperatura de - 86 ºC, permitindo um armazenamento de até seis meses. 

Vacinação nesta terça (11)

Salvador começou a vacinar nesta terça pessoas com Anemia Falciforme, trabalhadores das Escolas de Ensino Profissionalizante formal e trabalhadores de farmácia estão incluídos na vacinação na capital.

Para ser imunizada, a pessoa com Anemia Falciforme, precisa ter a idade igual ou superior a 40 anos, estar com o nome na lista do site da Secretaria Municipal da Saúde e no ato da vacinação deve apresentar um documento de identificação com foto, além de levar a cópia de um relatório médico com o número da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID) para falciforme com qualquer data de emissão, exame de diagnóstico para a doença (Eletroforese de Hemoglobina) e carteira de identificação dos serviços especializados que atendem a doença em Salvador. 

Para os trabalhadores de farmácia é necessário estar com o nome no site da Secretaria Municipal da Saúde e no ato da vacinação levar documento oficial com foto e uma cópia do contracheque. Para os trabalhadores das escolas de ensino profissionalizante, que fazem parte da rede básica de educação, é necessário ter o nome no site da Secretaria Municipal da Saúde e no ato da vacinação levar documento oficial com foto e cópia do contracheque.

Vacinação nesta quarta (12)

Salvador amplia, nesta quarta-feira (12), os grupos habilitados para vacinação contra covid-19. Estão inclusos na estratégia as pessoas com comorbidades, agentes das forças de segurança e salvamento, trabalhadores da limpeza urbana e professores do ensino superior com idade igual ou superior a 35 anos.   Os trabalhadores da saúde que atuam em policlínicas, consultórios e clínicas/ambulatórios especializados com Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (Cnes) ativo também têm o acesso às doses retomado a partir de hoje.

Nesta quarta, não haverá a aplicação da 2ª dose do CoronaVac nos postos por demanda aberta. A partir das 8h, será aberta o agendamento através do portal Hora Marcada (www.vacinahoramarcada.saude.salvador.ba.gov.br) para as pessoas com a segunda dose prevista no cartão de vacina ou descrita no site da SMS para data igual ou anterior a 12 de maio. 

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro