Existe, de fato, uma idade humana para seu cachorro? Cãogaceiro fala dos cuidados com cães idosos

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  • Da Redação

Publicado em 17 de novembro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Lampião começa a entrar na fase idosa: cuidados redobrados (Foto: Renato Santana Santos / CORREIO) Espiem só a pelagem branca do meu focinho. Além de ser um charme, esse é o primeiro sinal de que tô ficando coroa. Um coroa irresistível, é verdade, mas um coroa! Como sou vira-lata resgatado das ruas, não se sabe exatamente que idade tenho. Estima-se uns oito anos. Se para o ser humano essa é a idade em que a gurizada aprende a ler e escrever, para a espécie canina esse é o início da fase geriátrica. Mas, nesse período da nossa vida curta, é possível, sim, ter saúde suficiente para buscar muita bolinha, nadar e, de vez em quando, até comer uns petiscos.

Tem uma galera que gosta de fazer comparação das idades dos cachorros com as idades das pessoas. É possível encontrar uma penca de tabelas que faz isso na Internet. A maioria delas informa que basta multiplicar por sete a idade do seu filho de quatro patas e você terá a idade humana dele. Algumas tabelas apontam variações de porte e raça. Mas, segundo Marcus Fróes, diretor médico do Hospital Veterinário HPet, na Pituba, não há um estudo científico que faça esse comparativo. Na verdade, este estudo sequer seria necessário. Uma das tabelas comparativas na Internet (Foto: Reprodução) Até porque, acredita, isso não passa de uma curiosidade dos tutores. Para os veterinários, é preciso considerar essas e diversas outras variáveis ao tratar de um paciente.“É importante deixar claro que, para qualquer espécie, um ano é um ano. As pessoas fazem esse comparativo por conta da diferença de idade de morte. Não passa de um jogo de números onde se pega a média de vida de uma raça, por exemplo, e se faz uma regra de três com a média de idade de vida do ser humano. Aí eu vou achar quanto é que cada ano equivale à idade do ser humano”.Mas, diz o veterinário, esse número jamais vai ser fidedigno. “Você tem que fazer um monte de cálculo que no final das contas não nos diz muita coisa”. A veterinária Ana Rosa dos Santos Otero, uma das responsáveis pela clínica médica da Escola de Veterinária da Ufba e especialista em cardiologia, até usa esse comparativo. Mas, apenas como uma média. “Na média, você multiplica por sete. Isso na média! Mas, existem variações de porte e raça em que esse número muda muito”, avisa Ana Rosa. Na verdade, ao tratar de pacientes, os veterinários não seguem a tabela comparativa com humanos e sim as seguintes classificações das fases de vida de um cão:

- Fase Neonatal: até 30 dias de vida 

- Fase Pediátrica: Até 6 meses de vida

- Fase Juvenil: 6 meses aos 12 meses de vida

- Fase Adulta: De um ano até 7-8 anos (se raça grande), 9-10 anos (se raça média), 10-11 anos (se for raça pequena)

- Fase Geriátrica: A partir dos limites apontados na fase adulta para cada porte

“Ainda assim, você pode encontrar certa diferença. Se você pegar um cachorro de raça pequena, a curva de crescimento dele vai até os 9 meses. Claro, com a tendência de crescimento diminuindo a cada mês. Mas, se você pegar um cão de raça gigante, por exemplo, o crescimento dele pode durar 24 meses, ou seja, dois anos. Se ele ainda está se desenvolvendo, podemos dizer que ainda está na fase juvenil. Quer dizer, são muitas variáveis”, insiste doutor Marcus.

Aos 8 anos, Maria Bunita também já entrou na fase idosa. Entre no perfil @lugarbompracachorro no Instagram e veja a transformação dela. Colocamos lado a lado no feed uma foto dela filhotinha (fase pediátrica) com uma foto dos dias atuais (fase geriátrica).  

Velhinhos Léo Jaime: 14 anos e uma saúde de ferro (Foto: Regiane Ferreira / Divulgação Não interessa se a gente é coroa. Cachorro velho também é companhia boa! Mas, é importante conhecer os cuidados necessários com os cães mais velhinhos. E saber também qual veterinário procurar a depender do problema. Atualmente, o aumento do número de “vets” especializados em cardiologia, ortopedia, nefrologia, dermatologia, oncologia e até oftalmologia tem contribuído muito para a expectativa de vida dos cães.“A gente tem visto nossos pacientes cada vez mais idosos. Hoje a nossa rotina é com pacientes velhinhos, basicamente. Tenho vários de 18, 20 e até de 22 anos”, diz a especialista da Ufba.  O chamado paciente geriátrico, diz a veterinária, tem que ser visto como um todo. Os cães velhinhos vêm sempre com um pacote de doenças. “O renal pode ter também doenças articulares e pode ser também cardiopata. Nunca vem com uma coisa só”, explica. O fundamental nessa fase é trabalhar com prevenção.

Cuidados básicos com cães idosos:

- Saúde: Realizar exames periódicos e fazer visitas regulares ao veterinário

- Alimentação: Com a fase geriátrica, os cães costumam ser menos ativos e gastam menos energia. Por isso, um dos problemas mais comuns é a obesidade. A alimentação deve ter menos gosdura e mais proteína. Isso evita também problemas musculares e outras doenças. A ração para cães idosos é uma boa opção, mas pode-se utilizar verduras e frutas também. Procure um veterinário para elaborar a dieta ideal para seu filho de quatro patas

- Atividade física: Manter uma rotina de atividade diária, mas que respeite os limites do seu cachorro. A essa altura, o metabolismo dele se tornou mais lento, mas não deixe de fazer atividade física ainda que em menor intensidade. Com o passar do tempo, alguns cães devem evitar subir escadas, por exemplo. 

- Água: O cão idoso precisa de mais hidratação que o jovem. Por isso, deixe sempre água à vontade pela casa e busque alternativas como água de coco, por exemplo.

A Sociedade de Cardiologia Veterinária indica que, a partir dos seis, sete anos, qualquer cão seja submetido a um ecocardiograma, no mínimo. “É importante começar a fazer uma série de exames preventivos: além do eco, faz logo um eletro, exames bioquímicos para checar as funções renal e hepática, um hemograma e um exame de urina. Mesmo que não haja qualquer alteração clínica”, aconselha Ana Rosa.

Quanto mais idoso, mais chances de uma doença estar atrelada à outra. Paciente de Ana Rosa, o poodle Milk, de 15 anos, chegou com 45 dias de vida na casa da advogada Larissa Castro, 31. Sempre foi bastante saudável, mas, aos dez anos, um raio-x detectou uma cardiopatia. Desde então, começou a tomar medicação. “O tempo foi passando e a gente foi descobrindo outros problemas. Veio a doença renal, possivelmente trazida pela medicação da cardiopatia”, explicou Larissa. Há uns dois ou três anos, foi descoberto também uma artrose. Milk tem caminhado com um pouco de dificuldade porque sente dor. Milk: cardiopatia, artrose e doença renal. Tratamentos contribuíram para a qualidade de vida (Foto: Acervo Pessoal) “Tive que mudar até a maneira de carregar ele. E por causa do problema renal eu não posso dar alguns antinflamatórios que amenizariam as dores”, diz Larissa. Aí entra uma dica importante para cães idosos com problemas ortopédicos ou que sofrem com dores. Milk faz fisioterapia e acupuntura. “O número de profissionais da veterinária fisioterápica e de acupuntura também tem aumentado bastante”, comemora doutora Ana Rosa. Milk também toma ômega 3, suplementos alimentares e uma medicação para aumentar a oxigenação do cérebro.“Apesar de tudo isso, ele é um velhinho bem forte. A intenção agora é lhe dar uma boa qualidade de vida. Gastamos um pouco mais de dinheiro, mas a gente faz porque a gente ama”, ensina Larissa.  Principais doenças em cães idosos:

- Insuficiência cardíaca

- Discopatias (lesões na coluna vertebral)

- Neoplasias mamárias (tumores na mama)

- Piometra (distúrbio uterino)

- Insuficiência renal aguda/crônica

- Hiperplasia prostática benigna (Aumento do tamanho da próstata)

- Catarata

- Disfunção Cognitiva

- Glaucoma

- Colapso traqueal (redução do diâmetro da traqueia)

- Bronquites

Quem ama, cuida! Gigio: 12 anos, check-ups periódicos e visitas mensais ao veterinário (Foto: Acervo Pessoal) Depois de conhecer alguns das doenças enfrentadas por cães idosos, fica a dia: antes de ter um cachorro,  lembre que um dia ele vai ficar velhinho. Se acha que não tem a capacidade (inclusive financeira) de cuidar dele por tantos anos e com tantos problemas, abandone a ideia de cuidar de um animal! O indice de abandono de cães idosos é alto e não queremos que ele cresça ainda mais!

Não é todo mundo que tem o amor da professora Lêda Espinheira, mãe do York Shire Gigio. Com 12 anos, Gigio, que tem mais de 111 mil seguidores no Instagram, é cardiopata, já teve um tumor mamário, superou uma pancreatite e divulga em seu perfil medicamentos geriátricos. Enquanto Gigio é a prova de que a idade chega também para as celebridades pet, Lêda destaca a importância dos exames periódicos. “Os cuidados se multiplicam. Ele tem acompanhamento mensal com a veterinária. Infelizmente as pessoas ainda não se conscientizaram que nossos anjinhos peludos precisam de cuidados especiais. Amar é cuidar!”, diz a professora. Bertha, 10 anos: adotada por Luana depois de oito anos no abrigo (Foto: Regiane Ferreira / Divulgação) Poucos sabem tão bem disso quanto Luana Buddha, 25 anos, que adotou uma cadela já idosa, que estava há oito anos em um abrigo de Salvador. Hoje, a vira-lata Bertha deve ter cerca de 10 anos. A atitude de Luana é bem rara no meio pet. Adotou uma cadela sem raça, na fase geriátrica e com sobrepeso. “Adotei ela dia 1 de abril deste ano e tô muito feliz. Bertha tem uma boa saúde. Só precisou emagrecer quatro quilos e tem um probleminha de fígado e de visão”, diz Luana, que em breve vai levar Bertha para a Suíça, onde voltará a morar depois de uma temporada na capital baiana. Do abrigo de animais para a Suiça. Não sem antes virar "mudelo" e fazer um ensaio com a fotógrafa pet Regiane Ferreira, autora da imagem acima.  

Não ao abandono de cães adultos

Da mesma forma, a especialista em gestão e organização de eventos, Liliane Araújo, 40 anos, pensou em adotar um animal depois de ir morar em São Paulo e se ver sozinha, sem família e sem o namorado, que morava em Salvador. Queria um companheiro e buscou um cão adulto, hoje idoso. “Nunca pensei em comprar um animal. Tem tanto bicho abandonado por aí”. Liliane viu na TV uma campanha de adoção e contra o abandono de animais. Uma Ong enviou fotos de alguns cachorros. Entre eles, Léo Jaime, um Cocker Spaniel.

“Eu tava muito deprimida. Se não fosse Léo, não sei o que seria de mim”, acredita Liliane. Léo Jaime foi encontrado abandonado, vagando pela rua, em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo. Tinha cerca de cinco anos quando foi adotado. Liliane voltou para Salvador e Léo veio junto. Hoje, com mais ou menos 14 anos, Léo tem um focinho branquinho igualzinho o meu e de Maria Bunita. É um coroa em cima! Apesar da saúde de ferro, tem um probleminha de visão e usa colírio, além de suspeita de cardiopatia. Leo Jaime, cerca de 14 anos, chegou a vagar pelas ruas e hoje encontrou o amor de Liliane (Foto: Regiane Ferreira / Divulgação) A veterinária já disse que outros problemas devem aparecer. Por isso, se alimenta de ração para cães idosos e faz exames periódicos. “Achamos que o antigo dono dele era um feirante. Só pode! Ele ama frutas!”, brinca Liliane. “Dou também água de coco e suco”. E petisco? Só de vez em quando. “Ele adora pipoca. Mas dou sem sal e sem gordura”. Apesar de ele ter sido adotado por Liliane, ela é que se diz grata. Sempre manteve todos os cuidados necessários a Léo, inclusive depois de se casar e ter uma filha. “Costumo dizer que ele me salvou. Ele é muito afetuoso e companheiro com todos em casa. Não consigo entender porque fizeram isso com ele. Nada justifica um abandono!, critica Liliane, emocionada.