'Estamos sobrevivendo à base de remédios', lamenta família de artista plástico morto por PMs

Nadinho foi morto em casa no dia 21 de abril, com um tiro nas costas

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  • Da Redação

Publicado em 26 de julho de 2018 às 03:00

- Atualizado há um ano

“Uma pontinha de esperança”. Foi assim que Maraísa Marinho, filha do artista plástico Manoel Arnaldo dos Santos Filho, o Nadinho - morto no dia 21 de abril durante uma ação da Polícia Militar -, definiu o resultado do Inquérito Policial Militar (IPM), divulgado nessa quarta-feira (25) pela corporação. Os soldados Edvaldo Nunes de Almeida, Leandro Santos Xavier e Dinalvo do Santos Paixão foram indiciados pela Corporação por homicídio doloso (quando há intenção de matar).

A família teve uma reunião nessa quarta-feira (25) com a Corregedoria da Polícia Militar no Quartel do Comando Geral da PM, no Largo dos Aflitos. Os quatro filhos de Nadinho e a viúva, Maria das Graças Marinho, estiveram presentes.

Apesar de comemorarem o resultado do inquérito da Polícia Militar, os familiares disseram que não estão satisfeitos. “Nós não vamos parar. Eles cometeram o crime e vão pagar. Nós e a população inteira queremos que a justiça seja feita. Esses homens também têm que pagar”, afirmou a filha de Nadinho, Maraísa Marinho. A conclusão do IPM é igual ao resultado do inquérito instaurado pela Polícia Civil - nele, os três PMs também foram indiciados por homicídio doloso.

Ela conta que, com a morte de Nadinho, a família teve que procurar ajuda psiquiátrica. “Nós estamos sobrevivendo com remédio. Hoje em dia é mais fácil, por conta dos remédios, mas já foi muito mais difícil. Nós não estamos consolados com o resultado, claro que nos dá uma pontinha de esperança, mas eles (os policiais) cometeram um crime e têm que ser responsabilizados”, disse Maraísa, que lamentou que estava há três meses sem ver o pai na época do ocorrido. 

Erros A família conta que os erros da Polícia Militar começaram com a troca do endereço em que uma ocorrência de assalto teria ocorrido. “O assalto era na 2ª travessa 31 de março, número 15. O meu pai morava na Travessa 31 de março, número 11. Então já começou errado desde aí. Eles tratam de vidas. Não podem errar coisas assim”, lamentou a filha pedagoga, Márcia Cristina Marinho. 

A viúva de Nadinho, Maria das Graças, lamentou a situação e como a família ficou após o ocorrido. “Nós estamos vivendo à base de remédio e eles estão aí, normalmente, trabalhando. Vai dar em qual punição? Eles têm que pagar”, criticou. Os soldados foram afastados das ruas em Candeias e atuam em atividades administrativas até a conclusão do processo.

Covardia Para a família, a tentativa de criminalização do pai, com a presença da arma, foi uma “covardia”. “Nós queremos justiça. Eles tentaram colocar uma arma na mão do meu pai para acobertar o que eles fizeram, para ter uma pena mais branda. Mas isso é injusto. Meu pai nunca teve uma arma. Ele nem deixava a gente ter arma de brinquedo, imagina ter arma de verdade. A gente briga para inocentar um inocente”, lastimou Maraísa.

A existência da arma de fogo atribuída a Nadinho na cena do crime, por exemplo, é uma dúvidas que a PM não conseguiu explicar após a finalização do IPM.

O inquérito militar foi instaurado no dia 21 de abril e concluído no dia 20 de junho. O documento foi remetido, no dia 25 de junho à 8ª Promotoria Criminal de Justiça Militar, que pode oferecer ou não a denúncia à Justiça. O caso foi, inicialmente, registrado na Corregedoria da Polícia Militar.

Além do inquérito policial, a Polícia Militar instaurou um Procedimento Administrativo Disciplinar (PAD), que irá apurar a conduta dos militares, cujo prazo de conclusão é de 60 dias, prorrogáveis por mais 60. A maior pena que pode ser aplicada, decorrente do processo, é a expulsão dos soldados. Com o procedimento, os policiais podem até ser exonerados.

Relembre o caso Nadinho morreu após ser baleado durante uma ação da Polícia Militar dentro de seu ateliê, na noite de 21 de abril, um sábado, em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Segundo os familiares da vítima, os PMs entraram no imóvel e já chegaram atirando no artista plástico, que estaria desarmado e desenhando.

Em nota, a PM afirmou, inicialmente, que a morte aconteceu no bairro Santo Antônio, por volta das 20h, após equipe de militares da Operação Força Tática de Candeias receberem um chamado através do Centro Integrado de Comunicação (Cicom), informando que um homem havia invadido uma residência no bairro.

A PM informou que duas equipes estiveram envolvidas nessa ocorrência, cada uma composta por três policiais militares. "Entretanto, apenas uma estava no momento da abordagem do imóvel, a outra equipe chegou em apoio momentos depois", destacou a corporação.

"Ao chegarem no endereço informado, as equipes policiais bateram à porta do imóvel e identificaram-se como policiais militares, contudo o homem que apareceu em uma das janelas recepcionou os policiais empunhando e apontando uma arma de fogo contra os integrantes das guarnições e, segundo o relato dos próprios policiais, teria acionado duas vezes a tecla do gatilho da arma, mas a munição teria falhado. Frente à iminente ameaça, os policiais alvejaram o homem com dois disparos, um atingiu o braço e outro, o tórax", afirmou a PM, na nota divulgada na ocasião do crime.  

A família negou que isso tenha ocorrido. "Eles entraram na casa e plantaram uma arma. Ainda disseram que meu tio tinha pólvora na mão, mas ele não atirou. Era um homem de bem que não tinha nenhum envolvimento. Ele morava nessa casa desde pequeno", contou um sobrinho.