Festa do Bonfim é marcada por homenagens às vítimas da pandemia

Público ignorou recomendações para ficar em casa e visitou a Colina Sagrada

  • Foto do(a) author(a) Gil Santos
  • Gil Santos

Publicado em 13 de janeiro de 2022 às 15:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Paula Fróes/ CORREIO

As celebrações ao Senhor do Bonfim em Salvador, neste ano, incluíram uma homenagem às 650 mil vítimas da covid-19, no Brasil. Um painel com fotos de pessoas que morreram de complicações provocadas pela doença foi colocado no meio da praça, em frente à igreja, nesta quinta-feira (13). Houve um minuto de silêncio e orações aos mortos e aos sobreviventes da pandemia.

Por volta das 10h, o reitor da Basílica Santuário Senhor do Bonfim, padre Edson Menezes, se dirigiu ao meio da praça acompanhando de cadetes da Polícia Militar e do juiz da devoção, Francisco Pitanga. Eles levaram duas coroas de flores. Esse foi um dos momentos mais marcantes da manhã. O público se aglomerou em volta do painel com as fotos das vítimas para assistir a homenagem e fez um minuto de silêncio. Algumas pessoas se emocionaram. Público ofereceu flores e fez orações pelas vítimas da pandemia (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Depois, houve orações e o ato encerrou com um Pai Nosso e aplausos, mas logo em seguida um carro passou pelo local bradando o Hino ao Senhor do Bonfim, o que para alguns fiéis foi um sinal de esperança em dias melhores. O padre Edson disse que a homenagem foi um momento comovente e que serviu para elevar as preces a Deus pelo descanso eterno dos que partiram e para renovar a fé de que a pandemia será superada.“Quem perdeu um ente querido ou conhece alguém que está passando por essa dor, é preciso dizer para não perder a esperança e a confiança em Deus. Nós cristãos acreditamos na ressureição, mesmo que a morte seja prematura, nós não podemos desanimar. Deus é a nossa confiança e a nossa esperança”, afirmou.Depois do encerramento do ato, ele voltou para o interior da igreja e deu uma benção que foi transmitida pelas redes sociais e também através do sistema de som para as pessoas que estavam na praça. A baiana de acarajé Tatiane Barbosa teve covid e precisou ficar acamada. Nesta quinta-feira, ela voltou à Colina Sagrada para agradecer por ter vencido a doença.

"Fiz a caminhada da Feira de São Joaquim até o Bonfim para agradecer. Tive sintomas muito fortes por conta da covid, no ano passado, mas me recuperei. Estou vacinada e trabalhando, então, tenho muita gratidão por estar bem e por minha família também estar bem", disse. 

Tatiane compareceu devidamente caracterizada. Além das vestes, ela levou água de cheiro para lavar os degraus da igreja, como acontecia antes da pandemia, e depois se curvou para uma oração. No sincretismo religioso existe uma relação entre Senhor do Bonfim e o orixá Oxalá. Tatiane cumpriu todo o rito como agradecimento por ter vencido a covid (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Vai e vem Mais uma vez a festa do Senhor do Bonfim precisou se adaptar às restrições da pandemia, por isso, não houve cortejo, grandes aglomerações e políticos. A igreja nem sequer abriu as portas, mas muitos fiéis não se deram por vencidos e, ignorando os apelos das autoridades para que ficassem em casa, subiram a Colina Sagrada para agradecer pelo ano que passou e pedir pelo ano que começou. Muitos fizeram os 8 km de caminhada.

As celebrações do Bonfim de 2022 foram diferentes da tradicional, mas também não foram iguais a de 2021, a começar pela programação oficial. No ano passado, a imagem do santo percorreu as ruas de Salvador em cima de um veículo do Corpo de Bombeiros. Desta vez, não houve desfile. Além disso, o acesso à Colina Sagrada foi liberado o que permitiu a presença do público na praça e impediu o silêncio que tomou conta do local no ano passado, quando pórticos proibiam a subida dos fiéis. Josué fez uma corrida de 8km para agradecer (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Desde o início da manhã, vários fiéis faziam o percurso de 8 km entre a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, no Comércio, e a Basílica Santuário Senhor do Bonfim. A maioria vestia branco, carregava uma garrafa de água e usava roupas leves, como manda a tradição. O autônomo Josué Conceição, 37 anos, foi uma dessas pessoas. Ele fez o trajeto correndo e levando nas mãos uma cruz em homenagem ao santo.

“Participo da festa há muitos anos. No ano passado, acompanhei a carreata correndo. Não podia deixar de vir, de agradecer pelo ano que passou, porque apesar da pandemia e de tudo o que aconteceu não perdi ninguém da minha família. Comecei a corrida por volta de 8h e passei na igreja de Santa Luzia no caminho para pedir uma benção. A nossa fé é o que move montanhas”, disse. Movimento de fiéis foi intenso durante toda a manhã (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Com o acesso liberado à praça, um intenso vai e vem de pessoas vestidas de branco tomou conta da ladeira da Colina Sagrada. Turistas e famílias também marcaram presença. Como o templo estava fechado, os fiéis usaram os degraus em frente a grade para fazer as orações e cada espaço era disputado, fosse para rezar ou para fazer uma selfie.

Mesmo após a benção do padre, anunciada por volta de 10h30, muitos fiéis permaneceram na praça. Até o meio-dia a quantidade de público era intensa. A igreja será aberta apenas às 18h, para a continuidade da novena que está sendo realizada em homenagem ao santo desde o dia 7 de janeiro. Maioria do público vestiu branco e a igreja ficou fechada (Foto: Paula Fróes/ CORREIO) Confira a programação dos próximos dias:

Sexta-feira (14)16h – Recitação do terço da misericórdia pela conversão da humanidade 19h – 8ª noite da novena Subtema: “Chamados a ser uma Igreja em saída” Sábado (15)19h - 9ª noite da novena  Subtema: Chamados a caminhar com o Papa Francisco e a acolher seu apelo para que sejamos “uma Igreja casa e escola de comunhão”, “com uma fisionomia acolhedora”, “uma Igreja que encontra novos caminhos” Domingo (16)Acontecerá a Caminhada Virtual do Bonfim “Quem tem fé vai a pé, onde estiver”. Além de manter a tradição, os participantes são convidados a praticar um gesto de solidariedade adquirindo uma camisa, no valor de R$ 33,00. Toda a renda arrecadada será destinada ao projeto Bom Samaritano, obra de misericórdia da Basílica Santuário que presta assistência social a mais de 300 pessoas mensalmente.