Familiares se despendem das vítimas (Foto: Almiro Lopes) |
Moradores levam o corpo das vítimas durante enterro |
A parente de uma das vítimas ainda tenta entender o que aconteceu. Ao falar na situação, ela diz lembrar do momento em que todos saíram correndo por causa do barulho dos tiros. Segundo a jovem, que também manteve o anonimato, os jovens estariam na rua e, quando os policiais chegaram, correram para casa. "Tem que matar porque correu da polícia? Se quando eles [polícia] chegam todo mundo fica apavorado", afirmou.
Para um vizinho, que testemunhou o crime, o jovens 'viraram estatística'. "Agora, três jovens que cresceram juntos foram mortos e nada vai ser feito".
Defesa
Procurada pelo CORREIO, a Polícia Militar da Bahia (PM) informou que os três jovens possuem passagens por tráfico de drogas. Vitor tinha duas passagens por "tráfico e condutas afins". A primeira foi em 2015 e a segunda, em maio de 2017. Já Alisson Caique tinha uma passagem, também por tráfico de drogas, em junho de 2016. O CORREIO não conseguiu, no entanto, verificar se Tiago tinha passagem.
Sobre a ação, a polícia disse que foi até a Rua Maderite porque vizinhos denunciaram tráfico de drogas na região. A PM diz que ao chegar ao local foram recebidos a tiros pelos jovens e houve revide. Eles ainda afirmam que havia mais gente na casa, mas que os outros homens conseguiram fugir.
Com os jovens, a PM diz que apreendeu três revólveres calibre 38, 25 pinos de cocaína, 51 pedras de crack, um pedaço de maconha prensada, uma trouxinha da mesma droga e R$ 265,75 em espécie. A ocorrência já foi registrada na Corregedoria da PM-BA.
A ONG Reaja ou Será Morta, Reaja ou Será Morto publicou nota em solidariedade a morte dos jovens. "Uma equipe de militantes da Reaja, foi no sábado até o local para falar com vizinhos que ouviram os gritos de socorro e clemência dos meninos, assassinados cruelmente por agentes do Estado, policiais lotados na companhia de polícia de Paripe, Polícia Militar do Estado da Bahia", diz a nota.
Relato da mãe
Ao CORREIO, a mãe de Vitor conversou sobre o crime e sobre os últimos momentos com o filho. Veja o relato:
Eu tinha visto Vitinho pela última vez quando fui chamar ele pra almoçar, umas 15h. Ele nem gostava quando eu o chamava, dizendo que já era homem feito. De noite, a polícia chegou, eu desci pra procurar meus filhos, tenho seis. Quando eles [polícia] chegam na rua, as mães descem logo pra ver. Eu cheguei e vi uma viatura, então, não deu pra ir até o local, mas ouvi os tiros e foram muitos, mais de 50. Eu senti no meu coração que estava matando. Quando acabou, cheguei pra uma vizinha, dei o documento dele e mandei ela reconhecer, pois eu já não tinha condições. Eu não esperava enterrar Vitinho. Foi o meu pedaço, mas tenho certeza que ele foi pra glória, porque Deus é justo.
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Criei meus seis filhos fazendo uma faxina aqui e ali, vendendo produtos naturais...Sou uma mulher verdadeira e não gosto de mentiras... Vitinho respondia por tráfico - uma vez foi armado e outra vez que ele estava traficando mesmo, mas ele não andava armado. Agora, eu choro é pela tortura. Passaram uma hora atirando. Precisam parar com isso, porque hoje três mães choram. Se existe direitos humanos, vamos guerrear juntos. Precisamos de ajuda.
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Vitinho era um menino bom. Ele era brincalhão e todo mundo gostava. Vitinho já trabalhou até de carteira assinada, como pintor. Vitinho gostava muito de viver.