Fé no amor: casais de religiões diferentes contam suas histórias

Apesar de os credos não serem os mesmos, eles não deixam isso abalar a relação

  • Foto do(a) author(a) Giuliana Mancini
  • Giuliana Mancini

Publicado em 12 de junho de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Divulgação

Dias antes de subir ao altar com o príncipe Harry, do Reino Unido, a atriz Meghan Markle foi batizada na Igreja Anglicana. Assumidamente protestante - apesar de ter estudado em um colégio católico -, a americana resolveu se converter para o casamento, por tradição e respeito à Rainha Elizabeth, chefe da Igreja da Inglaterra. Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: O duque e a duquesa de Sussex, porém, estão longe de ser os únicos apaixonados que têm (ou, neste caso, tinham) religiões distintas Mas, diferente de Meghan, muita gente não abdica das suas crenças pelo amor. Ao contrário: encontra uma forma de superar, sempre com respeito. E não é que, muitas vezes, essa pessoa descobre que a espiritualidade alheia tem pontos de vista interessantes?

Fomos atrás de três casais baianos que, apesar de terem credos diferentes, não deixam isso abalar a relação. Temos judeu com espírita, candomblecista com evangélico e umbandista com estudante de Testemunha De Jeová.

Tuka Sampaio e Guilherme Portnoi O advogado Guilherme Portnoi é judeu, enquanto a mulher, a youtuber Tuka Sampaio, segue o espiritismo (Foto: Divulgação) No exato dia em que  comemoravam nove anos de namoro, Tuka Sampaio, 26, e Guilherme Portnoi, 26, oficializaram a relação: em um cartório, disseram ‘sim’ um ao outro, casando no civil. Mas a ideia é fazer outra cerimônia, desta vez comandada por um rabino e por um amigo. Será bem ao estilo do casal: agregando as crenças de cada um.

Advogado, Guilherme é judeu, enquanto a youtuber (que comanda um canal que leva seu nome) é espírita. Nada que abale a relação. “Eu já sabia um pouco sobre a religião dele, mas nunca tinha visto na prática. Quando fui, pela primeira vez, em um jantar no Shabat, achei bem legal”, diz a produtora de conteúdo.

Diferentemente do adeptos do judaísmo ortodoxo, Guilherme segue a ramificação reformista - assim, não há grandes problemas em se relacionar com pessoas de outros credos. Sempre houve respeito em ambos os lados. A única situação complicada que eles passaram foi quando estavam em Israel, em julho de 2015. O casal durante a viagem em Israel (Foto: Divulgação) “As pessoas paravam para perguntar se ele era judeu. E, quando falava que sim, perguntavam se eu era também. Quando dizíamos que não,  o povo afirmava que era uma coisa ruim, para ele procurar outra mulher. Chegou a um ponto que  começamos a falar que eu era judia sim, para pararem de fazer isso”.

Joceira Azevedo e Wagner Cruz Joceira e Wagner: ela, adepta do candomblé há 21 anos; ele, da Igreja Batista há seis (Foto: Renato Santana/Divulgação) Quando Wagner Cruz, 35, resolveu se converter à Igreja Batista, há aproximadamente seis anos, Joceira Azevedo, 40, achou ótimo. Adepta do candomblé há mais de duas décadas, a doméstica até incentivou o marido a continuar indo para os cultos. O motivo?

“Ele adorava sair com os amigos para festas, passava a noite toda fora, só voltava no dia seguinte... Agora, ele parou de fazer farra. Foi bom!”, afirma. A religião veio para o porteiro por intermédio de um conhecido. “Um amigo de Wagner, um dia, o chamou para a igreja. E foram. Depois, convidou mais uma vez, e foram de novo. Ele continuou frequentando e passou realmente a gostar”, lembra Jô. Jô ficou feliz quando Wagner se converteu (Foto: Renato Santana/Divulgação) Tanto ela já foi para um dos cultos com o amado, como ele já visitou o terreiro na companhia da mulher. “Depois da conversão, Wagner também chegou a me acompanhar lá. Tive que convencer, dizer que a família toda ia... Ele falou que ia orar para ver o que fazia. Mas foi”.

Como o casal, que está junto há 17 anos, se resolve hoje em dia? “Temos respeito. Um não se envolve na crença do outro, cada um fica no seu espaço”, diz ela.

Hanna Spath e Filipe Andrade Juntos há dois anos, Filipe é da Umbanda e Hanna teve criação como Testemunha de Jeová (Foto: Renato Santana/Divulgação) “Minha mãe não vai gostar...”. Essa foi a reação de Hanna Spath, 26, quando descobriu que o namorado, Filipe Andrade, 26, era adepto da Umbanda. Isso porque a mãe da artesã, dona da marca Bolha de Sabão (@bolha.desabao no Instagram), é Testemunha de Jeová.

Hanna também chegou a frequentar um Salão do Reino em 2006, quanto tinha 14 anos, e se tornou estudante da religião. Mas, com o tempo, preferiu não seguir. Ainda assim, com sua base formada com a crença, ficou intrigada com o credo do amado. “Quando me senti mais confortável, comecei a perguntar algumas coisas para ele”.

Cadastre seu e-mail e receba novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, tecnologia, bem-estar, pets, decoração e as melhores coisas de Salvador e da Bahia:

A curiosidade foi tanta, que Hanna quis ir para o terreiro com Filipe. “Eu disse que precisava ir para saber melhor. Passei três meses visitando. Eu quero ter conhecimento”, conta. Juntos há cerca de dois anos, o casal já tem uma filha, Giovanna.

Ah, e o primeiro encontro com a mãe de Hanna, como rolou? “Fomos para um restaurante japonês e eu usava a guia. Ela pegou e me disse ‘só precisava tirar isso’”, recorda Filipe. Hoje, ele garante que a relação com a sogra está bacana. “Percebemos que ela tenta passar uma energia legal para a gente”, garante. “Independente da religião, acho que temos que fazer o bem e botar energia positiva no mundo”, afirma Hanna. A gente concorda.

Matheus e Thais O assessor parlamentar Matheus Maciel, do candomblé, e a jornalista Thais Mascarenhas, evangélica: vencendo preconceitos das famílias (Foto: Angeluci Figueiredo/Arquivo CORREIO) Ela frequenta a Igreja Evangélica, pentecostal. Ele, um terreiro. Antes de começar a namorar com o advogado Matheus Maciel, 25, há três anos, a jornalista Thais Mascarenhas, 25, achava que todo filho de santo comia dendê.

Seu amado, por exemplo, nem chega perto do azeite, pois é filho de Oxalá. “Descobri quando, na paquera no WhatsApp, perguntei o que ele gostava de comer”, conta a moça. Outra surpresa para ela foi o resguardo. “Há períodos em que ficamos sem beijar na boca, só de mãos dadas”, afirma Thais.

O rapaz conhecia mais do Cristianismo pela família, que tem até tio pastor. “Temendo o preconceito de meus pais, não comentei da religião dele quando os apresentei. Não adiantou. Minha mãe fuçou o Facebook dele, viu e demonstrou preocupação”, diz Thais.

Do outro lado, a notícia não poderia ter sido melhor: “minha família viu a chance de eu me salvar desse mundo que eles acham ‘de satanás’”, explica, aos risos, Matheus. Para ele, a fala é fruto de ignorância.

A mãe de santo sabe da relação e está de boa. O pastor nem sonha. Da parte dos pombinhos não há problema agora. Nem no futuro. “As coisas têm melhorado. A tendência é essa, pois meus pais vão vendo o quanto a relação está sendo boa”, conta a jornalista.