Família de garota abusada cria plano e flagra suspeito de estupro na Mata Escura

Mãe e avó da vítima, que era ameaçada há um ano, registraram caso no Dercca

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  • Gil Santos

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 16:11

- Atualizado há um ano

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Nataliano foi flagrado sem roupas dentro do quarto da adolescente (Foto: Reprodução) Com o braço cruzado e a mão no queixo, a balconista Cíntia Oliveira, 31 anos, parecia não acreditar no que estava acontecendo enquanto aguardava para falar com a delegada. Em pé, na porta da Delegacia Especializada de Repressão a Crimes contra a Criança e o Adolescente (Dercca), em Brotas, a mulher relembrava o momento em que flagrou o cunhado sem roupas no quarto da filha dela, uma adolescente de 14 anos, na manhã desta quinta-feira (30), no bairro de Mata Escura.

Apesar do susto, não foi uma surpresa. Tudo começou na segunda-feira (27), quando Cíntia descobriu os abusos. A mãe dela e avó da vítima, Raimunda Oliveira, 57, notou que a neta havia mudado o comportamento bruscamente nos últimos meses - começou a receber notas baixas na escola e ficou mais agressiva. Ela então comentou com Cíntia, mas as duas mulheres ainda não sabiam o motivo.

“Minha neta mora comigo desde que era bebê. A mãe dela casou novamente e se mudou, mas a menina continuou morando comigo. Ela sempre foi muito tranquila, a gente assistia televisão juntas e conversava bastante, mas nos últimos meses ela estava calada, ficava a maior parte do tempo no quarto e não queria sair de casa”, contou Raimunda.

Apesar das insistências da avó para saber o que estava acontecendo, a menina não falava. Preocupada, Cíntia resolveu acessar as redes sociais da filha para saber com quem ela falava e sobre o que eram as conversas. “Eu sabia que tinha alguma coisa estranha e pensei que se fizesse isso poderia descobrir o que era. Não avisei para ela, consegui a senha e acessei”, disse Cíntia. Tudo foi descoberto através das redes sociais (Foto: Evandro Veiga/CORREIO) Descoberta Na segunda, a balconista estava trabalhando, quando o celular vibrou. Era uma mensagem do cunhado, Nataliano da Rocha Cruz, 27, endereçada à sua filha. Ele queria marcar um encontro com a adolescente. Cíntia contou que ficou nervosa, mas que respondeu a mensagem dizendo que naquele dia não dava. A primeira reação da mulher foi de revolta. Ela desconfiou da honestidade da filha.

“Eu larguei o trabalho e saí correndo para casa. Eu disse pra ela que já sabia de tudo e perguntei como ela teve coragem de trair a própria tia. Foi aí que ela contou que ele (Nataliano) nunca teve consentimento e que não estava aguentando mais aquela situação. Eu perguntei se ela gostava dele e ela disse que não. Falei que se ela estivesse mentindo, a polícia descobriria, e ela continuou chorando e dizendo que a relação não foi consentida”, contou Cíntia, ainda nervosa.

A adolescente contou para a mãe que os abusos começaram em março do ano passado, depois que ela completou 13 anos. Ela estava na casa da tia, ajudando nos afazeres domésticos antes de ir para a escola, quando a mulher precisou sair. A menina ficou sozinha com Nataliano e ele a teria forçado a ter relações.

Nos meses seguintes os abusos continuaram, de forma esporádica, e sempre sob ameaça. “Ele dizia que se ela contasse para alguém, a tia dela, que é a mulher dele, iria descobrir e matar os dois. Outras vezes dizia que ele mataria a mãe e as irmãs dela se ela contasse para alguém”, relatou a avó da menina. Suspeito conhece a jovem desde que ela nasceu (Foto: Repordução) Denúncia A agente de proteção da Vara da Infância e da Juventude da cidade de Itaparica, Ivanilda Brito, 44, estava em casa, em Salvador, quando o celular começou a chamar. Do outro lado da linha era Cíntia, nervosa, logo após ler a mensagem que o cunhado havia mandado para a filha.

“Ela tinha acabado de ler a mensagem e não sabia o que fazer, então, a primeira coisa que fez foi me ligar. Eu passo todos os dias pelo trabalho dela para ir para o meu trabalho; foi assim que nos conhecemos. Ela sempre foi muito simpática. Me ligou para pedir orientação de como agir”, contou a agente.

As duas mulheres conversaram por um tempo e depois que encerrou a ligação, Ivanilda entrou em contato com outros dois agentes de proteção de Itaparica, Joseval Nascimento e Marcos Antônio Dória, que também moram em Salvador e fizeram contato com Cíntia. No dia seguinte, mãe e filha foram com os agentes até a Dercca para registrar a denúncia.

Flagrante Um dia depois de prestar queixa, a menina recebeu uma nova mensagem de Nataliano. Ele ainda não sabia que tinha sido descoberto e estava insistindo em um novo encontro. Foi nesse momento que ocorreu à avó da vítima de fazer um flagrante da ação. Cíntia se passou novamente pela filha e marcou o encontro para a manhã desta quinta-feira.

Por volta das 7h30, Raimunda saiu de casa deixando a neta sozinha, como fazia todas as manhãs. Mas antes disso, havia retirado todas as chaves das portas, e recolhido da casa todas as facas e tesouras ou qualquer outro objeto que pudesse ser usado como arma.

“Guardei tudo dentro do meu quarto, porque fiquei com medo de ele fazer alguma besteira quando fosse descoberto, e tirei as chaves das portas para ele não poder se trancar. Fiquei distante, esperando minha filha, que é mulher dele, sair para o trabalho para contar o que iria acontecer”, disse.

Nataliano esperou alguns minutos para depois entrar na casa da adolescente, enquanto a sogra, a cunhada e a esposa o observavam da casa de um vizinho. A vítima combinou em aumentar o volume da TV como sinal de que ele estava prestes a atacá-la. Foi nesse momento que as mulheres entraram e flagraram o crime.

Confusão O homem estava sem roupas quando foi agredido com socos pela esposa e a confusão atraiu a atenção dos vizinhos. A família dele mora perto do local e tentou defendê-lo, o que deu início a uma pancadaria geral. Alguns moradores tentaram linchá-lo, mas as mulheres não deixaram. A confusão só terminou quando a Polícia Militar chegou e conduziu o suspeito até a Dercca.

Nataliano já tem passagem policial por agressão à mulher. Procurada, a família dele não quis comentar o assunto. A defesa do suspeito não foi localizada para comentar o assunto.

A vítima fará exame de corpo de delito nos próximos dias e o caso será investigado pela Dercca.

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Veja onde buscar ajuda em casos de violência doméstica: Cedap (Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa) – Atendimento médico, odontológico, farmacêutico e psicossocial a pessoas vivendo com HIV/AIDS. Endereço: Rua Comendador José Alves Ferreira, nº240 – Fazenda Garcia. Telefone: 3116-8888. 

Cedeca (Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan) – Oferece atendimento jurídico e psicossocial a crianças e adolescentes vítimas de violência. Endereço: Rua Gregório de Matos, nº 51, 2º andar – Pelourinho. Telefone: 3321-1543/5196. 

Cras (Centro de Referência de Assistência Social) – Atende famílias em situação de vulnerabilidade social. Telefone: 3115-9917 (Coordenação estadual) e 3202-2300 (Coordenação municipal) 

Creas (Centro de Referência Especializada de Assistência Social) – Atende pessoas em situação de violência ou de violação de direitos. Telefone: 3115-1568 (Coordenação Estadual) e 3176-4754 (Coordenação Municipal) 

Creasi (Centro de Referência Estadual de Atenção à Saúde do Idoso) – Oferece atendimento psicoterapêutico e de reabilitação a idosos. Endereço: Avenida ACM, s/n, Centro de Atenção à Saúde (Cas), Edifício Professor Doutor José Maria de Magalhães Neto – Iguatemi. Telefone: 3270-5730/5750. 

CRLV (Centro de Referência Loreta Valadares) – Promove atenção à mulher em situação de violenta, com atendimento jurídico, psicológico e social. Endereço: Praça Almirante Coelho Neto, nº1 – Barris, em frente a Delegacia do Idoso. Telefone: 3235-4268. 

Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher) – Em Salvador, são duas: uma em Brotas, outra em Periperi. São delegacias que recebem denúncias de violência contra a mulher, a partir da Lei Marinha da Penha. 

Deam Brotas – Rua Padre José Filgueiras, s/n – Engenho Velho de Brotas. Telefone: 3116-7000. 

Deam Periperi – Rua Doutor José de Almeida, Praça do Sol, s/n – Periperi. Telefone: 3117-8217. 

Deati (Delegacia Especializada no Atendimento ao Idoso) – Responsável por apurar denúncias de violência contra pessoas idosas. Endereço: Rua do Salete, nº 19 – Barris. Telefone: 3117-6080. 

Derca (Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente) Endereço: Rua Agripino Dórea, nº26 – Pitangueiras de Brotas. Telefone: 3116-2153. 

Delegacias Territoriais – São as delegacias de cada Área Integrada de Segurança Pública. Segundo a Polícia Civil, os estupros que não são cometidos em contextos domésticos devem ser registrados nessas unidades. Em Salvador, existem 16 (http://www.policiacivil.ba.gov.br/capital.html). 

Disque Denúncia – Serviços de denúncia que funcionam 24 horas por dia. No caso de crianças e adolescentes, o Departamento de Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos oferece o Disque 100. Já as mulheres são atendidas pelo Disque 180, da Secretaria de Políticas Para Mulheres da Presidência da República. Fundação Cidade Mãe – Órgão municipal, presta assistência a crianças em situação de risco. Endereço: Rua Prof. Aloísio de Carvalho – Engenho Velho de Brotas. 

Gedem (Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher do Ministério Público do Estado da Bahia) – Atua na proteção e na defesa dos direitos das mulheres em situação de violência doméstica, familiar e de gênero. Endereço: Avenida Joana Angélica, nº 1312, sala 309 – Nazaré. Telefone: 3103-6407/6406/6424. 

Iperba (Instituto de Perinatologia da Bahia) – Maternidade localizada em Salvador que é referência no serviço de aborto legal no estado. Endereço: Rua Teixeira Barros, nº 72 – Brotas. Telefone: 3116-5215/5216. 

Nudem (Núcleo Especializado na Defesa das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar da Defensoria Pública do Estado) – Atendimento especializado para orientação jurídica, interposição e acompanhamento de medidas de proteção à mulher. Endereço: Rua Pedro Lessa, nº123 – Canela. Telefone: 3117-6935. 

Secretaria Estadual de Políticas Para Mulheres Endereço: Alameda dos Eucaliptos, nº 137 – Caminho das Árvores. Telefone: 3117-2815/2816. 

SPM (Superintendência Especial de Políticas para as Mulheres de Salvador) – Endereço: Avenida Sete de Setembro, Edifício Adolpho Basbaum, nº 202, 4º andar, Ladeira de São Bento. Telefone: 2108-7300. 

Serviço Viver – Serviço de atenção a pessoas em situação de violência sexual. Oferece atendimento social, médico, psicológico e acompanhamento jurídico às vítimas de violência sexual e às famílias. Endereço: Avenida Centenário, s/n, térreo do prédio do Instituto Médico Legal (IML) Telefone: 3117-6700. 

1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar – Unidade judiciária especializada no julgamento dos processos envolvendo situações de violência doméstica e familiar contra a mulher, de acordo com a Lei Maria da Penha. Endereço: Rua Conselheiro Spínola, nº 77 – Barris. Telefone: 3328-1195/3329-5038.