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Da Redação
Publicado em 2 de agosto de 2019 às 16:32
- Atualizado há 2 anos
Estados Unidos e Rússia encerraram nesta sexta-feira, 2, o tratado de desarmamento nuclear INF, assinado no final da Guerra Fria, em uma decisão de faz ressurgir o temor de uma corrida armamentista entre as potencias mundiais. O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês) de 1987 limitou o uso de mísseis de médio alcance (de 500 km a 5 500 km), tanto convencionais quanto nucleares. Entre outras coisas, o acordo permitiu a eliminação dos projéteis balísticos SS20 russos e Pershing americanos espalhados pela Europa. >
O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado durante um fórum regional em Bangcoc, na Tailândia, minutos depois de a Rússia declarar o fim do tratado. As duas partes indicaram durante meses sua intenção de retirar-se do tratado, trocando acusações de romper os termos do pacto.>
"A Rússia é a única responsável pelo fim do tratado", disse Pompeo em um comunicado ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean). >
"O descumprimento russo do tratado ameaça interesses supremos dos EUA, e o desenvolvimento e instalação russos de um sistema de mísseis que viola o tratado representam uma ameaça direta aos Estados Unidos e nossos aliados e parceiros", disse Pompeo.>
Alguns minutos antes, o ministro russo de Relações Exteriores havia afirmado em Moscou que o tratado havia terminado "por iniciativa dos Estados Unidos". Já o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, afirmou que seu país propôs aos Estados Unidos uma moratória no uso dos mísseis nucleares de alcance intermediário apesar do fim do INF.>
"Apresentamos aos Estados Unidos e outros membros da Otan a proposta de considerar a possibilidade de anunciar uma moratória no deslocamento de armas de alcance intermediário", afirmou Riabkov em uma entrevista à agência russa TASS.>
"Seria uma moratória comparável a que foi anunciada por Vladimir Putin afirmando que, se os Estados Unidos não instalassem suas armas em certas regiões, a Rússia também se absteria de fazê-lo", disse.>
Washington acusa a Rússia durante anos de desenvolver um novo tipo de míssil, o Novator 9M729 (conhecido pela Organização do Tratado do Atlântico Norte - Otan - como SSC-8), alegando que o armamento violava o tratado. As acusações foram apoiadas Otan. O míssil tem um alcance de 1.500 km, segundo a Organização, mas Moscou alega que o equipamento só é capaz de percorrer 480 km. >
Nesta sexta-feira, a aliança atlântica disse rechaçar uma eventual nova "corrida armamentista". "Não queremos uma nova corrida armamentista, mas garantiremos que nossa (força de) dissuasão seja crível" ante o novo sistema de mísseis russo, anunciou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.>
"A Rússia fracassou em voltar a cumprir totalmente e de forma verificada (o acordo) através da destruição de seu sistema de mísseis, disse Pompeo, em referência ao míssil terra-ar 9M729.>
No início do ano, a Casa Branca abriu um período de transição de seis meses para suspender sua participação no INF, que terminou nesta sexta. Logo depois, Moscou começou seu processo de retirada, e no mês passado o presidente russo, Vladimir Putin, suspendeu formalmente sua participação.>
Nova Era>
Assinado pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o tratado INF era considerado a pedra angular da arquitetura global do controle de armas.>
Para os EUA, o pacto havia dado a outros países - principalmente a China - carta branca para desenvolver seus próprios mísseis de grande alcance. Washington também acusou a Rússia de reiteradas violações.>
As tensões entre Pequim e Washington - sobre disputas comerciais e marítimas - foram o centro das reuniões da Asean em Bangcoc nesta semana, na qual Pompeo acelerou a estratégia "Indo-Pacífica" dos EUA para se contrapor ao poder econômico e militar da China na Ásia.>
Pompeo garantiu nesta sexta-feira que os EUA "queriam uma nova era de controle de armas que fosse além dos tratados bilaterias do passado" e pediu a Pequim que se juntasse às discussões.>
"Os EUA convidam Rússia e China a se unirem nesta oportunidade para entregar resultados de segurança reais para nossas nações e ao mundo inteiro", declarou.>
O INF era visto como um dos acordos-chave sobre armas entre Moscou e Washington. O outro é o novo tratado START, que mantém os arsenais nucleares de ambos países muito abaixo dos níveis da Guerra Fria.>
Este pacto expira em 2021 e parece haver pouca vontade política por parte dos dois países para renová-lo. Além disso, a China já rechaçou o convite americano para fazer parte do tratado no futuro. (Com agências internacionais).>