Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gabriel Amorim
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Foram 26 dias de navegação, mais de 800 milhas náuticas navegadas (cerca de 1.450 km) e 173 grupos de baleias avistados. Com esse resultado foi encerrada, na última semana de setembro, a “Expedição Entre Baleias e Golfinhos 2020 – Praia do Forte a Vitória”, realizada pelo Projeto Baleia Jubarte. O objetivo da viagem foi registrar os animais em seu ambiente de reprodução natural no país. >
É justamente o ciclo de reprodução das baleias que determina a data da expedição. As jubartes estão no litoral baiano entre o inverno e a primavera, quando vêm da região antártica para acasalar. Os animais se mantêm em águas brasileiras até o nascimento dos filhotes e pelo período de amamentação. Como foi alvo de caça indiscriminada desde a época do Brasil Colônia, a espécie já chegou a estar à beira da extinção. A caça foi proibida na metade do século XX e, desde 1988, o Instituto Baleia Jubarte atua na área. >
A viagem deste ano foi mais um esforço para entender o comportamento das baleias nesta temporada atípica, de pandemia, durante a qual a atividade econômica diminuiu e, com ela, a presença humana nos mares.>
“As baleias jubartes estão retomando sua distribuição original ao longo da costa brasileira e, com isso, aumentam as interações com atividades humanas no mar, o que pode ameaçar a espécie de diversas maneiras, desde colisões com navios a emalhamento em redes de pesca. Nosso papel é buscar entender esses riscos e como reduzi-los, para assegurar que a espécie sobreviva e prospere nas nossas águas”, explica o coordenador da expedição Enrico Marcovaldi.>
Segundo ele, os resultados colhidos ainda serão analisados, mas já é possível apontar uma visível diminuição da navegação e a reduzida presença de redes de pesca na região. >
Para os estudiosos, a mudança é positiva para os animais e deve ser, inclusive, razão para o alto número de baleias avistadas no caminho entre Praia do Forte, na Bahia, e Vitória no Espírito Santo. Das 460 baleias vistas, 97 eram filhotes, o que, para os profissionais, mostra o sucesso da temporada reprodutiva, principalmente na região do Banco dos Abrolhos, no sul do estado, que é a principal área de concentração das jubartes no Brasil. >
Além de muitos registros em vídeo e fotos do comportamento dos animais, a expedição serviu para catalogar informações necessárias ao estudo da espécie. Foram realizadas 107 foto-identificações individuais, usando o padrão de coloração da cauda das jubartes para catalogar cada uma delas; 25 biópsias para análise genética e de poluentes; e 61 medições de tamanho dos animais através de fotogrametria. Também foram realizadas diversas gravações do canto dos machos, característicos da espécie e que mudam anualmente.>
Turismo Além de sua importância biológica, as jubartes ainda ajudam a gerar o chamado turismo de observação, atividade forte em algumas comunidades ao longo da costa. A expedição também vistou os locais que tiveram o turismo prejudicado por conta da pandemia. “O turismo voltado às baleias-jubarte já é um grande gerador de emprego e renda em várias localidades, e nossa missão está sendo entender os efeitos da pandemia nas empresas e colaboradores e apoiar os operadores para a retomada segura e sustentável das atividades o quanto antes”, diz o biologo Sérgio Cipolotti que coordena o tema do turismo de observação dentro do Projeto Baleia Jubarte. >
Para os especialistas, apesar do impacto da pandemia na atividade, tudo aponta para uma regularização no próximo ano, justamente pelo incremento na população de animais “Para nós é uma imensa satisfação constatar que nossos esforços de mais de três décadas pela proteção das baleias e do seu ambiente, através do Projeto Baleia Jubarte, continuam dando frutos, na forma palpável dessa grande quantidade de filhotes”, acrescentou Marcovaldi. >
A Expedição também terá como produto adicional, a ser lançado em breve, um documentário apresentando informações sobre o trabalho de pesquisa, a situação do turismo de observação e as perspectivas com o aumento da população de jubartes, tendo como pano de fundo as imagens captadas pela equipe do Projeto durante o trabalho de campo.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Riberio .>