Felizes só no Insta: A parte sem glamour da vida de influencer

Rede social pode causar depressão e ansiedade: mas será que foi mesmo por isso que os likes sumiram?

  • Foto do(a) author(a) Victor Villarpando
  • Victor Villarpando

Publicado em 4 de agosto de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arte: Correio Gráficos

Fotos perfeitas e posts maravilhosos: que tipo de sofrimento esconde a vida colorida, bem tratada e cheia de filtros do Instagram? No dia 15 de julho, uma segunda-feira, a blogueira Alinne Araújo, 24 anos, que morava no Rio de Janeiro e somava mais de 570 mil seguidores na rede social (@sejjesincera e @alinnerraujo), cometeu suicídio. Ela se casaria no domingo (14 de julho), mas um dia antes o noivo desistiu. A moça resolveu fazer um ‘casamento solo’, compartilhado na rede. Alinne recebeu uma série de comentários de pessoas a acusando de inventar uma situação. Em seu perfil mais popular, ‘Sejje Sincera’ (418 mil seguidores), ela debatia assuntos como depressão, ansiedade e autoestima.

Dois dias depois do suicídio de Alinne, (17), os posts no Instagram passaram a não mais exibir publicamente o número de curtidas. A mudança, em caráter de teste, havia sido anunciada desde abril e, além de no Brasil, foi adotada na Austrália, na Itália e no Japão. No Canadá, a medida passou a valer em maio.

Com mais de um bilhão de usuários ativos pelo mundo, O Instagram foi lançado em 2010. Era apenas para compartilhamento de fotos através de smartphones e tablets. Hoje também comporta vídeos e pode ser visto em computadores. Em 2012, a rede social foi comprada por um valor estimado em U$ 1 bilhão pelo Facebook. A ‘empresa-mãe’ ainda tem bem mais usuários - 2,41 bilhões, de acordo com o próprio Face. Mas o Instagram, hoje, vale 100 vezes mais: 100 bilhões de dólares, segundo estimativa da consultoria estadunidense Bloomberg Intelligence.

Os posts de blogueiras (os) podem dar a impressão da vida perfeita. Mas não é bem assim. Um dos maiores digital influencers do Brasil, Whindersson Nunes (32,3 milhões de seguidores no Insta e mais de 36 milhões de inscritos no Youtube) está afastado dos palcos desde abril, quando anunciou uma pausa na carreira para se tratar de depressão e estresse devido ao ritmo de trabalho.

O Insta não é uma ilha. Dados de 2015 da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que 322 milhões de pessoas sofriam de depressão no mundo, cerca de 4,4% da população do planeta na época. No Brasil, a estimativa era de que 5,8% viviam com o problema. “Há mais de 400 mil pessoas com esse diagnóstico na Bahia. As pessoas aqui têm mais dificuldade de se tratar, seja por preconceito ou por dificuldade de acesso”, diz Miriam Gorender, presidente da Associação Psiquiátrica da Bahia.

Realidade x Fantasia Em nome de ter um perfil bombado e um estilo de vida específico, há ainda quem fique refém de mentiras. Foi o caso de Yovana Mendoza Ayres, que postava conteúdo sobre veganismo e dieta à base de apenas alimentos crus. Nas redes era Rawvana, num trocadilho entre seu nome e a palavra inglesa raw, que significa cru.

Tinha, entre Instagram e Youtube, mais de 3 milhões de seguidores. Depois de ter sido filmada comendo peixe, perdeu seguidores e teve a imagem levada ao chão. Hoje se apresenta como Yovana tem um público de ‘apenas’ 1,6 milhão de pessoas nas duas redes.

Problemas não atingem só grandes celebridades, com milhões de seguidores. As 64,3 mil pessoas que seguem a jornalista Rafaela Fleur (@rafaelafleur), 22, talvez não saibam, mas a moça de looks ousados e maquiagens coloridas já teve autoestima baixíssima, esteve em relacionamento abusivo e foi alvo de haters.“Era um perfil com fotos minhas e ofensas. Falavam de minhas pernas, meus cabelos, meus peitos. Sofri muito, chorei”, conta.Outro episódio envolveu esculacho público por uma digital influencer.“Uma vez, uma grande influenciadora, grande mesmo, postou a comparação de uma foto minha com a de outra menina, apontando imitações. Pior que era verdade. Na época, eu vivia um relacionamento abusivo e meu namorado era meio obcecado pela menina. Então, eu fazia de tudo para parecer com ela. Muita gente me esculhambou, riu de minha cara... Fiquei muito, muito triste”, desabafa.Sabe aquela tristeza que dá em fim de relacionamento? A publicitária baiana Martinha Fonseca (@armariodemadame), 31, teve que contar da dor do fim de um casamento para 81,5 mil seguidores.“Comuniquei às pessoas, deixei muito claro que eu estava me resguardando nos momentos mais difíceis e tristes. Como expus parte do relacionamento, então a satisfação teria que ser dada. O que me incomodou foi que pedi pras pessoas não tocarem nesse assunto comigo, porque é chato passar por isso. E as pessoas queriam me dar conselhos de vida ou fazer perguntas. Foi desgastante. Sei que faz parte do que eu escolhi como trabalho, mas não quer dizer que seja fácil. Às vezes, eu estava tendo um ótimo dia e do nada alguém tocava nesse assunto, começava a comentar”, relembra.Por que sem likes? Não é só postar frequentemente. Os influenciadores que querem fazer dinheiro precisam ganhar mais seguidores, obter muitas curtidas e comentários. E isso pode bugar a cabeça do povo. Em julho deste ano, o ator paranaense Maicon Santini (547 mil seguidores no Youtube e 452 mil no Insta) postou um vídeo sobre sua insatisfação com essas cobranças.“Sinto que preciso pôr vídeo no ar e que tô me escondendo atrás desses vídeos, entro num (modo) automático... Isso não tá me fazendo feliz e não tá fazendo vocês feliz (sic). Meu canal cresce, mas num ritmo lento. Quando mudei para São Paulo e fiz vídeos com meus amigos, todos estávamos na casa dos 300 mil inscritos. Hoje eles tão com 1 milhão, 2 milhões... E eu continuo nos 500 mil. Óbvio que chegou um momento que deu um parafuso na minha cabeça. Eu me cobro muito, isso é meu trabalho. Tenho que dar certo, me sustentar, pagar meu aluguel...”, contou ele, no vídeoA justificativa oficial do Instagram para o fim dos likes, em nota, foi a intenção de que os usuários não se sintam numa competição e que se concentrem mais no conteúdo do que na quantidade de curtidas que recebem.“Tenho certeza que foi por isso. Há uma necessidade de ser informado, manter as pessoas informadas, é um fluxo muito acelerado, você tem que aparecer para ser visto, mas às vezes você não tem conteúdo e isso gera ansiedade, angústia. Tem a questão da vida perfeita também. É um mundo de muita competitividade”, aponta Martinha.Para a publicitária Gabriela Martinez, especialista em mídias sociais e sócia da Mom Comunicação, é uma estratégia de negócio. O objetivo é disfarçar outra: o algoritmo, que é uma configuração que determina o que você vai ver. A tática, que visa aumentar a arrecadação publicitária, foi implantada em 2016 no Instagram, que antes mostrava tudo que havia sido postado em ordem cronológica.“Estava ficando feio já, uma pessoa ter 100 mil seguidores reais e só mil pessoas verem um conteúdo. É uma vergonha pro criador de conteúdo e também para a plataforma, que estava recebendo muitas críticas por isso. Faço um paralelo com o Facebook – que inclusive é dono do Instagram: as pessoas começaram a sair do Face porque viram que não estava valendo a pena, que ninguém via os posts. Quem publica algo quer que aquilo seja visto. Não só influencers, mas pessoas comuns também. Acredito que o desaparecimento dos likes foi para mascarar esse problema do algoritmo, para que o Insta não tenha o mesmo fim do Face”.E tem mais:“Não vou dizer que não existe preocupação nenhuma com a saúde mental dos usuários, mas não acho que esse foi o principal motivo. Não acho que a rede social seja boazinha e se preocupe assim. Foi a desculpa que eles usaram porque em termos de marketing é ótimo, né?”.CEO da Squid, empresa de marketing com influenciadores que já fez campanhas para marcas como Amazon, Brastemp, Volkswagen, Smirnoff, 99, Shell, Lindt, Natura, Azul, Walmart e Arezzo, Isabela Ventura aponta para caminhos semelhantes:“O Instagram é uma empresa e justamente por isso é difícil imaginar que uma mudança como essa não tenha sido planejada pensando em impacto nos negócios. Outro ponto é que existe todo um mercado em torno da compra de likes e seguidores. Com essa alteração, acreditamos que esse mercado perderá força”.Rafaela teoriza além:“Eu acho muita ingenuidade esse discurso de saúde mental. Instagram é negócio, é dinheiro; eles não estão preocupados com saúde de ninguém. Além de camuflar o declínio por conta do algoritmo, acho que eles vão arrumar uma forma de monetizar a visibilidade dos likes em breve. Tipo cobrar uma assinatura de quem queira que esses dados sejam exibidos em seus posts”.Ansiedade, solidão, depressão e narcisismo são problemas mais comuns

Uma pesquisa de 2017 da Royal Society for Public Health (instituição de saúde pública do Reino Unido) em parceria com o Young Health Movement (Movimento de saúde jovem, em inglês) examinou aspectos positivos e negativos das mídias sociais na saúde mental de 1.479 britânicos com idades entre 14 e 24 anos. O resultado: o Instagram é o mais nocivo, seguido de perto por Facebook e Snapchat. Nas últimas posições vêm Twitter e Youtube.

Entre os 14 pontos relacionados no estudo, estão ansiedade, depressão, solidão, problemas para dormir, distúrbio de autoimagem, bullying e FoMO (Fear Of Missing Out, que significa medo de perder algo - a sensação de que é preciso estar conectado o tempo inteiro para que as coisas não aconteçam sem você).“Os problemas mais comuns causados pelas redes sociais são ansiedade e depressão. Na última segunda-feira mesmo tive duas novas pacientes que vieram exatamente com esse discurso, de se sentir mal por conta das redes sociais. Elas são um termômetro, é como se a vida fosse uma corrida e você se pergunta em que posição está. Isso é muito perigoso”, conta a psicóloga Niliane Brito.Outra questão, de acordo com Marcelo Veras, psiquiatra e psicanalista, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e autor do livro Selfie, Logo Existo - Posts Psicanalíticos Baseados em Fatos Reais, é o narcisismo.“Acho salutar que comecem a ter mecanismos para frear que o nosso narcisismo fique refém de likes, de pessoas que muitas vezes nunca ouvimos falar. Anteriormente, nosso narcisismo, nossa imagem, ficava capturado no nosso ambiente familiar, no trabalho, onde havia um mínimo de contato visual. Mas hoje todos nós nos tornamos reféns de grupos, pessoas e massas completamente desconhecidos”, afirma.O pesquisador, que coordena o Plantão de Acolhimento do Programa PsiU – Universidade, Saúde Mental e Bem-estar da Universidade Federal da Bahia, voltado para a escuta de questões pontuais que causam angústia e tensões aos membros da comunidade universitária, aponta ainda um empobrecimento da palavra e um favorecer do 'parecer'.“Discordo daquela frase que diz que uma imagem vale mais que mil palavras. O que percebo é que uma imagem nos faz perder mil palavras. Muito mais importante se mostrar pela imagem do que mostrar as ideias. Como consequência, a falta das mil palavras nos faz ter julgamentos instantâneos em cima de uma imagem. Vimos a devastação que isso fez, por exemplo, nas últimas eleições, com as fake news, onde imagens eram editadas e jogadas em cima de um público despreparado para identificar a veracidade daquelas notícias”, pontua.O que fazer? Para Niliane, é importante usar as redes sociais.“Elas têm muitos lados positivos, mas tem que saber usar: se divertir, falar de coisas boas, se envaidecer... Por que não? O problema é quando vira um processo obsessivo de comparação, quando te paralisa. Aí é um alerta para procurar ajuda”, diz.Confira, abaixo, 10 dicas para usar o Instagram de maneira saudável. Mas e quem já está se sentindo mal, o que deve fazer?

A primeira recomendação do psiquiatra, professor de Saúde Mental da FTC e preceptor do programa de residência médica em Psiquiatria do Hospital Juliano Moreira Francisco Medauar é procurar psicoterapia.“Acompanhamento psicológico é fundamental para o paciente perceber que a realidade não é aquela utopia virtual. Se o paciente já estiver adoecido, muitas vezes é necessário o psiquiatra. Caso esteja em um período mais inicial de sofrimento, a psicoterapia, sozinha, pode ser suficiente para reverter isso”, orienta.Marcelo Veras também enxerga esse passo como importante:“Acredito que a atitude de procurar um especialista em si já uma atitude de cura. Eventualmente, claro, percebemos que existem pessoas que são completamente capturadas pela imagem e isso vem desde os primeiros dispositivos da rede social. Nesse sentido, restauração da palavra. Só o fato deles chegarem até aqui, falarem sobre isso, já mostram um distanciamento desse comportamento de enxergar uma imagem e apontar o dedo imediatamente”.#Publi e recebidos estão com dias contados? Entenda o que muda para as blogueirinhas

Se, aparentemente, o Instagram escondeu os likes pensando na grana, o que muda para os influencers dos pontos de vista de financeiro e comercial? Tudo vai continuar na mesma para quem faz o famoso #publi (postagem patrocinada). “As métricas de vaidade, como chamamos os likes, eram muito atreladas ao sentimento de competição entre os usuários. Porém, é importante reforçar que muito mais do que o número de likes, o importante para quem trabalha como criador de conteúdo é a criatividade, qualidade do conteúdo que ele produz e o ambiente em que as conversas são geradas. O criador de conteúdo age como um conector entre a mensagem de uma marca e a comunidade de seguidores”, pontua Isabela. De acordo com ela, ainda é cedo para dizer, porém os likes não “morreram” como engajamento. Isso porque o número de curtidas foi omitido apenas do público em geral. “Internamente (na Squid) não fomos impactados pela mudança pois nossa tecnologia continua lendo normalmente os dados que compõe a taxa de engajamento. Sendo assim, nossas campanhas com influenciadores continuarão computando a quantidade de likes normalmente”, justifica.

Gabriela explica, ainda, que mesmo quem não está vinculado a nenhuma agência com sistema de monitoramento, como a Squid, normalmente já precisava fazer um relatório com dados de alcance (quantas pessoas viram) e engajamento (quantas curtidas e comentários teve o post). “Já existiam alguns dados que só quem vê é o dono da conta e, geralmente, quando o produtor de conteúdo faz algum trabalho, ele precisa fazer um relatório. Então isso vai continuar acontecendo”, conta.

Talvez a principal mudança seja mesmo no modo de ostentar as curtidas. “Não duvido que as pessoas comecem a printar essas coisas e publicar pros seguidores. Tipo: ‘olha aqui quantas curtidas essa postagem teve’. As pessoas já estavam pedindo like com compartilhamento de foto da timeline no story. Talvez agora só mude o foco: vão pedir comentários”, diz Gabriela.

Influencer também sofre

@sejjesincera

418 mil seguidores no Instagram Alinne Araújo (Foto: Reprodução/Instagram) Dona do perfil de Instagram ‘Sejje Sincera’, Alinne Araújo (@alinnearaujo, com cometeu suicídio no último dia 15. Moradora do Rio de Janeiro, ela se casaria dia 14, mas um dia antes (13), o noivo desistiu. E comunicou-a através de um aplicativo de mensagens.

A blogueira resolveu fazer um ‘casamento solo’ e compartilhou na rede. Alinne recebeu uma série de comentários de pessoas a acusando de inventar uma situação para postar. No ‘Sejje Sincera’, ela debatia assuntos como depressão, ansiedade e autoestima.

@whinderssonnunes

32,3 milhões de seguidores no Instagram e 36 milhões no Youtube O comediante Whinderson Nunes (Foto: Reprodução/Instagram) O comediante piauiense de 24 anos está afastado dos palcos desde abril, quando anunciou uma pausa na carreira para se tratar de depressão e estresse devido ao ritmo de trabalho. Em entrevista no Fantástico (TV Globo ) há dois domingos, ele desabafou:(sentia) Um mix de muita coisa. Ficava conversando comigo mesmo, à tarde. Quando ia ver, já estava tudo escuro, já era noite, ‘meu Deus do céu, preciso tomar um banho, escovar os dentes, ir ao shopping, assistir a um filme, fazer alguma coisa, porque não estou batendo bem das ideias’. Aí eu me preocupava.Ele procurou psicólogo, psiquiatra, fez terapia e tomou remédios. Agora, faz ioga e trabalha para criar um aplicativo que vai ajudar pessoas em depressão com atendimentos gratuitos por profissionais voluntários.

Está tão bem que já anunciou o retorno aos palcos, com seu novo show - A volta do que não foi: a primeira apresentação será no dia 18 de agosto, em São Paulo. Depois ele passará por Feira de Santana (Bahia), Natal (Rio Grande do Norte) e Parnaíba (Piauí).

No dia 15 do mesmo mês, estreia na Netflix o filme Whindersson Nunes – Adulto, gravado num show dele em Fortaleza, que contou com 22 mil pessoas no público.

@yovana

1,2 milhão de seguidores no Instagram e 468 mil no Youtube Yovana (Foto: Reprodução/Instagram) Lembra do caso da blogueira que dizia ser vegana e só comer vegetais crus, mas que foi flagrada devorando um peixe grelhado? É Yovana Mendoza Ayres.

Antes da casa dela cair, ao ser filmada, ao acaso, por uma amiga, ela era Rawvana nas redes sociais, num trocadilho com seu nome e a palavra inglesa raw, que significa cru.

Entre Instagram e Youtube, tinha mais de 3 milhões de seguidores. Hoje, com cerca de 1,4 milhão de seguidores a menos, ela voltou a usar o nome de Yovana. Mas continua lá, postando dicas de vida saudável e beleza.

@maiconsantini

453 mil seguidores no Instagram e 548 mil no Youtube O ator paranaense Maicon Santini (Foto: Reprodução/Instagram) Em 6 de junho, o ator paranaense Maicon Santini postou em seu canal no Youtube um vídeo com a cara inchada como quem acabava de chorar.“Se você veio aqui esperando entretenimento, hoje não vai ter”, disse, no início da gravação.O rapaz contou um pouco de sua história, de como começou na vida de influencer - amigo de famosos como Kéfera Buchmann, que tem 12,8 milhões de seguidores no Instagram e mais de 11 milhões no Youtube – e abriu o coração: estava profundamente infeliz.“Comecei a entrar em depressão: tava cansado das coisas do canal, de ter que fazer vídeo, de investir nisso. Voltei a ter depressão, que já tive antes. Janeiro e fevereiro foram bem puxados, não fechei nenhum trabalho. Foi uma merda, de perrengue aqui em casa, de dificuldade de produzir conteúdo porque eu tava desanimado”, contou o rapaz, no vídeo.@rafaelafleur

64,3 mil seguidores no Instagram A jornalista Rafaela Fleur (Foto: Reprodução/Instagram) Quem vê a moça cheia de looks ousados e maquiagens coloridas nem imagina, mas Rafaela Fleur, 22, já teve autoestima baixíssima, esteve em relacionamento abusivo e foi alvo até de haters.“Era um perfil com várias fotos minhas, me ofendendo e apontando defeitos dos mais diversos. Falavam de minhas pernas, meus cabelos, meus peitos. Sofri muito com isso, chorei”, conta.Outro episódio envolveu esculacho público por uma digital influencer.“Uma vez, uma grande influenciadora, grande mesmo, pegou uma foto minha e postou, comparando com o perfil de outra menina, apontando que eu imitava tudo. O pior é que era verdade. Na época, eu vivia um relacionamento abusivo e meu namorado era meio obcecado por essa menina. Então, eu fazia de tudo para parecer com ela. Não tinha maturidade. Veio muita gente me mandar esculhambação, rir da minha cara... Fiquei muito, muito triste”, desabafa.Ela, que já fez publis para marcas como Coca Cola, Melissa, Tic Tac e L’ Oreal, afirma que ter passado por essas situações a fez amadurecer.“Hoje sou bem livre em relação de pressões nesse sentido. Sei do que gosto e do que acho bonito e isso não tem que ser igual ao que ninguém pensa. O que vai para o insta, de minha vida, é o recorte do recorte do recorte”, diz.@armariodemadame

81,5 mil seguidores no Instagram e 67,7 mil no Youtube A jornalista Martinha Fonseca (Foto: Reprodução/Instagram) Há nove anos, quando Martinha Fonseca, 31, começou na vida de influenciadora, o termo nem existia e o Instagram era um bebê recém-nascido. Hoje vive do trabalho nas mídias sociais e, como produtora de conteúdo ligado a moda, bem-estar e lifestyle, divide com os seguidores muitos momentos de sua vida.

Inclusive a tristeza de um casamento que durou apenas seis meses, período no qual ela publicou fotos e vídeos sobre a primeira vez em que usou a máquina de lavar, as idas ao supermercado, as escolhas da decoração e até um tour pelo apartamento."Namorei por cinco anos e resolvemos morar juntos. O que eu fiz foi compartilhar essas experiências mesmo, de dona de casa de primeira viagem", conta ela.O que mais doeu para ela, nesse processo?“Como expus parte do relacionamento, então a satisfação teria que ser dada. Eu comuniquei às pessoas, deixei muito claro que eu estava me resguardando nos momentos mais difíceis e tristes. O que me incomodou foi que pedi pras pessoas não tocarem nesse assunto comigo porque é chato passar por isso. E as pessoas queriam me dar conselhos de vida ou fazer perguntas. Foi chato e desgastante. Sei que faz parte do que eu escolhi como trabalho, mas não quer dizer que seja fácil. Às vezes, eu estava tendo um ótimo dia e do nada alguém tocava nesse assunto, começava a comentar”, relembra.A moça já trabalhou com marcas como Pantene, Gilette, Pandora e Shopping da Bahia.

10 dicas pra usar o insta de forma saudável, por Francisco Medauar

(médico psiquiatra, professor de Saúde Mental da FTC, preceptor do programa de residência médica em Psiquiatria do Hospital Juliano Moreira. Atualmente, desenvolve pesquisa sobe "O que pensam os usuários de redes sociais sobre temas como ‘depressão’ e ‘ansiedade’?”, no perfil de Instagram @rara.mente)

1- Use com moderaçãoÉ importante estabelecer limites para o tempo que se passa na plataforma.*No menu do Instagram há um botão chamado Sua Atividade, que mostra por quantos minutos (ou horas) você usou o app na última semana. Lá também dá estipular um tempo máximo diário. Quando atingí-lo, será enviado um alerta.

2- “Tenha filtro”A pessoa precisa desenvolver um senso crítico sobre o que está sendo visto, lido e publicado.3- Tenha uma vida fora da rede socialA vida é complexa e cheia de possibilidades. Não vale a pena deixar de fazer outras coisas para ficar só no mundo da telinha.4- Não faça comparaçõesCada pessoa tem uma vivência. Passou ou passará por experiências diferentes.5- Caso a rede social não te faça bem, dê um tempoÉ válido desinstalar o aplicativo por um tempo. Brinco que é tipo fazer um detox.6- Se concentre no que está vendoMuitas vezes, abrimos o aplicativo automaticamente, e, quando percebemos, estamos vendo alguma coisa que nem nos interessa e não vai acrescentar em nada.7- Evite usar em momentos sociais.Para quê ficar pendurado no celular quando está num encontro entre amigos ou num almoço em família? Prefira a interação no mundo real.8- Não pule de rede social em rede socialAlgumas pessoas entram num ciclo Instagram-Facebook-Whatsapp que é um looping infinito... Não recomendo.9- Desative os alertas!Também é possível fazer isso pelo botão Sua Atividade, no menu do próprio Instagram.10- Lembre-se, ninguém é feliz 24 horasÉ natural que as pessoas tenham momentos de recolhimento, tristeza, preguiça...'Quando o almoço é grátis, normalmente você vai ser a sobremesa. Virou quase um luxo não expor tanto o cotidiano' 

Marcelo Veras é psiquiatra e psicanalista, é autor do livro Selfie, Logo Existo - Posts Psicanalíticos Baseados em Fatos Reais e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Confira entrevista:

Pergunta: Muita gente associou o desaparecimento de likes no Instagram com preocupação da plataforma com saúde mental e bem-estar dos usuários. Isso faz sentido? Resposta: Eu não posso garantir que o Instagram tenha feito isso pensando muito em seus associados. Costumo dizer que quando o almoço é grátis, normalmente você é a sobremesa. É bem difícil ainda mapear o que isso significa, mas acho ainda salutar que se comecem a ter mecanismos para frear que o nosso narcisismo fique refém de likes, de pessoas que muitas vezes nunca ouvimos falar. Anteriormente, nosso narcisismo, nossa imagem, ficava capturado no nosso ambiente familiar, no trabalho, onde havia um mínimo de contato visual. Mas hoje todos nós nos tornamos reféns de grupos, pessoas e massas completamente desconhecidos. Nesse sentido, não transformar todos os usuários do Instagram em reféns dos likes me parece algo salutar.

P: Que tipo de problema está sendo causado pelo uso do Instagram e de redes sociais? R: Um dos problemas eu já falei, é o narcisismo. Outro fator que acho fundamental é que discordo daquela frase que diz que uma imagem vale mais que mil palavras. O que percebo é que uma imagem nos faz perder mil palavras. Há um empobrecimento da palavra em favorecer do parecer, em detrimento de um certo ser que se posiciona com argumentos. Muito mais importante se mostrar pela imagem do que mostrar as ideias. Isso, claro, traz consequências principalmente porque a falta das mil palavras nos faz ter julgamentos instantâneos absolutamente em cima do mero julgamento de uma imagem. Vimos a devastação que isso fez, por exemplo, nas últimas eleições, com as fake news, onde imagens eram editadas e jogadas em cima de um público despreparado para identificar a veracidade daquelas notícias.

P: O que se costuma recomendar a pacientes nessas situações? R: Acredito que a atitude de procurar um especialista em si já é uma atitude de cura. Eventualmente, claro, percebemos que existem pessoas que são completamente capturadas pela imagem e isso vem desde os primeiros dispositivos da rede social. Nesse sentido, restauração da palavra. Só o fato deles chegarem até aqui, falarem sobre isso, já mostram um distanciamento desse comportamento de enxergar uma imagem e apontar o dedo imediatamente.

P: Há diferenças entre possíveis males causados a 'usuários comuns' e a pessoas que são digital influencers? R: O que me preocupa nessa expressão ‘digital influencer’ é que ela parte de um princípio errado. Primeiro você decide que quer influenciar as pessoas, depois vê de que maneira. Antigamente as pessoas que me influenciavam - e que me influenciam até hoje - tinham algo construído, uma caminhada, e depois elas compartilhavam. Hoje o que eu vejo é “eu quero ser digital influencer” sem nem pensar no que quer transmitir. Ou seja, tornar-se digital influencer é uma posição vazia e que depois vão colocando o recheio, isso que me parece algo até patético, que mostra como estamos cada vez mais nos desfazendo de certo poder da dialética do conhecimento e simplesmente se apegando ao mundo hipnótico das imagens.

P: Acredita que a popularidade do Instagram e demais redes sociais aumentou a incidência desses males? R: Não saberia dar estatísticas certas, mas é claro que isso promove uma certa mutação no modo como vamos nos relacionar socialmente a partir de uma premissa já bastante verificada em alguns trabalhos: por que dispositivos que foram feitos para hiperconectar os seres humanos os deixam cada vez mais afastados? E porque dentro dessa miragem da conexão virtual desaprendemos a ter conexões reais que envolvem corpo? Isso fica evidente na busca frenética pela pornografia, que não transformou o homem contemporâneo em uma pessoa mais bem resolvida sexualmente. Por outro lado, percebe-se que em aplicativos como Tinder, Par Perfeito e Grindr, que quando eles são feitos para curar alguma vontade sexual imediata, eles funcionam, mas em pouquíssimos casos geram relações duráveis. Isso não quer dizer que nós, da psicanálise, somos nostálgicos de um mundo que não existe mais, é claro que essas tecnologias vieram pra ficar. Nada de fazer nostalgia, pelo contrário, eu, por exemplo, uso enormemente as redes sociais.

P: No caso de crianças e adolescentes que utilizam a plataforma? R: Eles que usam por mais tempo as redes. Alguns estudos mostram que eles passam no máximo vinte segundos em cada tela. Esse encurtamento faz com que se vá perdendo um pouco a capacidade de descobrir coisas novas, nuances e sutilezas das informações absorvidas. Muitos estudos mostram que os adolescentes estão mais conectados porém não necessariamente mais felizes. É muito curioso isso. Percebe-se uma diferença nítida entre pessoas que estavam deprimidas e pessoas que não estavam deprimidas onde em determinada pesquisa foi-se conhecer um pouco o Facebook daquela pessoa nos últimos dois anos que precederam a depressão. O que se percebeu é que aquelas pessoas depressivas falavam muito de si nas redes, se expunham demais, em busca de resolver um vazio existencial. Por outro lado, crianças pequenas quando ganham um tablet já sabem exatamente como mexer, dão de cara com o mundo. Seria muito mais interessante eles brincarem com massinha, ou acontece aquele processo que comentei anteriormente. O jovem sabe tudo sobre sexo, mas não sabe brincar com massinha, que é o corpo do outro.

P: Que tipo de queixas ligadas a redes sociais você já ouviu de pacientes? R: Minimamente o que percebo no cotidiano clínico é o desencanto das promessas de relacionamentos virtuais. O tanto que essas relações costumam não ir adiante por conta de um comportamento novo que é o ‘dar vácuo’. As pessoas começam a conversar, manter um relacionamento, e ao invés de terminarem um com o outro, uma das pessoas simplesmente desaparece e deixa o outro lá sabem saber o que aconteceu. Ou seja, não existe na rede virtual um compromisso no momento de se desfazer dessa relação. Esse é um ponto. Outra coisa frequente são pais preocupados com o excesso de tempo que os filhos passam na internet. Não acho que esse seja essencialmente o problema, mas muitos pais sequer sabem usar as redes sociais. Sabemos inclusive que foram os mais velhos e conservadores que mais disseminaram fake news. Os jovens são mais safos, sabem lidar melhor com isso. A preocupação não é nem os jovens usarem muito a internet, é os pais não saberem lidar com isso, não desenvolverem a gramática do olhar.

P: Uma pesquisa do órgão de saúde pública do Reino Unido em 2017 apontou o Instagram como rede social mais nociva. O Snapchat e o Facebook vieram logo em seguida. Você concorda? R: Eu não quero demonizar as redes sociais. Antes era a TV o motivo do vício. É o Instagram porque é a rede do momento e é uma rede essencialmente imagética. Não nos ensina muito a fazer reflexões profundas, é tudo muito superficial. Porém, há outro grande problema no Instagram que é o declínio completo da intimidade. Ele começa desde o momento em que passamos a gostar mais dos ídolos na banheira, passeando, do que nas telas ou nos palcos. Começou com os Big Brothers, quando o interesse pela intimidade de pessoas comuns tornou-se maior que o interesse pela vida de artistas. Depois vieram os smartphones, onde nós somos a estrela do show da nossa intimidade. Nós expomos a nossa intimidade - fake, claro -, ou verdadeira às vezes. Essa ruptura da barreira entre o público e o privado faz com que nos tornemos muito mais expostos e vulneráveis, muito mais suscetíveis até do linchamento público. Então talvez a maior dica seja a preservação dessa intimidade. Virou quase um luxo a gente não se expor tanto, não expor tanto o cotidiano.

P: Em sua opinião, qual o papel de quem produz conteúdo no Instagram? R: Para mim, os bons digitais influencers são aqueles que usam essa plataforma para expor a arte, para expor aquilo que merece ser compartilhado visualmente. O trabalho do artista, do fotógrafo, de quem trabalha com moda. Eu gosto muito mais do produto em si do que do lifestyle, me preocupa muito essa ideia de que estamos tão perdidos que precisamos do estilo de vida do outro para nos encontrar. O cuidado é isso mesmo. Saber separar o público do privado. Há uma revolução aí vindo, ainda não é possível mensurar esses efeitos, muitos deles já estão acontecendo.

O que são e como funcionam algumas das principais redes sociais

Instagram

Com mais de um bilhão de usuários ativos pelo mundo, a rede social foi lançada em 2010, pelo americano Kevin Systrom e pelo brasileiro Mike Krieger. Era apenas para compartilhamento de fotos através de smartphones e tablets. Em 2012, o Instagram anuncia que foi comprado pelo Facebook e, menos de um ano depois, o app comemorou 100 milhões de usuários. Em junho do mesmo ano, passou a possibilitar que as pessoas postassem também vídeos. A marca de 400 milhões de usuários foi atingida em setembro de 2015 e, em comunicado oficial, a empresa apontou que mais de 75% dos instagrammers viviam fora dos Estados Unidos, especialmente no Brasil, no Japão e na Indonésia. O Instagram Stories, ferramenta de postagens que se autodeletam após 24 horas, foi lançado em agosto de 2016.

Snapchat

Com 203 milhões de usuários, permite a criação de narrativas audiovisuais de até 60 segundos que somem após 24 horas, chamadas de snaps. É popular pelas funcionalidades de realidade aumentada e filtros, como vomitar um arco-íris e saber como você seria se fosse do gênero oposto. Foi criada por Evan Spiegel e Bobby Murphy em 2011.

Facebook

Rede social mais popular do planeta, com 2 bilhões de usuários ativos, permite compartilhamento de fotos, vídeos, textos, criação de eventos, troca de mensagens instantâneas, transmissões ao vivo, posts no formato stories, ligações de áudio e de vídeo, joguinhos online... É um universo. Foi criada em 2004 pelo americano Marck Zuckerberg (hoje CEO), juntamente com outros três colegas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Um deles foi o brasileiro Eduardo Saverin.

Twitter

O formato de microblogging permite aos usuários enviar e receber atualizações de outros contatos, em textos limitados a até 280 caracteres, conhecidos como tweets. Nos dez primeiros anos da rede social desde o lançamento, em 2006, o limite de caracteres foi ainda mais severo: 140 toques. Isso porque ideia inicial dos fundadores - os norte-americanos Jack Dorsey, Evan Williams, Biz Stone e Noah Glass - era que o Twitter fosse uma espécie de SMS da internet.

Youtube

Plataforma de compartilhamento de vídeos. Não tem muito o perfil de ‘diário digital’ que é bem comum em Instagram, Snapchat e Facebook. É muito usada para videoclipes, música, debates, aulas, programas jornalísticos e até ASMR, aqueles vídeos com pessoas sussurrando e reproduzindo sons específicos como o amassar de uma embalagem de presente. Tem mais de 2 bilhões de usuários únicos mensais. Foi criada por três ex- funcionários do PayPal (empresa de pagamentos online): Chad Hurley, Steve Chen e Jawed Karim, em fevereiro de 2005. No ano seguinte, o Google comprou o site por 1,65 bilhão de dólares.