Fechado há 54 anos, Elevador do Taboão será restaurado e reativado

Obras começaram nesta quarta-feira (5) e serão entregues daqui a 12 meses

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  • Gabriel Amorim

Publicado em 5 de junho de 2019 às 18:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Um dos equipamentos mais antigos de ligação entre as cidades Alta e Baixa de Salvador vai voltar a funcionar. Fechado há 54 anos, o Elevador do Taboão, que liga o bairro do Comércio ao Pelourinho, passará por uma restauração e voltará a operar normalmente. A previsão do fim das obras é de 12 meses.

A ordem de serviço para a revitalização foi assinada nesta quarta-feira (5), pelo prefeito ACM Neto. A obra, que teve início imediato e receberá um investimento de R$ 4 milhões, faz parte de um conjunto de ação da prefeitura que realiza 22 intervenções para revitalizar a área do Centro Antigo. 

No projeto estão previstas as restaurações integrais do elevador e das duas estações de acesso nos níveis inferior e superior, além de intervenções de modernização das instalações, buscando adequar a edificação às normas técnicas vigentes, inclusive de acessibilidade universal.

O espaço ganhará áreas com mesas, sanitários e um café. Já as duas cabines, com capacidade para 13 pessoas cada, serão climatizadas. Os materiais utilizados e a coloração prometem manter a caracterização do local.

Titular da Secretaria de Infraestrutura e Obras Públicas (Seinfra), pasta responsável pela obra, o vice-prefeito Bruno Reis destacou a importância do equipamento para a cidade. “É um local de importância histórica, com 123 anos, um patrimônio da cidade que estava esquecido. É um equipamento importante de mobilidade e que vai aquecer também o comércio da região. Além do resgate histórico, faz parte da nossa visão de revitalizar o bairro do Comércio e esse é um dos ícones. Faz parte desse movimento que estamos fazendo para revitalizar e trazer de volta o cidadão ao centro da cidade”, destacou. 

No momento da assinatura da ordem, ACM Neto esclareceu que a prefeitura assumiu, no caso do elevador, um projeto que seria executado pelo Governo Federal. A obra fazia parte do PAC do Centro Histórico e teve o projeto elaborado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

“Esse é um dos pontos turísticos e históricos mais importantes da nossa cidade. Não só o apelo turístico, mas o apelo econômico para toda essa região do Comércio. Destaco o apelo que existiu ao longo de vários anos dos comerciantes dessa região para que o equipamento fosse reativado. Em pouco tempo, o perfil desta região deve mudar completamente”, disse o prefeito. 

Usuários Um desses comerciantes citados é Rui Santana, 57 anos, que cuida da sapataria O Rápido Bahiano, fundada pelo seu pai em 1942, junto com os irmãos. Ele, que trabalha no local desde criança, não tem lembrança do equipamento funcionando. Agora, a expectativa é alta.“Com o elevador restaurado, acreditamos que o movimento na loja vai crescer uns 50, 60%”, espera. Silvio e Rui Santana estão ansiosos para ver o elevador funcionando  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Irmão de Rui, Silvio Roberto Santana, 63, conta que o movimento da loja caiu gradativamente ao longo dos anos. Ele acredita que a falta do elevador é um dos fatores que contribuiu para o baixo rendimento, já que desvaloriza o local onde estão instalados. “Essa reforma é uma coisa maravilhosa. Vai ser muito bom pra região”, opinou ele, acrescentando que, junto com os irmãos, já evitou que peças do equipamento fossem furtadas na esperança de que, algum dia, ele voltaria a funcionar.

Suely Alves, 45, tem um ponto de venda em frente à saída de cima do equipamento. “Agora vai ser uma escolha subir pelo elevador ou andando. E eu vou de elevador, é claro”, brincou ela. Além de facilitar sua vida, a comerciante espera que a restauração transforme o elevador em nova atração turística e traga ainda mais movimento para a região. “Não vai ser bom só para quem trabalha aqui, vai ter turista querendo vir", acredita. Suely acredita que equipamento atrairá turistas  (Foto: Marina Silva/CORREIO) Nascido e criado na região, o aposentado Derivaldo de Santana, 81, sempre trabalhou perto do elevador. Ele, que já chegou a usar o equipamento, lembra da época em que ele foi desativado. “Foi um prejuízo pra comunidade quando fechou. Eu achei que ninguém ia restaurar nunca”, admite.

Também trabalhador da região, o comerciante Clarindo Silva, 77, conta que desde os anos 70 incentiva a preservação e revitalização do centro. “Para mim é como se o Pelourinho fosse o coração da cidade e o elevador uma de suas artérias. Não tem como o coração estar saudável se as artérias não estão”, compara, ao chamar a iniciativa de marco histórico.  Derivaldo é nascido e criado na região (Foto: Marina Silva/CORREIO) Iphan A expectativa de quem trabalha na região, de que a reativação do Elevador do Taboão atrairá visitantes, não é à toa. O projeto de revitalização do elevador, cedido pelo Iphan à prefeitura, também visa o uso do equipamento como ponto turístico.

“Uma grande característica de Salvador são as cidades Alta e Baixa. Todo mundo conhece Salvador pelos planos inclinados e elevadores que fazem essa ligação. Colocamos o do Taboão como ação prioritária justamente por ele estar fechado há mais de 50 anos. Durante a elaboração do projeto, para nossa surpresa, vimos que ainda há uma demanda de fluxo constante entre a rua do Taboão e o bairro do Comércio”, comenta Bruno Tavares, superintendente do Iphan na Bahia. 

Segundo ele, o elevador pode funcionar como atrativo para quem decide visitar a capital baiana por conta de sua característica panorâmica. “Muita gente vai ao Elevador Lacerda achando que ele é panorâmico, mas é o do Taboão que tem essa característica. Os turistas vão poder ver a beleza do bairro do comércio e da Baía de Todos-os-Santos”, completa. 

Depois de cedido, o projeto foi debatido com a prefeitura por meio da Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF) e da Seinfra.

Além do projeto do no Taboão, em breve a prefeitura dará início a intervenções nos Arcos da Ladeira da Montanha e da muralha do frontispício de Salvador. Ambos os projetos também foram elaborados pelo Iphan, e intervenções serão executadas pelo município. Ao todo as 22 intervenções realizadas na região somam um investimento de R$ 300 milhões de reais. A próxima obra a ser entregue será a do Terreiro de Jesus com a finalização prevista para a próxima sexta-feira (07).  

* Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier