Estudantes se queixam de insegurança em escadarias da Ufba

Para comunidade, equipamentos são alguns dos mais perigosos da universidade

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  • Da Redação

Publicado em 13 de julho de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO

A insegurança dentro - e fora - dos muros da Universidade Federal da Bahia (Ufba) não é novidade para os alunos da instituição. Episódios de assaltos e assédios são frequentes e até estupros já foram registrados dentro dos campi e nos arredores. Na última segunda-feira (9), uma enfermeira foi sequestrada no estacionamento do Hospital Universitário Professor Edgard Santos, no Canela, que é administrado pela Ufba.

Das dez pessoas ouvidas nesta quinta-feira (12) pela reportagem do CORREIO,  em um intervalo de 30 minutos, apenas uma afirmou se sentir segura dentro da Ufba. Todas citam as escadarias como alguns dos locais mais perigosos, afirmam conhecer uma ou mais pessoas assaltadas por lá e, claro, temem ser a próxima vítima.

As estruturas são as responsáveis por interligar os campi da Ufba, que estão espalhados por diversos bairros em Salvador. As escadarias da Escola Politécnica e do Instituto de Geociências (Igeo), por exemplo, ligam o campus de Ondina a institutos da Federação. O problema é que elas são desertas, cercadas de vegetação, onde agressores e assaltantes podem facilmente se esconder para depois atacar.

Apesar de os riscos serem conhecidos, a praticidade no deslocamento entre as unidades e o horário apertado entre uma disciplina e outra fazem com que os estudantes continuem recorrendo às escadas. Para não entrar para a estatística, eles criam estratégias para fugir de assaltos.

WhatsApp O estudante de Geologia Diego Simas, 25 anos, conta que evita usar as escadas após as 16h. “São locais muito desertos. Mesmo tendo o Buzufba (ônibus institucional que também liga os campi), não há intervalo entre as aulas e a gente tem que transitar entre um campus e outro no menor tempo possível”, explica. A alternativa, segundo ele, é sair mais cedo da aula, além de andar em grupo.

Combinar a saída é comum. Muitos alunos têm grupos do WhatsApp só para isso. É o caso de Jasmine Santiago, 17, que cursa Arquitetura. “Eu volto para casa entre 18h30 e 19h. Então, a gente combina de descer juntos porque é muito perigoso. Além de esconder o celular, a gente evita pegar qualquer coisa nas escadas”, diz.  (Foto: Betto Jr./CORREIO) Aluna de Nutrição, Aline Barros, 33, chega a sair mais cedo das aulas por conta do medo de passar pela escadaria do Instituto de Ciências da Saúde (ICS), no Canela: “Eu tento descer antes de anoitecer. Peço liberação mais cedo e a maioria dos professores concede. Eles são sensíveis a essa questão”. Para ela, além das escadas, o caminho entre o Hospital Universitário e o ICS é um dos piores na Ufba.

Mas o problema não se resume ao anoitecer. A estudante de Farmácia Marina Saraiva, 23, foi assaltada às 6h saindo do campus de Saúde. “Era cedo e estava chovendo. Mesmo assim, me assaltaram e levaram o meu celular”, diz, já subindo o Igeo. 

Busca de melhorias O Diretório Central dos Estudantes da Ufba (DCE-Ufba), que está em troca de gestão, passa os pleitos ao reitor João Carlos Salles em reuniões. A estudante de História Rafaela Rios, integrante do DCE, explica que a área de segurança recebeu um esforço especial do Diretório, mas alguns pleitos ainda aguardam por solução. Um deles é a criação de uma guarda universitária.

“A Ufba possui uma empresa universitária que tem como papel dar segurança e zelar pelo patrimônio. Ela só cuida de prédios. A guarda teria que ter autonomia para intervir em assaltos, assédios. Seria uma alternativa à Polícia Militar”, defende.

Uma ação já realizada foi a capacitação de técnicos, seguranças e servidores da Ufba para lidar com assédio e estupro: “Por mais que essa segurança não seja a que a gente espera, que ela seja minimamente mais capacitada”. 

Mais iluminação também está entre os pleitos. “As escadas que fazem as ligações são mal iluminadas. A gente tem um debate sério com a administração”, relata.

Corte de verba O Sindicato dos Trabalhadores Técnico-Administrativos em Educação das Universidades Públicas Federais no Estado da Bahia (Assufba) disse, em nota,  que, apesar dos esforços, há dificuldades na implementação das ações propostas por conta do corte das verbas destinadas a universidades públicas.

“A crise econômica e a retirada da educação pública das prioridades do governo têm forçado as universidades a reduzir seus quadros de colaboradores terceirizados, que são os que geralmente atuam na área de segurança nas instituições públicas, sem contar situação ainda mais grave que é a falta de concursos públicos para o quadro efetivo de servidores das universidades”, disse a Assufba, em nota.

A Prefeitura do Campus (PCU), a Coordenação de Gestão de Segurança (Coseg) e a assessoria de comunicação da Ufba foram procuradas para falar sobre as escadarias, o número de assaltos, a orientação para alunos, além da verba destinada à segurança. A Ufba não respondeu  até o fechamento da edição.

O Ministério da Educação (MEC) disse que o orçamento global para a Ufba em 2018 foi de R$ 1,5 bilhão, mas que “a destinação do recurso para segurança é de autonomia das próprias instituições”.

No Plano de Desenvolvimento Institucional da Ufba 2018-2022 é estabelecido como meta até 2022  “consolidar uma estrutura voltada para o planejamento operacional e monitoramento dos indicadores de segurança das pessoas nos ambientes da universidade”. (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) PF só atua em crimes contra a União A orientação do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal da Bahia (Ufba) é que, em caso de assalto ou outro tipo de agressão, o aluno registre o caso numa delegacia e na Ouvidoria da universidade. Mas o CORREIO entrou em contato com a Polícia Federal, a Polícia Militar, a Polícia Civil e a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) e nenhuma das instituições possui dados sobre a segurança ao redor e dentro dos campi da Ufba.

Pelo fato de a  Ufba ser um órgão federal, a segurança da universidade é realizada de forma distinta de outros locais. Isso porque a jurisdição passa a ser de institutos federais, e não estaduais ou municipais. Dessa forma, a Polícia Militar (PM) apenas atua nos arredores do instituto, através da Ronda Universitária, que “promove patrulhamento diário no entorno dos campi da Ufba, nos bairros da Federação e Ondina”.

“A atividade complementa o trabalho ostensivo desempenhado pela 41ª (Federação) e 12ª  (Rio Vermelho) Companhias Independentes da Polícia Militar (CIPMs)”, explicou a SSP-BA, em nota.

O aluno deve registrar os assaltos na Polícia Civil. A 7ª Delegacia  (Rio Vermelho) e a 14ª Delegacia  (Barra) são as responsáveis pela investigação do local. A Polícia Federal realiza a investigação de crimes cometidos em detrimento à União. “Não cabe à Polícia Federal a atividade de policiamento preventivo/ostensivo, mesmo em se tratando de área de órgão federal”, explicou a PF, em nota ao CORREIO.

Dentro da universidade não há patrulhamento. Quem age são os seguranças institucionais, que apenas realizam a proteção do patrimônio da Ufba, e não da comunidade universitária, formada por cerca de 55 mil pessoas, segundo a Ufba - dentre estudantes de graduação e pós presencial e a distância, docentes, servidores técnico-administrativos e terceirizados.

Como não foi informado pelas polícias um número de ocorrências, o único dado disponível sobre violência é o registro de sete casos no site Ufba Segura: Registro de Ocorrências, da Coordenação de Segurança (Coseg). 

No site, sete ocorrências foram registradas nos últimos dois meses. No dia 13 de junho, houve um assédio em frente à Biblioteca Central, em Ondina. No dia 15, um registro na categoria “outros”. No dia 19 de junho, um roubo próximo ao Igeo. No dia 20, um assédio atrás do prédio de Letras.

Na quarta-feira da semana passada, dia 4, o site registra um roubo na Faculdade de Direito. Na última segunda (9), um assédio na Reitoria e, na última quarta (11), um caso na categoria “outros” foi registrado próximo ao ponto do Buzufba de Ondina.