Ex-namorada denuncia cantor de rap por agressão; vídeo mostra ameaça com faca

Vítima, que prestou queixa na Deam de Brotas, relatou murros e chineladas; rapper nega

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  • Tailane Muniz

Publicado em 10 de janeiro de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

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MC Don Hadji aparece em vídeo com faca na mão (Foto: Instagram/Reprodução) O cantor de rap Hebert Marcos Santana Dias, o MC Hadji, 32 anos, foi denunciado pela ex-namorada, uma estudante de 20 anos, por agressão e ameaça. Em ocorrência registrada no dia 16 de dezembro, na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam), em Brotas, a vítima narrou dois episódios de violência.

Ela chegou a gravar um deles em vídeo [ver abaixo]. As imagens, as quais o CORREIO teve acesso, mostram o rapper segurando uma faca de cozinha, enquanto a vítima está do outro lado, tentando manter a porta de um cômodo fechada. 

A estudante afirma que o vídeo foi feito na casa dela no dia 16 de novembro. Ela também relatou, em depoimento na delegacia, que Hadji a agrediu com murro e chineladas no dia 16 de dezembro, um mês depois. Segundo a ocorrência, a cena foi filmada depois de uma discussão entre o casal. 

Na gravação, é possível ouvir a vítima respirando de modo ofegante, enquanto pede que o rapaz mostre a faca. "Mostra que você está com a faca, me ameaçando, mostre", diz, tentando filmar o então namorado. 

Hadji, em resposta, no vídeo, questiona quanto à existência da faca: "O quê, o quê? Pelo amor de Deus, me dá a chave", afirma o MC, que tem o rosto filmado na gravação de 33 segundos. 

Procurada pelo CORREIO, a jovem disse que não ia dar declarações à imprensa para "evitar mais exposição". Questionada sobre o que teria motivado as agressões relatadas por ela à polícia, se limitou a dizer que o caso está sob o acompanhamento do advogado da família.

Por meio da assessoria, a Polícia Civil afirmou que o rapper é suspeito de ter agredido a ex. Segundo a polícia, após ser ouvida, a vítima recebeu uma guia de requisição para que fosse realizado um exame de corpo de delito. 

O outro lado A reportagem também entrou em contato com Hadji, que aceitou conversar. Por telefone, o MC negou todas as acusações e disse que não tem "o perfil de um homem agressivo" e, ainda, que está sendo vítima de uma "armação" da ex-namorada, a quem se referiu como "uma pessoa descontrolada".

Segundo o músico, a ex-companheira trabalhava como sua produtora e não aceitou o fim do relacionamento."Fiquei quatro meses com ela, mas as pessoas sabem é uma menina louca, fez isso porque voltei com minha ex, com quem estou há oito anos. Tenho como provar que não fiz nada disso. Não sou uma pessoa ciumenta e agressiva. Nunca fui", disse Hadji ao CORREIO.Uma fonte ligada ao então casal afirmou  ao CORREIO, no entanto, que o rapper mantinha as duas relações, simultaneamente. Sem se identificar, a pessoa afirmou à reportagem que Hadji "era querido pelos familiares da ex e costumava frequentar a casa dela" e, ainda, que a vítima mandou o vídeo apenas para pessoas próximas, após descobrir que era traída.

"Só que é aquela coisa, uma pessoa manda para a outra [o vídeo], que manda para a outra. Ele mesmo usou o Instagram pra falar que ela inventou tudo, chamou de louca e postou fotos dela, expôs a menina sendo que ele era o errado. Ficava com as duas e surtou quando ela descobriu tudo", acrescentou.

Quando questionado sobre a gravação em que aparece com uma faca, Hebert afirmou que a imagem foi "armada" pela ex. "Ela deixou o celular no banheiro, já em modo de vídeo. Eu tava no corredor da casa dela, que veio com uma faca pra cima. Só fiz tomar [a faca]. Depois ela pegou meu celular e correu pro banheiro. A abertura que tinha na porta foi do meu pé, se eu quisesse, eu teria metido o braço", se defendeu.E completou: "Eu não encostei meu dedo nela, não há nada que comprove isso. Eu estava com a faca porque ela calculou tudo. Ela manipulou tudo. Eu mal conseguia continuar namorando com ela. Depois do vídeo, voltamos porque ela usou isso pra me ameaçar. Eu expus tudo [na internet] pra me defender".  Don Hadji é suspeito de agredir ex-namorada (Foto: Facebook/Reprodução) Quanto ao murro que a vítima alegou ter tomado do rapaz, um mês depois que o casal reatou, Hadji disse que o que aconteceu foi uma discussão.

"Estávamos na Avenida Paralela e ela disse pra eu descer do carro. Quando falei que não ia, começou a dizer que ia matar nós dois e tentou jogar o carro de um viaduto. Ela ficou machucada por bateu a cabeça na janela do motorista", afirmou, em referência a duas imagens em que a jovem aparece com o supercílio direito ferido.

Para preservar a identidade da vítima, o CORREIO não vai divulgar as fotos - que chegaram a ser exibidas por amigas da jovem nas redes sociais.

Segundo amigos, o casal costumava postar fotos e vídeos, acompanhados de declarações, em seus perfis nas redes sociais. Eles também eram constantemente vistos juntos em eventos da cena soteropolitana do rap. 

Uma outra pessoa, que também conhecia o relacionamento dos dois, disse que tudo começou quando a estudante descobriu que o músico, na verdade, já tinha um relacionamento sério com outra mulher."A mulher dele mandou mensagem pra ela [ex agredida] e foi quando aconteceu o problema do vídeo. Mas depois disso, ele pediu desculpas, negou, e ela voltou. Depois teve a briga no carro", completou a fonte.Em contato com a reportagem, uma jovem afirmou ter visto Hebert expor a situação em seu perfil no Instagram.

"Ele postou muitas coisas. Fotos, vídeos, coisas escritas por ela. O que eu acho é que nada justifica a agressão, a faca", comentou, acrescentando que o rapper também publicou a foto de um boletim de ocorrência contra a ex. No registro, feito por MC Hadji na 9ª Delegacia (Boca do Rio) no dia 19 de dezembro, ele alegou ter sofrido "agressões físicas, com escorições nos dois braços".  

Cerberus e novo EP Hebert Marcos, o Don Hadji, começou a carreira como backing vocal. Cria do bairro de Pernambués, região periférica de Salvador, o músico tem uma carreira de 19 anos.

Em setembro do ano passado, quando estava prestes a lançar o projeto Cerberus, em parceria com o também rapper Clóvis de Oliveira Santos Júnior, o Dark MC - com quem chegou a gravar uma participação sobre rap no programa Profissão Repórter, da TV Globo -, o CORREIO divulgou a denúncia de agressão da mãe da então namorada de Dark, uma adolescente de 16 anos.

Na época, Dark negou à reportagem as agressões às duas mulheres, que chegaram a solicitar à Justiça uma medida protetiva. Dias depois, procurado pelo Profissão Repórter, no entanto, admitiu que bateu na menina. Amigos, Hadji e Dark não chegaram a lançar Cerberus (Foto: Reprodução) "Apenas revidei, de forma desproporcional, uma agressão que sofri", afirmou Dark, na época, em rede nacional.

Após repercussão negativa nas redes sociais, o rapper teve uma série de shows cancelados - alguns deles informados ao CORREIO via e-mail, por suas respectivas produções. 

Não se sabe em que circunstâncias chegou ao fim o Cerberus, que sequer foi lançado. Segundo afirmou Hadji, ele e Dark são "amigos próximos"."Aconteceu com Dark, que é uma pessoa que minha ex gosta muito, então ela viu de perto. Agora, por capricho, quer que aconteça comigo. Eu sou amigo dele, mas nunca apoiei esse tipo de conduta, a cena sabe. Eu sou pacífico".No novo EP, o projeto solo intitulado RezaLenda, com lançamento marcado para a próxima segunda-feira (14), Don Hadji conta com participação do cantor Edcity, ex-fantasmão, e também de Dark MC.

O CORREIO procurou Edcity, que confirmou a parceria musical, mas disse que não tinha conhecimento da denúncia feita pela ex-namorada de Hadji."Se há um vídeo onde ele segura uma faca, isso é estranho. Sempre aparentou ser tranquilo, alto astral, com pensamentos positivos sobre tudo", disse o ex-Fantasmão.Ainda segundo Edcity, o MC e ele se aproximaram durante um encontro em uma barbearia. "Rolou a química do som, mas isso faz pouco tempo. Tem menos de um ano que conheço ele, mas é um cara que gosto", arescentou o cantor.

A ex-namorada de Hadji vai ser novamente ouvida na Deam em fevereiro, quando será realizada audiência preliminar, sem a presença do suspeito. Já o rapper, só será intimado após o resultado do laudo do corpo de delito - que fica pronto em até 60 dias, a partir da data de realização.

Ele é intimado a prestar depoimento ainda que a vítima não retorne para prosseguir com a queixa, de acordo com a polícia. A pasta afirmou que depois de ouvir as duas partes, a delegada responsável encaminha o caso à Justiça.  25 queixas de agressão à mulher por dia Em apenas uma semana, 175 mulheres bateram às portas de duas delegacias de Salvador para denunciar um tipo de crime: agressão. Os registros foram feitos na Deam de Brotas,108, e na Deam de Periperi , 67, e apontam para uma média assustadora:  já são  25 casos por dia em 2019.

Segundo a Polícia Civil da Bahia, cerca de 70% das denúncias são encaminhadas à Justiça - ou seja, viram processo. Entre as denúncias feitas este ano, pelo menos duas foram contra o DJ João René Espinheira Moreira, 33 anos, conhecido em Salvador como DJ John Oliver.

Ele foi apontado por duas vítimas como o autor de agressões ocorridas entre o dia 30 de dezembro de 2018 e 5 de janeiro deste ano. 

De acordo com a promotora de Justiça Márcia Teixeira, coordenadora do Centro de Apoio Operacional dos Direitos Humanos do Ministério Público da Bahia (MP-BA), a vítima costuma não acreditar que aquela agressão poderá se repetir.

Segundo ela, “a maioria dos feminicídios envolve mulheres que nunca prestaram queixa dos agressores”.“Por isso é tão importante registrar a ocorrência, fazer a denúncia, e levar o caso à delegacia, à Defensoria Pública ou ao Ministério Público”, reforçou Márcia.Feminicídios O medo que uma agressão física se torne cade vez mais grave tem sentido. De acordo com dados da Polícia Civil da Bahia, o número de feminicídios registrados no ano passado, em toda a Bahia - 70 -, foi 6% maior do que os casos registrados em 2017, quando houve 66 crimes do tipo.

O caso mais recente aconteceu em Salvador, quando a atendente Dara dos Santos Cavalcante, 22, foi morta por um vizinho e enterrada nas dunas do bairro de Itapuã, no dia 31 de dezembro.

Ainda de acordo com a promotora, a comunicação da agressão pode levar à concessão de uma medida protetiva, que impede o agressor de entrar em contato com a vítima.

“Um fator que chama a atenção é que a maioria das mulheres mortas não tinha essa medida, essa proteção”, afirmou Márcia Teixeira.

Veja onde buscar ajuda: Creas  Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Tel: 3115-1568 (coordenação estadual) e 3176-4754 (coordenação municipal)

Centro de Referência Loreta Valadares  Promove atenção à mulher em situação violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Praça Almirante Coelho Neto, nº 1 – Barris. Tel: 3235-4268

Deam Brotas  Rua Padre José Filgueiras – Engenho Velho de Brotas. Tel: 3116-7000

Deam Periperi  Rua Doutor José de Almeida, s/n – Periperi. Tel: 3117-8217

Disque Denúncia  Disque 180

Fundação Cidade Mãe  Presta assistência a crianças em situação de risco. Rua Prof. Aloísio de Carvalho –  Engenho Velho de Brotas

Gedem/MP-BA  Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência. Avenida Joana Angélica, nº 1.312, sala 309 - Nazaré. Tels: 3103-6407/6406/6424