Fé e emoção: baianos demonstram sua devoção aos caboclos no 2 de julho

Centenas de pessoas aproveitaram o feriado para realizar seus pedidos

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  • Gabriel Moura

Publicado em 2 de julho de 2019 às 21:35

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

O encontro de Gabriela Santos, 24 anos, com o pé do caboclo deste ano tem relação direta com uma visita que ela fez dois anos atrás. Àquela época, ela fez um pedido: com dificuldades para engravidar e ter seu primeiro filho, ela pediu por fertilidade. Nesta terça-feira (2), a estudante foi agradecer por ter sua graça atendida e, para isso, foi devidamente acompanhada da bebezinha Valentina, de apenas 6 meses.“Eu devo esse tesouro ao caboclo. Minha mãe me trazia aqui desde criança e sempre me disse para ter fé nele e nos Orixás. E não é que ela estava certa? Graças a Deus, meu pedido foi atendido e hoje estou aqui, com minha ‘pequenuxa’ para agradecer”, comemora Gabriela.Além da estudante, centenas e baianos e turistas foram ao pé das imagens para realizar seus pedidos, agradecer, pedir proteção, entregar oferendas e jogar sal grosso. Essa homenagem ao caboclo é tão antiga quanto as celebrações do 2 de Julho. Logo na primeira edição da comemoração, lá em 1824, ele já estava devidamente representado e em 1825 já tinha uma estátua em sua homenagem, quando começou a sua adoração.

O caboclo é uma homenagem aos negros e índios anônimos que lutaram na batalha que resultou na Independência da Bahia, em 1823. Eles formaram o exército que defendeu a pátria, já que os filhos dos brancos mais abastados se recusaram a participar dos embates. Devoção é quase tão antiga quanto a festa do 2 de Julho (Foto: Betto Jr./CORREIO) Esses guerreiros anônimos ainda hoje inspiram os baianos devotos. “Eu sou cabocla, viu”, ressalta Maria das Dores do Nascimento de Jesus, 62, que também conta, com orgulho, que é neta de índios. A aposentada fez questão de trazer os dois netos, Ícaro e Lavínia, de 7 e 3 anos, respectivamente. 

Há trinta anos, ela tem um compromisso no dia 2 de julho, ir ao caboclo. E, para Maria das Dores, a tradição é coisa de família. Ela costumava trazer a mãe das crianças e hoje repete o gesto com os netos. “Eles vão ser meus herdeiros de fé. Quando eu morrer, vão ser esses pequenos que trarão meus bisnetos e tataranetos”, diz Maria. A aposentada garante que suas preces sempre são atendidas. “Meu filho, teve uma época que eu fiquei com uma infecção nos ossos. Vim aqui pedir e logo fui curada. Existe o médico, mas o que cura mesmo é a fé. Se não fosse ela, Oxalá e o meu caboclo, hoje eu estaria de cadeira de rodas”, conta. Quem estava de cadeira de rodas e nem por isso deixou de fazer sua homenagem foi Ione da Silva, 59. Ela vem desde os 3 anos, quando sua mãe a trazia. Nem a condição de cadeirante, que a acometeu após uma cirurgia mal executada em 2002, foi capaz de impedi-la de demonstrar sua fé.  Cabocla chegou ontem ao Campo Grande (Foto: Betto Jr./CORREIO) “Eu abri mão de muitas coisas por estar na cadeira de rodas. Mas vir aqui no pé do caboclo é algo que não negocio. Meu marido já sabe que todo dia 2 de Julho ele vai se preparar para vir aqui e me empurrar. Mando até ele fazer um aquecimento, uma preparação para ele aguentar o pique”, brinca a aposentada.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier