Estudantes do Instituto de Cegos da Bahia vivem experiência sensorial em mostra de esculturas

A exposição é do artista plástico soteropolitano Israel Kislansky

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  • Da Redação

Publicado em 20 de maio de 2022 às 06:00

. Crédito: Paula Fróes/CORREIO

Para quem não percebe o mundo com o olhar, é o toque das mãos que garante a formação de imagens na consciência. "Incrível e emocionante. Todas as formas estão gravadas na minha memória, mas gostei mais da que tem brilho, porque  sou uma pessoa que adora brilho”, descreveu Manu Dourado, 14, ao sair de uma exposição de escultura. 

Manu é cega desde que nasceu, mas o diagnóstico só veio aos 3 anos de idade, pois os médicos atestavam que a menina enxergava perfeitamente. Seu problema não é nos olhos, é no nervo que leva a mensagem da visão para o cérebro. Caso raro, que a levou até a China para um tratamento experimental que não deu certo. 

Antes, sua relação com o tato e as texturas não era amigável. Foi só depois que ela passou a ter aulas no Instituto de Cegos da Bahia (ICB) que isso mudou. Nesta quinta-feira (19), Manu e outros cinco estudantes do ICB, vivenciaram uma experiência sensorial na exposição ‘As Bacantes’, do artista plástico soteropolitano Israel Kislansky, no Palacete das Artes.

Momentos como esse fazem mais do que amplificar a percepção do que está ao redor, diz Consuelo Alban, do ICB, que acompanhou a visita: “Na falta de algum sentido os outros são aguçados, então essa experiência com a arte e com a cultura é importantíssima para o desenvolvimento dos sentidos, da autoestima e da autonomia”, explicou a assessora de captação de recursos, marketing e comunicação.  

O projeto que garantiu o momento é  iniciativa de Kislansky. Com curadoria de Heloisa Helena Costa, a mostra exibe 52 esculturas – 35 em bronze, 15 em cerâmica e duas em gesso -; além de 23 pinturas sobre papel, realizadas especialmente para a exposição, que apresenta as  formas femininas. 

Além da visita pela exposição, que foi guiada pelo artista, os jovens, adultos e crianças do ICB participaram também de uma vivência com a produção de esculturas em cerâmica e fundição artística, técnicas utilizadas pelo escultor. Kislansky e os estudantes do ICB no Palacete das Artes (Foto: Paula Fróes/CORREIO) Inspirado pelo que percebeu ao tocar as esculturas, Pedro Augusto Santana, 49, produziu, em argila, um objeto que remete às formas da mostra de Kislansky. A perda do olho direito e de 90% da visão do olho esquerdo desencadeou nele um quadro de depressão grave, que o levou a buscar o apoio do Instituto de Cegos da Bahia.

Em sua vida, o ICB é um lugar de motivação. Foi a primeira vez dele em uma exposição de arte e trabalhando com argila. Para ele, o momento gerou um novo estímulo. “Muito bom, porque a gente já tira as situações difíceis da mente. Isso aqui já é um alívio e um estímulo, na verdade”, contou.

A experiência sensorial desperta sensações que vão além do que foi planejado pelo artista, diz Kislansky. “A sensibilidade que eles têm acaba despertando percepções que mesmo a gente como escultor não tem. Então é bem rico. É bonito ver outro olhar sobre aquilo, abrindo outro prisma sobre a obra. Essa é uma percepção bem significativa”, afirma.

À noite, Kislansky ainda promoveu mais uma edição do Caleidoscópio. O projeto foi criado na pandemia para arrecadar fundos para instituições filantrópicas. A cada live, um grupo de artistas é convidado para conversas informais sobre assuntos relacionados à arte e o valor arrecadado com as obras anunciadas é destinado à instituição escolhida. 

Desta vez, a doação será feita para o Instituto de Cegos da Bahia, oriundo da venda de gravuras de Kislansky. Quem também quiser ajudar o Instituto, pode doar o valor que puder através do pix (71) 988173193 ou se tornar doador frequente acessando o site institutodecegosdabahia.org.br.  

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo