'Eu sempre tive muito medo', diz homem que perdeu filha e neto em naufrágio

O autônomo Sérgio Lúcio Sales Neto, 47 anos, reconheceu os corpos da filha e neto

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  • Tailane Muniz

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 13:41

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Desde que a filha, a administradora Taís Medeiros Ramos Sales, 32 anos, se mudou para a Ilha de Misericórdia, no município de Itaparica, o autônomo Sérgio Lúcio Sales Neto, 47, tinha uma preocupação: a travessia de lancha do local até Salvador.

O que Sérgio mais temia aconteceu na manhã desta quinta-feira (24), quando a embarcação Cavalo Marinho I, que trazia Taís e o filho, o garotinho Lucas Medeiros Leão, 2, naufragou na Baía de Todos os Santos, cerca de dez minutos após deixar o terminal de Mar Grande. 

Taís e Lucas, que viajavam para uma consulta médica da criança na capital, estão entre os 18 mortos na tragédia. "O medo da travessia sempre foi meu", disse o pai ao CORREIO. Taís foi encontrada no mar e trazida, ainda ontem, para o Terminal Náutico de Salvador. Já Lucas chegou a ser socorrido para a UPA de Mar Grande, mas também não resistiu.

"Ela nunca demonstrou qualquer tipo de receio. Mas quando eu fiz a travessia, fiz duas vezes, fiquei horrorizado. Então meu medo era muito grande", lamenta ele, acrescentando que a filha vinha pouco a Salvador, apenas para ver a família ou ir ao médico.  Familiares liberam corpos das vítimas de naufrágio (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Luiz se emocionou em diversos momentos durante conversa com o CORREIO, na manhã desta sexta-feira (25), quando esteve no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR) para liberar os corpos da filha e neto. "Eu sou suspeito para falar dela. Uma moça tranquila", lembra.

Conforme o pai, Taís, que se mudou para a ilha na adolescência, era mãe apenas de Lucas. "É uma tragédia muito grande. Eu não sei como as pessoas confiavam em viajar ali. Se continuar assim, coisas como essas podem voltar a acontecer", salienta.

Os corpos de Taís e Lucas vão ser enterrados na tarde desta sexta-feira, no Cemitério Jardim da Saudade, em Salvador, às 14h e 14h30, respectivamente.

Outras famílias Em frente à sala de liberação dos corpos, os familiares da doméstica Edilene Oliveira dos Santos, 43, aguardavam para reconhecer seu corpo. Cunhado da vítima, o zelador Luiz Antônio Santos, 43, contou ao CORREIO que a doméstica deveria ter vindo para Salvador nesta sexta-feira (25), mas mudou de ideia de última hora.  Desespero após reconhecimento de corpos (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Edilene morava na Ilha de Itaparica e vinha à capital três vezes por semana. "Infelizmente, ela resolveu antecipar e acabou nessa tragédia. A gente atravessa há muito tempo. Mas acho que ontem, por causa do temporal, não tinha condições de atravessa, eles deviam ter visto isso", pontuou. 

"Ela trabalhava no mesmo prédio que eu. Uma fatalidade", contou. Conforme o zelador, que é casado com a irmã de Edilene, a doméstica deixou dois filhos, um de 19 e outro de 28 anos.

Além de Luiz, a irmã, a mãe e o ex-marido de Edilene também estiveram no IML esta manhã. O corpo da doméstica foi levado para Itaparica, onde vai ser velado pelos familiares.

Os familiares de Alessandra Bonfim dos Santos, 36, também estiveram no IML. Bastante abalada, uma irmã da vítima lamentava pelos três sobrinhos, filhos de Alessandra, que perderam a mãe. "Eu não penso em mim, eu só penso nas crianças. Ela deixou os três", repetia ela, que não quis se identificar. 

Moradora de Itaparica, o corpo de Alessandra foi levado para o município, onde ela nasceu e morava.