Entidades do Conselho Nacional de Saúde criticam suspensão de imunização para adolescentes

Conass e Conasems dizem que Ministério não fez consulta à Câmara Técnica; SBIm reforça críticas. Anvisa mantém autorização da Pfizer para vacinar adolescentes

  • D
  • Da Redação

Publicado em 16 de setembro de 2021 às 21:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação/Breno Esaki/Ag.Saude

Após decisão da Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à covid-19, vinculada ao Ministério da Saúde, de suspender a imunização de adolescentes sem comorbidades, entidades que integram o Conselho Nacional de Saúde (CNS) criticaram a decisão. Seis capitais, incluindo Salvador, pararam a vacinação de adolescentes após essa nova regra. Rio de Janeiro e São Paulo decidiram não interromper a vacinação.

Em nota conjunta, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) reforçaram a importância da vacinação de adolescentes contra a covid-19 e lamentaram a decisão do Ministério da Saúde. 

Ainda segundo o Conass e o Conasems, a decisão de suspender a vacinação para adolescentes sem comorbidades foi tomada "sem qualquer consulta prévia às representações estaduais e municipais da gestão do Sistema Único de Saúde ou mesmo à Câmara Técnica Assessora do Programa Nacional de Imunizações (PNI)".

Leia mais: Salvador suspende vacinação de adolescentes de 12 a 17 anos sem comorbidades

Leia também: Rio de Janeiro decide manter vacinação de adolescentes de 14 anos

Veja ainda: Após recomendar suspensão de vacinação, Queiroga critica rapidez na imunização 

As entidades ainda ressaltam que apesar da vacinação ter levado a uma significativa redução de casos e óbitos, o Brasil ainda apresenta situação epidemiológica "distante do que pode ser considerado como confortável, em razão do surgimento de novas variantes".

Conass e Conasems ainda questionam a informação divulgada pelo Ministério de que, ao menos, 25 mil aplicações foram feitas em adolescentes com vacinas diferentes da recomendada, no caso a Pfizer. "Temos que primeiramente considerar se o dado é real, uma vez que erros de registro vêm sendo identificados, tanto por eventual esgotamento dos servidores, como por dificuldades relacionadas aos sistemas de informação. Importante considerar também que o montante referido anteriormente representa 0,75% das mais de 3,5 milhões de doses já aplicadas neste grupo populacional".

Por fim, as duas entidades defendem a manutenção da vacinação com base nos "atuais conhecimentos científicos" para proteção da população jovem, sem desconsiderar a necessidade de priorizar dentre os adolescentes, aqueles com comorbidade, deficiência permanente e em situação de vulnerabilidade. A nota é assinada pelos presidentes das entidades, Carlos Lula (Conass) e Wilames Freire (Conasems).

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) também criticou a decisão da Saúde, que segundo a entidade "gera receio na população e abre espaço para fake news". O SBIm ainda afirma que as justificativas apresentadas pelo Ministério da Saúde não são claras ou não têm sustentação. "A SBIm, portanto, entende que o processo deve ser retomado, de acordo com o que já foi avaliado, liberado e indicado pela Anvisa", diz.

Anvisa mantém autorização de vacina da Pfizer para adolescentes 

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou comunicado nesta quinta, onde afirma que investiga o caso da morte de uma adolescente de 16 anos após aplicação da vacina da Pfizer. No entanto, a agência diz que até o momento "não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina". 

"A Anvisa já iniciou avaliação e a comunicação com outras autoridades públicas e adotará todas as ações necessárias para a rápida conclusão da investigação. Entretanto, com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações nas condições aprovadas para a vacina", publicou a Anvisa. 

"Com os dados disponíveis até o momento, não existem evidências que subsidiem ou demandem alterações da bula aprovada, destacadamente, quanto à indicação de uso da vacina da Pfizer na população entre 12 e 17 anos."

A Anvisa ainda destacou que o uso do imunizante em adolescentes com 12 anos ou mais está autorizado em outros países, como Austrália, Canadá e Estados Unidos.

O que diz a nova decisão do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde suspendeu a vacinação para adolescentes sem comorbidades e orientou que a vacina só seja aplicada em pessoas entre 12 e 17 anos que tenham "deficiência permanente, comorbidades ou que estejam privados de liberdade". 

A decisão do Ministério estaria embasada nas orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) de não recomendar a imunização desse grupo, pelo número baixo de casos graves e pelos poucos estudos sobre a vacinação nessa faixa etária.

O ministro Marcelo Queiroga afirmou que a vacinação foi interrompida para investigação de eventos adversos, e que não será retomada até que haja evidências científicas sólidas. O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo Medeiros, afirmou que foram registrados cerca de 1.500 episódios dentre esses 3,5 milhões de adolescentes vacinados. A maioria é leve, mas citou a morte de uma adolescente paulista, que é investigada pela Anvisa, como motivo de monitoramento.

Pfizer

Após declarações do ministro, a Pfizer reforçou que não há relação causal entre a morte da adolescente e o imunizante e ressaltou que a definição da utilização e disponibilização da vacina no Brasil é feita com base em critérios de recomendação do Programa Nacional de Imunizações (PNI).