Enterro de jovem morta em igreja é marcado por comoção e protesto no Subúrbio

Brenda estava num culto com a mãe e filha de dois anos quando foi atingida na cabeça

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  • Wendel de Novais

Publicado em 9 de novembro de 2020 às 13:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Dor, desespero e revolta marcaram, na manhã desta segunda-feira (9), o enterro de Brenda Conceição do Carmo, 19 anos. Inconformados, familiares e amigos se despediram da estudante, morta na noite do último sábado (7), depois de ser foi atingida por um tiro na cabeça dentro de uma igreja evangélica, no bairro de São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário de Salvador. 

Quando foi atingida, Brenda estava acompanhada da mãe e da filha de dois anos. O tiro, segundo a Polícia Civil, partiu de um traficante, que passou atirando pelo local dentro de um carro roubado. Um dos disparos atingiu, primeiro, o portão da Igreja Novo Templo, onde acontecia um culto, e depois acabou baleando a jovem na cabeça. Brenda foi socorrida, mas morreu no local.

A despedida, nesta segunda-feira, aconteceu no Cemitério Municipal de Plataforma. O pai de Brenda, o pedreiro Luis Alberto Silva do Carmo, 45, e o marido dela, Roberto Pinheiro, 25, estavam visivelmente abalados, mesmo antes da chegada do corpo. Carregados e amparados por outros familiares, os dois entraram desespero com a chegada e abertura do caixão. O marido, Roberto, não conseguiu falar com a imprensa. Passou todo o tempo abraçado ao caixão, chorando. "Eu te amo tanto, não é possível que tenham te tirado de mim. Volta pra ficar comigo, Brenda. Mataram a minha mulher", repetia. O marido de Brenda, Ricardo (ao centro), visivelmente abalado, não falou com a imprensa (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Já o pai da estudante, Luis Alberto, viajou mais de 1,4 mil quilômetros para vir ao enterro da filha. O homem mora em Brasília (DF), onde trabalha como pedreiro, e soube da morte de Brenda por telefone. Mesmo com a distância, pai e filha mantinham contato constante por ligações e mensagens trocadas no através do WhatsApp. Até a chegada do caixão, Luiz se mostrava abatido com a situação e pouco falava. Mas, ao ver o corpo da estudante, trocou o silêncio pelo choro. "Papai te ama, viu, filha. Papai te ama muito. Saiba que papai te ama pra sempre", repetia, enquanto tocava o rosto da filha.

Revolta Além da dor e tristeza compartilhada por quem estava lá, a revolta e os pedidos por justiça também acompanhavam quem conhecia e amava a jovem. Joseval Conceição, 76, avô de Brenda, desabafou e pediu justiça pela morte de sua neta. "Cadê a justiça? Tem justiça pra quê? Vai preso hoje e amanhã tá solto. E a vida do ser humano fica como?  Foi dentro da igreja que ela perdeu a vida. Não estava em festa ou qualquer outra coisa. Queremos justiça e que quem fez isso pague por essa maldade", declarou.Joseval também comentou sobre a sensação de insegurança em São João do Cabrito e pediu reforço policial para o local. "Nós queremos segurança. Não temos isso aqui. Quem vai dar a vida da minha neta de volta? Perdeu a vida por causa de disputa de boca de fumo. Matam uns aos outros, chegam atirando e não estão nem aí. Morra quem morrer. Queremos segurança e justiça", declarou.

A Polícia Militar foi procurada para falar sobre como o policiamento é feito no bairro e se haverá reforço, mas ainda não respondeu. Após enterro, houve protesto de amigos e familiares e Brenda na Avenida Suburbana (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Protesto Mais segurança e justiça foram, também, os pedidos feitos em um protesto na manhã desta segunda. Após o enterro de Brenda, os familiares e amigos da jovem foram à rua em um ato que interrompeu o trânsito da Avenida Suburbana, na altura de Plataforma, por dez minutos. Eles reivindicaram o apoio de órgãos como a Secretaria de Segurança Pública (SSP) e o Ministério Público Estadual (MP-BA). Moisés Pinheiro, 28, cunhado de Brenda, disse que as manifestações vão continuar acontecendo de maneira pacífica até que os pedidos por segurança sejam atendidos. "Estamos em uma situação de risco aqui. O que aconteceu com ela poderia ter acontecido com todos nós. Vamos continuar com atos pacíficos, mas que incomodem as autoridades para que eles olhem para o que acontece por aqui, que não pode continuar", disse Moisés, que foi quem organizou o protesto.Jackson Santos Conceição, 38, acompanhou o discurso de Moisés. "Estamos nos manifestando porque algo precisa ser feito. Brenda era uma menina nova e que não tinha nada a ver com as brigas deles pelo domínio do tráfico aqui. Mais pessoas não podem ser feridas por isso", afirmou. Segundo organizadores, protestos pacifícios continuarão acontecendo até que os pedidos por mais segurança sejam atendidos (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) A reportagem entrou em contato com a Polícia Civil (PC) para falar sobre as investigações sobre o caso. Em nota, a assessoria de imprensa informou que apurou no local que os tiros foram disparados por homens que passaram num veículo - um carro com restrição de roubo foi abandonado nas proximidades e apreendido. A equipe do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) vai apurar a autoria e motivação do crime por meio da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS). As informações são as mesmas divulgadas neste domingo (8) - ainda não há novidades.

*Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro