'Era minha vida ali', diz dono de bomboniere que incendiou no Uruguai

Estabelecimento fica no térreo de um prédio residencial; dono estima prejuízo de R$ 150 mil

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  • Tailane Muniz

Publicado em 24 de junho de 2019 às 13:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

O comerciante Flávio Gomes, 39 anos, chegou a abrir as portas da bomboniere da família, na Travessa Jequitibá, no bairro do Uruguai, neste domingo (23). Ele, a mulher e os filhos, que ficaram no local até 13h, sequer imaginavam que, horas depois, voltariam ali para tentar salvar as mercadorias do estabelecimento que tinham, num ponto alugado, há mais de 15 anos. Não houve tempo. Quando chegou, Flávio já encontrou tudo em chamas. O prejuízo? R$ 150 mil, estima.

O comerciante pagava R$ 1.600 mensais à família Teles, donos do imóvel há cerca de 30 anos. Para Flávio, o incêndio foi causado pela deterioração da fiação elétrica que, segundo ele, não passava por manutenção desde que ele assumiu a responsabilidade pelo lugar.

"Agora, eles me culpam pelo incêndio, mas quando eu pedia para fazer um reparo, não queriam, não concordavam, não aceitaram abater do preço do aluguel, que nunca atrasei. Nós já tivemos água e luz cortadas porque não pagaram, coisa que eu também nunca deixei de pagar. Era a minha vida ali, a vida dos meus filhos, tudo meu estava lá", disse à reportagem. Flávio, que mora com a família no Jardim Cruzeiro, bairro vizinho, contou que ficou sabendo do fogo por meio de outros comerciantes da região."Viemos imediatamente, mas infelizmente, já estava tudo em chamas. Tudo acabado. Agora é sentar, pensar com calma e tentar entender o que pode ser feito para diminuir o prejuízo. Tenho seguro, mas não sei até que ponto estou coberto", disse, visivelmente nervoso, na manhã desta segunda-feira (24) quando esteve no local para pôr um cadeado e foi impedido pela família Teles.A família acusa Flávio de se negar a sair do imóvel que, de acordo com eles, estava prestes a ser vendido. O comerciante, no entanto, rebate que nunca se negou a deixar o local e que, na verdade, pretendia sair em janeiro, quando terminaria o prazo estabelecido em contrato. O incêndio foi registrado na 3ª Delegacia (Bonfim), que aguarda o resultado dos laudos do Departamento de Polícia Técnica sobre as causas.  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Estragos Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CMBA) afirmou que atuou no incêndio com o apoio de três viaturas de combate a incêndios. O CMBA disse, também que solicitou o apoio da Embasa que, encaminhou um carro-pipa para o local. “O CBMBA enviou uma ambulância para o local até os militares atestarem que não havia feridos”.

O engenheiro da Defesa Civil de Salvador (Codesal), José Carlos Palvin, esteve no local na manhã de hoje e, ao analisar a área afetada pelo fogo - a bomboniere e parte de uma loja de roupas, também no térreo -, concluiu que “não há o risco de colapso”, ou seja, do imóvel desabar. “A estrutura foi completamente destruída [bomboniere], mas não tem risco de cair, então, os donos podem, juntos, viabilizar os reparos que serão necessários”, concluiu. 

A loja que funcionava ao lado do estabelecimento queimado, parte do prédio da família, não foi atingida em cheio. Vizinhos contaram ao CORREIO que a dona teve tempo de retirar tudo de dentro, com a ajuda de populares. Moradora de uma casa ao lado, a aposentada Ana Crisna, 80, disse que não chegou a ouvir barulhos. “Eu achei que era a minha casa, por causa do fedor, mas não. Ainda não tinha anoitecido, tinha muita, muita fumaça”, lembra.

Herança O fogo não chegou a atingir as mais de sete casas construídas nos dois andares acima, incluindo cobertura. De acordo com o aposentado Antônio Teles, 63 anos, e mais velho dos oito herdeiros do edifício, apenas ele ainda mora lá. A intenção, ainda segundo o aposentado, era vender o imóvel, avaliado em R$ 800 mil, diz ele, e dividir o valor entre os cinco irmãos e duas irmãs.“Eu não sei como vai ser agora, porque não sabemos como isso pôde acontecer. Eu não estava aqui e não vi. Por sorte, não atingiu nada em cima, mas é um prejuízo enorme que não sei quem é que vai arcar”, se limitou a dizer o aposentado.O irmão, o técnico em Segurança do Trabalho Ailton Teles, 57, chegou a se desentender com o comerciante Flávio Gomes, a quem acusa de se recusar sair do local. “A gente já tinha pedido o ponto a ele, que disse que não ia sair”, afirmou, pouco antes de impedir o locatário de fechar as portas do lugar, que ainda está tomado pelos rastros do fogo. 

O técnico comentou que espera que o problema seja resolvido e que a polícia descubra as causas do incêndio que, para ele, é uma “tragédia” para a família. “O prédio é uma herança que nossa mãe deixou para a gente, então não tem como não abalar. Não sabemos o que aconteceu, só ficamos sabendo que ele [Flávio] abriu ontem e que tudo aconteceu logo que ele foi embora”, acrescentou.

Filho de Ailton, o vigilante Wiliam Santana, 31, tentava acalmar os ânimos do pai e tios. Ao locatário da família, Wiliam disse que eles não têm a intenção de brigar, mas de “resolver as pendências”. O vigilante comentou com a reportagem que o ponto é valorizado no bairro do Uruguai e até já foi sede do restaurante que a família tinha antes. Agora, para ele, o jeito é esperar que o “tempo traga as respostas”.