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Priscila Natividade
Publicado em 22 de maio de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
A Bahia precisa passar por um novo processo de modernização e inovação disruptiva (aquela que estabelece novos rumos) se quiser dar um salto a frente e se manter como uma das maiores economias do Brasil. Os principais setores produtivos do estado discutiram ontem (21) quais os caminhos para provocar estas mudanças e entender o que o legado de toda a evolução vivida até aqui pode ensinar rumo às novas oportunidades. >
A história e as perspectivas desta trajetória foram tema da Conferência Bahia 40+ O Futuro da Economia, que reuniu, realizado no auditório da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb). O evento reuniu especialistas, quadros diretivos de empresas e economistas em busca de caminhos para o desenvolvimento futuro do estado. A conferência foi dividida em duas partes. No primeiro momento, o economista e colunista do CORREIO, Armando Avena, fez uma palestra sobre o desenvolvimento econômico do estado entre 1979 e 2019 e também tratou de gargalos para o desenvolvimento futuro.>
“Nós estamos na era pós-industrial. Não funciona mais a produção como é hoje a indústria baiana. Nós temos que partir para outro ramo. Para sair da estagnação em que a economia se encontra é fundamental se qualificar sob o ponto de vista de tecnologia de ponta”, defendeu. >
Avena destacou ainda que a evolução tecnológica deve vir junto com uma infraestrutura que consolide este crescimento e planejamento de médio e longo prazo, assim como a ampliação de investimento em outros setores, sobretudo, na área de serviços e no turismo. “Nos transformamos em uma produtora de commodities industriais e isso acabou reduzindo o ciclo de crescimento. A economia baiana precisa se qualificar e para isso tem que ter ferrovia, porto, pesquisa e mão de obra qualificada”, acrescenta.>
Mundo 4.0>
A primeira etapa contou ainda com uma segunda palestra, feita pelo sócio da PwC Brasil, Luciano Sampaio. Ele destacou o papal da tecnologia para acelerar o desenvolvimento. Sampaio se baseou em dois estudos da PwC para trazer estas perspectivas: “ The world in 2050: the long view” ( O mundo em 2050, uma visão ampla, em tradução livre) e “Megatrends” (megatendências). Há 17 anos Luciano atende empresas listadas na bolsa de valores dos Estados Unidos e Brasil, bem como empresas familiares e de capital fechado. >
“Tudo é muito disruptivo. A revolução tecnológica está aí. Hoje as coisas se interagem”, assegurou. Entre as mudanças previstas para o mundo e que trazem oportunidades para empresas baianas estão urbanização acelerada, mudanças climáticas e escassez de recursos e alternância do centro de poder mundial, com a perda de espaço dos Estados Unidos.>
Para ele, a Bahia tem potencial para entrar no com força no jogo. “A plantação de eucaliptos hoje tem nanotecnologia e isso já acontece na Bahia. O estado já começou a dar passos significativos. A gente tem aqui oportunidade de nos tornarmos excelentes”, acrescentou. O segundo momento da conferência foi a realização de um painel com representantes do setor produtivo com os palestrantes (veja ao lado).>
Perspectivas>
A plateia também participou do debate. A publicitária Priscila Assemany, de 32 anos, chamou atenção para o engajamento dos profissionais frente às tendências que orientam as mudanças globais. “A evolução existe, mas a gente tem que está aberto a isso. O evento mostra o quanto é importante ter ferramentas para não ficar para trás”.>
Virgínia Paschoal, da New Tab Agência Digital, está consciente de que o futuro é agora. “A gente tem exatamente a mesma percepção do que foi mostrado aqui no nosso negócio. É excelente reunir pessoas interessadas no mesmo assunto, é um momento de network, de compartilhar experiências com outros empreendedores que também querem avançar”. >
Estiveram presentes ainda na plateia do evento a acionista e diretora do CORREIO Renata de Magalhães Correia, o gerente de comunicação da Odebrecht, Marcelo Gentil, e a gerente de Contratos da Sotero Ambiental, Viviane Pinheiro. Renata Magalhães reforçou a iniciativa do CORREIO em fomentar discussões sobre o desenvolvimento da Bahia: “Nós promovemos um debate importante e necessário para a economia do nosso estado”. >
A Conferência Bahia 40+ O Futuro da Economia faz parte do projeto Correio 40 anos, que tem oferecimento do Bradesco, patrocínio do Hapvida e Sotero Ambiental, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio de Vinci Airports, SESI, Salvador Shopping, Unijorge, Claro, Itaipava Arena Fonte Nova, Sebrae, Santa Casa da Bahia.>
Pequena, rápida e didática história da economia baiana>
Até meados do século 20 O cacau é a base da economia. E o estado depende da exportação do fruto. >
Década de 50 Impulsionada pela descoberta do petróleo em Salvador, a Refinaria Landulpho Alves (RLAM) - a primeira do Brasil - se instala no município de São Francisco do Conde (BA), dando início à industrialização da Bahia. >
1978 a 1990 A fundação da RLAM plantou a semente para o surgimento do Polo Petroquímico de Camaçari, que entrou em operação em 1978 e atingiu a plena capacidade em 1979. Daquele ano até a década de 1990, a economia baiana se consolida como industrializada e o estado cresce mais que o Brasil. >
1991 a 2000 A participação da indústria no PIB da Bahia estagnou. O período é marcado pelo aumento de participação do setor de Serviços. O movimento é tido como natural, já que a própria indústria demanda mais serviços. Mas também é detectado que a indústria era produtora de commodities industriais e que o estado importava produtos finais. >
2001 a 2005 Como resposta à estagnação, a aposta foi na verticalização da indústria. Com o objetivo de se produzir o produto final internamente, o governo do estado iniciou uma guerra fiscal para trazer empresas como a Ford e inicia-se um novo período de crescimento.>
2006 a 2019 Há ciclos de baixo crescimento. As taxas de aumento do PIB acumuladas no período são menores que o crescimento nacional. Um dos motivos é a deficiência de infraestrutura, que se deteriorou a partir dos anos 2000. >
+ 40 A nova economia é tecnológica e vai exigir cada vez mais inovação em todos os setores produtivos. Ela precisa ser mais diversificada e menos dependente de apenas um setor ou produto para crescer e gerar oportunidades. As áreas que terão destaque são indústria 4.0, startups , turismo, e-comerce, saúde e educação.>
UNIÃO DE SETORES VAI GARANTIR CRESCIMENTO>
O setor produtivo do estado tem de se unir para pensar e construir a inovação de vários setores conjuntamente, de forma coordenada e sem brigas por protagonismo. A convocação foi feita pelo presidente da Fieb, Ricardo Alban, durante sua participação no painel O Futuro Começa Agora, que encerrou a Conferência Bahia 40+.>
Outros representantes do setor produtivo baiano também participaram da discussão com os palestrantes Armando Avena e Luciano Sampaio - Isabel Ribeiro pelo Sebrae-BA e Guilherme Moura pela Federação da Agricultura e da Pecuária da Bahia (Faeb)- concordaram e realçaram o papel da tecnologia para um novo ciclo de crescimento da Bahia. >
“O grande mote que precisamos é a inovação. Vamos pensar juntos. E eventos como esse ajudam a enxergar essas soluções”, destacou Alban. O presidente da Fieb lembrou que a Fieb tem no Cimatec um centro de inovação que diferencia e dá competitividade à indústria baiana. Inovação também foi citada como fundamental para o agronegócio baiano, setor que tem garantido o superávit comercial da Bahia. “A próxima revolução do setor vem com a transformação digital”, disse o representante da Faeb.>
Isabel Ribeiro, do Sebrae, foi outra a destacar a importância da tecnologia quando comentou sobre as iniciativas do órgão para fomentar o crescimento de pequenos negócios. “Um dos nossos pilares está na digitalização, em incluir o pequeno negócio no processo de transformação digital. Também precisamos reduzir os gargalos para gerar emprego. Qualificar os nossos trabalhadores para atuarem no mercado”. >
O sócio da PwC Luciano Sampaio reforçou, mais uma vez, a importância das transformações digitais. “Isso deve ser feito de maneira planejada, estruturada e sustentável”. Avena finalizou o debate defendendo que “A nova economia é tecnológica e de alto nível”.>
PRIVATIZAÇÃO DA RLAM VAI MODERNIZAR PETROQUÍMICA>
Ainda que o setor produtivo defenda uma maior diversificação da economia e menor dependência do setor petroquímico, a indústria de petróleo e derivados ainda responde por uma parcela importante do Produto Interno Bruto Baiano (PIB) e também precisa fazer parte do processo de modernização econômica. >
E para que isso aconteça, o primeiro passo é privatizar a Refinaria Landulpho Alves (Rlam), como destacou o presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Ricardo Alban. “O governo não tem capacidade de investir. A Rlam é uma empresa de mais de 40 anos, precisa se modernizar. Será que devemos mesmo continuar com esta dependência? E temos que fazer isso antes que seja tarde e ela deixe de ser uma empresa competitiva”.>
O economista e colunista do CORREIO, Armando Avena, concorda: “A privatização é a saída para Rlam, que produz cada vez menos, impactando no PIB estadual”. >
CONFERÊNCIA FOI REALIZADA PARA CELEBRAR OS 40 ANOS DO CORREIO>
A Conferência Bahia 40+ O Futuro da Economia é parte do calendário de comemorações pelos 40 anos de circulação do CORREIO. Em junho, aproveitando a tradicional festa de São João - uma das mais amadas pelos baianos - vai ser tema de uma websérie exibida pelo portal correio24horas.com.br.>
Até o final do ano estão previstas ainda a realização do Prêmio Jornalismo de Futuro, o Show do CORREIO, que vai celebrar a música baiana, uma gincana para movimentar as escolas de Salvador, além do lançamento de um livro contando a história do jornal.>
As comemorações começaram em janeiro, com a publicação de uma edição especial e prosseguiu em fevereiro com uma exposição sobre o Carnaval de Salvador com fotos do arquivo do jornal, e um desfile de moda com mulheres de 40 anos em março. Em abril foi vez do Baba das Antigas, que reuniu artistas e craques que fizeram a história de Bahia e Vitória.>