'Estamos com medo de sair de casa', diz pai de gerente morto por PM

Policial foi solto um dia após crime no Santo Antônio Além do Carmo

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  • Milena Hildete

Publicado em 3 de janeiro de 2018 às 15:58

- Atualizado há um ano

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Familiares do gerente de loja André Luís Santos Silva, 32 anos, estão com medo de sair de casa. Segundo o pai da vítima, Jorge Silva, o receio aumentou depois que ele recebeu a informação de que policial militar o soldado Sérgio Ricardo Sobral Guerreiro, responsável pela morte do filho, já está solto. 

“Estamos com medo. Eu falei com meu outro filho, que trabalha na região ali do Carmo, pra não ficar de bobeira na rua, pra ter cuidado. Quem garante que o policial não volte e faça de novo? Ainda mais que ele (PM) está andando por aí”, comentou, em conversa com o CORREIO. 

O pai do gerente afirma que vai procurar a Justiça para entender o que aconteceu. "A gente entregou nas mãos de Deus, mas, se precisar, vou falar até com o governador. Meu filho era uma pessoa de bem e não merecia isso", declarou.

Um vizinho da vítima, que preferiu não se identificar, disse ao CORREIO que o clima da rua Rua Direita do Santo Antônio, onde ocorreu o crime, ainda está "pesado". Segundo ele, os moradores estão assustados com a situação. “Todo mundo está falando sobre isso por aqui e as pessoas ainda estão assustadas”, contou. A testemunha disse também que os vizinhos estão surpresos e que alguns estão pensando em fazer um protesto. “Eu soube hoje de tarde e acho que a gente tinha que fazer alguma mobilização, porque não pode deixar passar”, completou.

André foi morto no início da manhã do dia 1º, quando comemorava a festa de Ano-Novo com os amigos, no Santo Antônio. Seu primo, Adriano Santos Santana, 27, estava no mesmo local e também foi atingido. Ele segue internado no Hospital Geral do Estado (HGE), onde foi submetido a cirurgia. De acordo com informações de familiares, ele pode ter a perna amputada.

Segundo testemunhas, o PM teria ficado com ciúmes da ex-mulher, que estaria na festa junto com as vítimas. Por conta disso, o PM teria "jogado o carro" em cima de um grupo de homens. Neste momento, as vítimas começaram a jogar pedras no veículo do PM. "Só jogaram, porque ele (PM) queria colocar o carro em cima de todo mundo", contou uma testemunha. 

Em seguida, o PM saiu do carro com duas armas e disparou contra as vítimas. Câmeras de segurança registraram o momento em que o militar atirou. No vídeo, é possível ver os primos correndo pela Rua Direita do Santo Antônio, próximo à Cruz do Pascoal, e o PM atirando em uma das vítimas - Adriano, que aparece de camisa branca. Nas imagens, Sérgio Ricardo dispara na direção de Adriano, que já está caído no chão, e depois volta e atira novamente.

No mesmo dia do crime, só que à noite, o policial compareceu no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), acompanhado de um advogado. Sérgio Ricardo é lotado no Batalhão de Choque e foi autuado em flagrante, segundo a Polícia Civil. Com ele foi apreendida uma pistola 9mm, que teria sido utilizada no crime.

Em depoimento, o PM disse que houve uma discussão com as vítimas e que estas teriam tentado matá-lo atirando uma pedra contra seu veículo, um EcoSport preto.

Investigadores do DHPP estiveram na casa do militar, onde apreenderam outra arma, uma pistola calibre 380. Tanto o veículo quanto as armas foram encaminhados para o Departamento de Polícia Técnica (DPT), onde passarão por perícia. A ex-mulher do PM, que seria pivô da confusão, além de testemunhas e vítimas do crime já foram ouvidas pela Polícia Civil. Preso por matar gerente de loja, PM já está solto (Foto: Reprodução/Milena Teixeira/CORREIO) Liberdade do PM Sérgio Ricardo vai responder pelos crimes de homicídio e tentativa de homicídio em liberdade. Ele foi solto nesta terça (2), um dia após o crime. A informação foi confirmada ao CORREIO no início da tarde desta quarta (3) pelo Departamento de Comunicação Social (DCS) da Polícia Militar.

De acordo com a nota enviada pelo DCS, “o policial militar responde em liberdade por decisão da Justiça, após audiência de custódia”. Na esfera administrativa, foi instaurado um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), que pode implicar até na exoneração do militar.

O CORREIO procurou o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) para ter acesso ao conteúdo da decisão que libertou o PM, mas o pedido não foi atendido até a publicação desta reportagem. André Luis Santos Silva, 32, foi morto na manhã do dia 1º, após comemorar a virada do ano (Foto: Reprodução)