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Miro Palma
Publicado em 31 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
Após o confronto pelas oitavas de final da Copa do Brasil, na quarta-feira (29), na Fonte Nova, me restou uma dúvida: o São Paulo que perdeu ou o Bahia que ganhou? Eu pergunto dessa forma porque, mesmo tendo sido o tricolor baiano a passar para a próxima fase da competição, muitos veículos de comunicação nacionais insistiram em dar o protagonismo das suas notícias à derrota do time paulista.
Não foi difícil encontrar manchetes de jornais e sites nacionais com frases como: “O São Paulo volta a perder para o Bahia e é eliminado da Copa do Brasil”, ou “São Paulo perde mais uma vez e é eliminado pelo Bahia nas oitavas”. E quando a manchete foi poupada, no texto, o primeiro plano era todo dos paulistas.
Veja, eu sou jornalista e sei dos milhares de fatores que norteiam as escolhas de cada ponto e de cada vírgula em uma notícia. Então, vira e mexe quando esse assunto é levantado por torcedores, jogadores e profissionais do mundo da bola, sempre tento relativizar o problema. Afinal, a maioria dos veículos nacionais está sediada no Sudeste. Logo, seus jornalistas e repórteres são de lá ou vivem por lá. É muito fácil ceder a um olhar regionalizado nessas circunstâncias. Sem falar na questão, ou melhor, no abismo financeiro entre os clubes. Tudo isso interfere nessa cobertura cristalizada.
Só que o tempo de desculpas já passou. A globalização descentralizou a produção de conteúdo a partir da demanda, cada vez mais frequente, das pessoas por um conteúdo próximo a sua realidade. Basta ver de onde vem os digital influencers mais acompanhados do país, ou as bandas, cantores e cantoras mais ouvidos do momento. Eles não são mais oriundos exclusivamente dos grandes centros econômicos. E os veículos de comunicação nacionais sabem disso. Muitos já mudaram suas abordagens. No entanto, no segmento do esporte, em especial no futebol, a coisa avança a passo de formiga.
Outro exemplo disso foi a final da Copa do Nordeste que, também, aconteceu quarta. O Fortaleza levantou, pela primeira vez, o caneco da competição. Um feito inédito de um clube que vive uma ascensão importante no futebol. Ainda assim, a maioria dos veículos nacionais deu mais atenção à realização de Rogério Ceni como treinador do Leão do Pici. É inegável a contribuição de Ceni desde a conquista da Série B do ano passado, passando pelo estadual deste ano e, agora o Nordestão. Mas em meio a tamanha conquista, tirar o holofote do clube e colocar no técnico é uma lástima.
Como jornalista, é desanimador ver episódios como esses. Como torcedor, é ainda pior. Não dá mais para limitar o conteúdo com fronteiras que há muito tempo já foram derrubadas. O Brasil não se resume ao eixo Sul/Sudeste. Ele é imenso e merece ser noticiado com uma diversidade proporcional, seja sobre esporte ou qualquer outro tema. Sem falar que, em tempos de concorrência feroz por audiência, é no mínimo uma loucura ignorar essa questão. Foi o Bahia que venceu o São Paulo com todo o mérito pelo seu desempenho. Foi o Fortaleza Esporte Clube como um todo que conquistou a Copa do Nordeste. Essas são as notícias e ponto final. O mundo mudou, a notícia também mudou. Agora, só faltam os jornalistas.
Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras