Feito pedra rolante, ou um ‘rolling stone’ da cabeça aos pés

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  • Da Redação

Publicado em 10 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Mudei a alma de casa – não por amor, à la Mario Quintana, mas por necessidades impostas pelas circunstâncias – tantas vezes que precisei três ou quatro horas para enfileirar todos os portos inseguros – não existem portos seguros – por onde a minha alma pousou. Efeito colateral (contabilizei + de 40 endereços): tornei-me mutante – eu e Rita Lee somos capricornianos, e odiamos falar ao telefone – e ‘mobile’, feito ‘la donna’, de Giuseppe Verdi (1813-1901). Like a ‘rolling stone’ – like The Rolling Stones.

Minha pedra fundamental foi casarão caindo aos pedaços, Ficava ás margens do Rio Jiquiriçá, em Mutuípe-Bahia, e foi tragado pelas águas de tempestade bíblica. Em tempo: quando esse desabamento ocorreu eu já me mudara para Jequié-Bahia. [A propósito, lei do eterno retorno em pleno vigor,  voltei a morar nesta urbe há quase três anos].

Passei infância e começo da adolescência por estas plagas – 4 aos 14 anos – e foi nesse tempo que esta alma mutante me impregnou. Meu pai, honesto e probo, nunca enriqueceu a ponto de ter casa própria. Moramos sempre de aluguel. Entre 1958 e 1969, quando me mudei para esta Salvadores, tivemos cinco endereços. O mais marcante foi outro casarão. Também caía aos pedaços. Tinha incontáveis goteiras, buracos nos pisos assoalhados e outra tempestade bíblica (ai, ai, esses eternos retornos!) derrubou os fundos desse lugar. Ninguém se machucou.

Nessa aventurosa odisseia de + de 40 portos inseguros, vamos agora falar de números.

Ei-los:

1. Nesta Salvadores morei entre 1969 e 1986. Tive 13 endereços. Residi em logradouros de nomes poéticos – Ladeira da Fonte, Rua da Poeira, Rua Barão do Desterro, Rua Direita da Piedade – e em cafundó em ponta de rua esburacada e pagã na Boca do Rio, em companhia de ripongas e maconheiros queridos.

2. Em São Paulo – no período mais esplendoroso da minha vida (1986 ao final de 1997) – morei apenas em dois endereços, ambos em Higienópolis, bairro de gente endinheirada – eu ganhei algum dinheiro nesta época, pois trabalhava muuuuito, e bem – e caí de amores por essa metrópole extraordinária. 

3. Brasília (1997 a 2007. Há quem fale mal da capital federal. Eu adoro. As gentes que ali residem têm injusta fama Brasil afora  por conta dos políticos canalhas que a ocupam, Os brasilienses da gema são gentis e brejeiros. Lá bati recorde: 14 domicílios. 

4. Rio de Janeiro (2008 a 2013). A cidade mais linda do mundo. Paga caro pela beleza que possui. Mas vale o ingresso. Voltaria a morar lá ontem. [Dois endereços].

4. Campínas (durante seis meses, em 2007) – Num flat no centro da cidade. Amei, e amo, a cidade.

5. Recife (durante seis meses, em 2010) – Num flat na praia de Boa Viagem. Amei, e amo, a cidade.

PS1. A propósito de mudanças, precisei mudar o rumo da prosa. Não estou suportando mais falar sobre esta tragédia macabra chamada Brasil (tenho sentido náuseas diárias, sartrianas e não). Sigamos! Mudar é viver. Em frente, marujos!

PS2. Suplico. Meu próximo endereço, por favor!