Entenda o que provocou as chuvas fortes desta terça (26) em Salvador

Defesa Civil ligou alerta máximo na cidade, onde ruas e avenidas ficaram alagadas

  • Foto do(a) author(a) Fernanda Santana
  • Fernanda Santana

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 13:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

A massa de ar frio começou a se instalar na noite desta segunda-feira (25), sobre o Oceano Atlântico, em Salvador. Logo depois, veio um sistema de alta pressão que arrastou as nuvens em direção à Baía de Todos os Santos. O resultado da ação desses dois sistemas foi a chuva desta terça (26), que ligou o alerta de perigo de deslizamentos e outros transtornos na cidade.

Desde a semana passada, meteorologistas começaram a identificar a chegada da frente fria à capital baiana. O sistema atmosférica se deslocou do Sudeste do Brasil até chegar à Bahia. Na semana passada, por exemplo, a quantidade de chuva em Vitória, capital do Espírito Santo, chegou a 452,2 milímetros, o mês mais chuvoso da região em mais de 27 anos, segundo o Climatempo.

Na avaliação da meteorologista Cláudia Valéria, do Instituto Nacional de Meteorologia  (Inmet), a chuva desta terça não “ocorre com tanta frequência”, mas não é “inédita”. 

As chuvas no mês de novembro, mês de transição entre primavera e verão, costumam acontecer mais intensamente, na Bahia, nas regiões sul, sudeste e sudoeste. A chegada da frente fria, somada ao sistema de alta pressão, no entanto, moveram as nuvens também sobre a capital baiana.

A previsão para a tarde é de tempo ainda nublado e chuvoso, mas com redução de volume. A Defesa Civil de Salvador (Codesal) emitiu alerta máximo com a chegada das fortes chuvas e acionou as sirenes em 10 dos11 bairros da capital que contam com o dispositivo.

O alerta de perigo é acionado quando o volume de chuvas acumulado em determinada região ultrapassa a 150 mm. O diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macedo, recomenda que as pessoas permaneçam em casa, principalmente pela “retenção de água no trânsito” e possíveis transtornos. A previsão da Defesa Civil é que chuvas permaneçam na cidade até quinta (28).“É claro que as pessoas em área de risco precisam se deslocar com maior rapidez possível e não ficar nessas áreas”. Cavado Em nota divulgada no início da noite desta terça, a Codesal voltou a explicar a origem do mau tempo. "Devido ao fenômeno meteorológico conhecido por cavado, a frente fria que se encontra sobre Salvador se intensificou provocando o aumento da intensidade das chuvas. Em apenas três horas na manhã de hoje (26/11) foi registrado um acumulado de 169 mm, quando a média histórica de chuva esperada para todo o mês de novembro era de 106,5mm. Em bairros como a Liberdade e São Caetano, o índice pluviométrico chegou a 258 mm em três horas", detalha o comunicado.

Ainda de acordo com a nota, em 24 horas, a precipitação atingiu a 172,1 mm, o que levou a Codesal a mudar o nivel de observação para alerta máximo, pela manhã, diante da notificação do Cemaden para risco muito alto para deslizamento de terra e continuidade de chuva forte nas próximas horas. "As áreas de forte instabilidade se formaram por causa do deslocamento de um "cavado", nome técnico que se dá a uma região na atmosfera onde ocorre uma ondulação do fluxo de ventos no sentido horário no Hemisfério Sul e onde há também uma tendência à queda da pressão atmosférica", reforça a Defesa Civil de Salvador.

Maré alta pode prejudicar escoamento  Desde o início do dia, avenidas ficaram alagadas ou foram interditadas, o metrô reduziu esquema de funcionamento até a estação Detran e colégios, como o Antônio Vieira, decidiram suspender as aulas. Segundo o oceanógrafo Guilherme Lessa, professor da Universidade Federal da Bahia, transtornos poderiam ser até maiores, se chuva tivesse ocorrido poucas horas depois. 

O maior volume médio de chuva caiu sobre a cidade até as 9h, quando 65,2 mm já haviam sido registrados pelos pluviômetros - equipamentos que medem a quantidade de chuva acumulada por milímetro.

Até às 12h30, foram 73 deslizamentos, 62 alagamentos de imóveis e 15 ameaçadas de deslizamentos, segundo a Codesal. No momento do maior volume de chuva, segundo o oceanógrafo Guilherme Lessa, a maré estava baixa, o que facilitou, de certa forma, o escoamento."Se ela tivesse caído no meio da tarde, o escoamento da tarde seria dificultado. Quando a maré está alta, a dificuldade de escoamento da água do rio, por exemplo, é muito maior, o que poderia causar mais alagamentos", avalia. A maré baixa teve início entre as 8h e 9h, enquanto o volume começa a ficar maior em torna das 14h. 

O mês das chuvas No mês de maio, o CORREIO mostrou que aquele era justamente o mês mais chuvoso dos últimos cinco anos. O período de chuvas mais conhecido da cidade é entre abril e junho, quando agem sobre a cidade sistemas de brisa e distúrbios específicos. Os pluviômetros anunciam a chegada do período mais chuvoso do ano ainda em abril. Por isso, desde 2016, a Codesal realiza, até junho, a Operação Chuva, análise intensificada das regiões da cidade para prevenir e corrigir problemas ocasionados pela chuva, como deslizamentos de terra. 

Para se ter uma ideia de como maio é chuvoso, em 2014, 2015 e 2018 choveu em algum ponto de Salvador absolutamente todos os dias do mês. Em 2017, foram 30 dias com registros de chuva e, em 2016, 27 dias. Além disso, os dados do Cemaden mostram que, dos 10 dias mais chuvosos desde 2014, metade foi em maio. De 2014 a 2018, a média de chuva acumulada no mês foi de 321mm, contra 224,8 em abril, quando o período mais chuvoso do ano começa. Cada milímetro de chuva equivale a um litro de água por metro quadrado. 

Acumulado de chuva nos oito bairros com sirene de perigo ligada Bom Juá - 262,8 mm São Caetano - 243,4 mm Calabetão - 228,4 mm Capelinha/Vila Picasso - 212,8 mm Lobato - 212,8 mm Sete Abril - 194 mm Castelo Branco - 182 mm Alto da Terezinha/Mamede - 173,2 mm