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Nelson Cadena
Publicado em 15 de novembro de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Uma das consequências para o Brasil da implantação do regime republicano, em 15 de novembro de 1889, foi a decretação alguns anos depois de mais um feriado cívico, dentre outros. Já comemorávamos o feriado de 7 de setembro, marco da Independência do Brasil e na Bahia, também, o 2 de Julho, referência da nossa Independência, conquistada em um processo de guerra civil. O governo Arthur Bernardes criou o Dia do Trabalho em 1924, a data comemorada desde 1919 na França e na sequência em outros países. Outros feriados nacionais foram instituídos, o de Tiradentes em 1930, referendado em 1965, e o de Nossa Senhora da Aparecida, este, em 1980.>
No Brasil colônia tínhamos exclusivamente os feriados religiosos e as celebrações pontuais de acontecimentos ligados à Monarquia. Na Bahia celebramos com pompa, participação popular compulsória e muitos recursos o noivado da Princesa Maria, futura Rainha Dona Maria, com seu tio, o infante Dom Pedro, em 1760. Santo Amaro exagerou nas comemorações e no esplendor das festas e decretou três semanas de eventos; São Francisco do Conde e Salvador celebraram durante uma semana.>
O Senhor de Engenho, Sebastião Borges de Barros, ostentou na ocasião todo seu poder e riqueza. Desfilou em Santo Amaro, com 600 milicianos, seu exército particular, e um séquito de escravos, alguns a pé, outros a cavalo, com vistosos chapéus de plumas, ao som de tambores e trompetas; corporações de ofício apresentaram performances e não faltaram as congadas, cavalhadas e danças de curumins.>
Com a chegada da família real ao Brasil passamos a comemorar eventos mais próximos da Corte como o aniversário de Dona Maria I, todo ano, e do príncipe Regente Dom João, em 13 de maio. A Real Fábrica de Vidros chegou a anunciar um estoque de 80 mil luminárias prontas para a celebração do aniversário de Dom João VI em 1816. E como iluminar as casas era compulsório, sob pena de punição, quem ousaria deixar no escuro?>
O natalício de Dom Pedro I era celebrado em 12 de outubro, na data o Passeio Público recebia iluminação especial, uma orquestra animava o povo e nas ruas tropas de vários regimentos desfilavam pela cidade. E quando chegou no Brasil a notícia do casamento de Dom Pedro I com Dona Leopoldina, um edital ordenou aos habitantes três dias de festas e a obrigação de iluminar as janelas e as sacadas das casas e foi realizado um espetáculo de touros para os nobres em um curro montado no Forte de São Pedro.>
No Brasil do segundo reinado diminuíram as festas cívicas enquanto se fortaleceram as religiosas. A do Corpus Christi já era celebrada antes mesmo da chegada da família real, porém ganhou maior protagonismo da Câmara de Vereadores no século XIX. As festas de Natal e Reis, eram períodos de férias e o Carnaval, introito da quaresma, já era celebrado entre nós, desde o século XVI, por influência dos Jesuítas. O Carnaval ocorria mesmo em períodos de guerra. Foi celebrado pelos holandeses durante a ocupação da cidade em 1625. Beberam todas, ficaram de porre, dispararam balas de canhão para o ar como quem lança jogos de artifício e até convidaram prisioneiros ilustres __o vice-rei do Peru__ para celebrarem juntos.>
O grande feriado dos baianos, porém, era o da Semana Santa, celebrado com várias procissões, a dos fogaréus era uma das mais concorridas em Salvador, deixou de ser realizada em 1872. Os feriados tradicionais foram mantidos ao longo do tempo e o poder público ampliou o seu alcance instituindo o tal ponto facultativo, virou feriadão. Um artificio dentro da lei para driblar as leis, se é que dá para entender. >