Fieb prevê reação da indústria baiana em 2019: 'expectativas são as melhores'

De olho em novo governo, setor espera melhora na construção civil e infraestrutura

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  • Yasmin Garrido

Publicado em 11 de dezembro de 2018 às 18:00

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Foto: Evandro Veiga/CORREIO O presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Ricardo Alban, apresentou nesta terça-feira (11) as expectativas para o setor industrial em 2019, tanto para o cenário nacional quanto para a Bahia. E as maiores esperanças de reaquecimento da economia nacional e local são a construção civil e as obras de infraestrutura.

De acordo com o último Relatório de Mercado do Banco Central, em 2019, a produção industrial brasileira deve ter crescimento de 3%, assim como é esperado para a Bahia. Neste ano, os números foram menores – 2,2% no cenário nacional e apenas 1% no estado.

Para Alban, “todo início de ano é positivo e as expectativas são as melhores possíveis, mas essa projeção do Banco Central só o tempo poderá dizer se vai se concretizar. É o que todo mundo quer”.

Segundo Alban, o Brasil continua na média das economias emergentes, sendo esperado que suba algumas posições, para ficar atrás, apenas, de China e Índia, com a manutenção da inflação em 4,1%. No entanto, o presidente da Fieb ressaltou que tudo isso depende de como se comportará o mercado internacional.“O ano sempre começa com perspectivas positivas e depois ele mostra o que, de fato, vai acontecer. Então, não existe motivo para empolgação agora”, disse.Perspectivas para a Bahia Os estados brasileiros têm enfrentado, nos últimos quatro anos, uma crise econômica e política de grandes proporções, o que causou impactos no setor industrial. Por esse motivo, a aposta da Fieb é que a construção e a infraestrutura alavanquem a economia e a produção estadual, contribuindo para a redução do desemprego.

“Isso envolve decisões de política e de governo, de criar ações de financiamento internacional, estimulando a geração de obras e, consequentemente, de emprego, nos setores de energia, estrada etc. É uma geração de emprego por estratégia de governo, que não tem nada a ver com política partidária", observou Alban. 

Segundo dados do IBGE, até o terceiro trimestre o setor de construção civil foi responsável por criar 466 mil empregos durante o terceiro semestre de 2018 - número superior aos 459 mil empregos gerados pelo setor no mesmo período do ano anterior. Contudo, o presidente do Sindicato da Indústria da Construção do Estado da Bahia (Sinduscon), Carlos Henrique de Oliveira, a Bahia perdeu teve uma baixa de 2580 empregos formais no setor durante os últimos 12 meses. 

O dirigente, no entanto, destacou que nada depende apenas de uma esfera de governo. “É um trabalho conjunto, que envolve os governos federal, estadual e municipal, bem como o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Ninguém faz nada sozinho”, afirmou. A visão é compartilhada por Carlos Henrique de Oliveira, que concedeu entrevista ao CORREIO por telefone e afirmou que além do trabalho em conjunto entre os poderes, é necessário que todos cooperem para atrair investimento da iniciativa privada para o estado - de forma a gerar mais empregos e sustentabilidade no setor.

Quem também acredita no crescimento da construção civil desde que aconteçam investimentos no setor é Cláudio Cunha, presidente Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário da Bahia (Ademi-BA). O empresário explica que a construção civil é uma das indústrias que tem a maior capacidade e velocidade de contratação de mão de obra direta, indireta e com as mais distintas qualificações, além de ajudar no aumento da produção de outras indústrias como de materiais de construção, elevadores e comércio.

“O Brasil precisa melhorar a sua infraestrutura, atender a demanda habitacional e concluir milhares de obras paralisadas, e para isso conta com a indústria da construção civil, que está pronta para atuar”, garante Cunha.

Preocupações

Alban acredita que a indústria baiana apresenta uma das piores performances do Brasil, podendo, inclusive, perder o posto de 6ª maior economia do país, 7ª indústria do Brasil e maior economia do Nordeste.“Se não pudermos trabalhar mais conectados com as políticas dos estados e dos municípios, vamos ficar para trás, porque já estamos perdendo espaço para Pernambuco e Ceará, que, no acumulado de 2018, até outubro, ultrapassaram a produção industrial da Bahia”, afirmou.No entanto, mesmo dentro deste cenário preocupante, Alban acredita que é possível alavancar a produção industrial baiana e, consequentemente, aumentar a arrecadação do estado. Para a Fieb, com a economia ajustada, os investimentos feitos nos setores devem retornar, “o que alimenta o ciclo virtuoso”.

Ainda segundo o presidente, ao tratar da parceria entre as esferas de governo, uma vertente possível é a parceria com a Prefeitura de Salvador a partir da economia criativa, por meio do Senai Cimatec e Cimatec Industrial. “Isso possibilita atrair novos segmentos, como a indústria de saúde, petróleo, gás, energias renováveis”, citou.

Quanto à possibilidade de se ampliar a exploração de energias sustentáveis, o presidente da Fieb disse que isso deve ser feito com urgência. “Outros pontos da Bahia podem ter acréscimo da economia com maior implantação de energia eólica. Somos um estado de grande potencial eólico e solar e precisamos nos aproveitar disso, promover concessões para modernizar a infraestrutura, sem esquecer o trabalho de adensamento das cadeias industriais, a exemplo da petroquímica, automotiva, têxtil/vestuário, alimentos/bebidas, plásticos etc”, declarou.

Expectativa de alta Os setores da indústria que têm expectativa de alta em 2019 são: construção civil, refino de petróleo e produção de álcool, plástico e borracha, metalurgia básica e o setor automotivo. De acordo com Ricardo Alban, a possibilidade de retomada de obras de infraestrutura a partir de concessões à iniciativa privada é o que deve alavancar a construção civil.“Tudo isso envolve a construção da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol) e do Porto Sul, que devem ter apoio de recursos federais, bem como a concretização, cada vez mais próxima, da Ponte Salvador-Itaparica, que tem a ajuda de empresas chinesas. Além disso, contribui para o reaquecimento da construção civil as obras do BRT e do VLT, em Salvador”, ressaltou o presidente da Fieb.Além disso, segundo ele, no campo habitacional, é esperada uma melhora com a redução dos juros e políticas de incentivo do Governo Federal.

Já no setor de refino de petróleo e produção de álcool, o programa de reestruturação (venda de ativos) pode ter impactos positivos na Bahia. “É esperado o piso da produção de petróleo na Bahia a partir de agora, principalmente se houver a possibilidade de privatização da Petrobras no próximo ano”, destacou Alban.

Na área de refino – que teve alta de 18% na comparação entre outubro de 2017 e de 2018, mas, no acumulado, caiu 4,5% –, a Fieb acredita que a provável venda da Refinaria Landulpho Alves traga investimentos em modernização para a planta industrial do estado. “Isso é pensado em termos de geração de PIB e arrecadação de impostos”, reforçou.

Já no setor automotivo, é esperado, para 2019, uma recuperação ainda maior do mercado.“Tudo isso é interligado e depende muito da oferta de crédito, o que está relacionado, também, ao aumento do poder aquisitivo da população, à diminuição do desemprego”, disse.Os pneus (borracha) acompanham, segundo projeções da Fieb, a recuperação do setor automotivo, que cresceu 15% no acumulado de 2018. “Neste caso, as modernas plantas baianas têm boa oportunidade também na exportação”, avaliou Alban.

Na Bahia, o setor de metalurgia tem expectativa positiva para 2019, principalmente após o crescimento de 2% no acumulado de 2018 e com o enfraquecimento do mercado internacional, puxado pela baixa de preços das commodities.

“A principal empresa do setor na Bahia passou por reestruturação e modernização, o que devem aumentar o desempenho no próximo ano”, afirmou Alban.

Estabilidade “Um dos grandes problemas na produção de celulose na Bahia diz respeito às brigas fundiárias”, avaliou o dirigente da Fieb. Para ele, é esperada uma melhoria pequena no setor, mesmo com o impedimento de melhorias e expansão, causado pela falta de segurança no investimento.

No entanto, Ricardo Alban afirmou que não há previsão de novos produtores a curto prazo. O cenário nacional é parecido ao baiano, com quadro de estabilidade tanto na produção quanto nos preços. Na Bahia, no acumulado de 2018, até outubro, o setor registrou aumento de 2,2,% na produção, enquanto a comparação entre 2017 e 2018 teve alta de 39,8%.

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Dúvida e preocupação O setor químico e petroquímico é uma grande preocupação da Fieb em decorrência de alguns fatores. O principal deles e mais emergencial é o processo de hibernação das Fábricas de Fertilizantes da Petrobras, as chamadas Fafens, em especial as localizadas na Bahia e Sergipe, agendado para 31 de janeiro de 2019.

“Ao que tudo indica, não vai haver prorrogação deste prazo e a hibernação vai acontecer mesmo em janeiro. Isso é muito ruim, porque as fábricas já davam prejuízos, segundo a Petrobras. Depois do fechamento, aquilo vai virar sucata e ninguém vai querer comprar. Vai ser uma perda em todos os setores, uma reação em cadeia, principalmente em razão do alto grau de interação do Polo”, disse Alban.

Outra preocupação da Fieb é quanto à venda da Braskem à empresa LyondellBasell Industries. “Claro que uma multinacional vai dar conta do recado, mas o que nos preocupa é não saber detalhes dessa nova gestão, no que tange à priorização dos investimentos”, avaliou.

A Braskem possui 29 unidades industriais espalhadas no país – Bahia, Rio Grande do Norte, Alagoas, São Paulo e Rio de Janeiro –, cinco plantas nos Estados Unidos, uma planta no México e duas na Alemanha. 

No entanto, para Ricardo Alban, a grande dúvida da Fieb e do setor industrial é quanto à perda de competitividade do Polo de Camaçari, principalmente por causa dos problemas de infraestrutura, em especial os modais portuário e metroviário.

Já quanto ao setor de emprego, o presidente da Fieb afirmou que a curva se deve à terceirização da mão de obra e à implementação das novas leis trabalhistas. “Isso causou a redução do PIB para o setor, mas o que aconteceu foi que a arrecadação migrou de posto, saindo da indústria (produção) para a parte de serviços. Novamente, o que vai fazer esses números subirem relativamente é a construção civil e a infraestrutura”, explicou.

Cenário nacional A retomada da economia para o setor industrial, segundo Ricardo Alban, depende muito de como o novo governo federal vai agir, principalmente a partir da implementação das reformas. Ele acredita que, em hipótese alguma, é vantajoso implementar a reforma fiscal/tributária em primeiro plano, sendo, para ele, algo secundário.“É importante que tudo seja implementado nos primeiros cem dias de governo. Todos nós temos o direito de errar, menos o novo governo eleito. O emergencial é fazer a reforma da Previdência”, comentou.Em segundo lugar de importância, Alban destaca a reforma administrativa. “Não é possível termos uma estrutura de custo que envolve o estado brasileiro como um todo que não é compatível com a realidade dinâmica de qualquer economia. E a Reforma Política, que precisa dar respostas que a sociedade quer. Hoje a gente tem um pluripartidarismo exagerado e uma eterna briga entre o parlamentarismo e o presidencialismo. É preciso encontrar a equação certa para o país e o ideal seria que tudo fosse feito logo no primeiro semestre de 2019”, destacou o presidente da Fieb.

Na política, a questão fiscal é de extrema importância para se pensar na retomada da economia brasileira, apesar de dever ser tratada em segundo plano, opina Alban. “Ela é injusta, alta, mas está andando, então ela é secundária e deve vir com uma melhor equalização e racionalização da carga tributária, não com a redução. Eu acredito que ela só vá chegar em 2020, porque não é a prioridade do estado brasileiro”.

Alban acrescentou que o estado brasileiro já tem uma arrecadação alta e “exagerada”, sendo necessário, a partir de 2019, encontrar uma equação para equilibrar a distribuição da arrecadação. "Isso vai ser difícil ser pensado em um primeiro momento. Nosso problema não é uma competitividade interna, entre estados, apesar de a região sudeste estar numa posição melhor do que o norte e o nordeste. Mas, a questão é competir com o comércio e o serviço em escala mundial", observou.

O presidente da Fieb aproveitou para fazer uma crítica à distribuição dos recursos proporcionais à arrecadação. Para ele, enquanto a agricultura arrecada 10% apenas do que a indústria arrecada, esta recebe um incentivo muito menor se comparado àquela. “Por isso, temos uma agricultura pulsante, porque ela foi apoiada e conseguiu progredir. A gente não consegue se lembrar efetivamente a última vez que houve uma política industrial no país e até mesmo implantada e atualizada na Bahia”, concluiu.

Além de Alban, participaram da reunião de divulgação dos números e projeções para o setor industrial brasileiro e baiano em 2019 os vice-presidentes da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), Josair Bastos e Alexi Portela. 

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier.