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Fernanda Santana
Publicado em 26 de fevereiro de 2022 às 11:00
- Atualizado há 2 anos
Depois de dois meses de incertezas quanto a uma possível invasão, a baiana Iasmin Avhustovych, 29 anos, foi uma das milhares de pessoas que deixaram a Ucrânia desde a última quinta-feira (24), quando a Rússia invadiu o país. Iasmin e o marido, Mykola, receberam a notícia da invasão às 7h. Ela arrumou as malas e fugiu para a Polônia. Ele precisou ficar no país. Nas linhas a seguir, Iasmin conta parte da saga para fugir da Ucrânia. >
Há uma semana, Iasmin, que mora na Terebovlya, ao oeste ucraniano, relatou ao CORREIO como estava o clima na cidade. Parecia haver tranquilidade, apesar das malas preparadas caso houvesse necessidade de fuga.“Chorei muito. De choque, incerteza, por deixar meu marido. Eu e ele tínhamos conversado sobre isso algumas vezes, mas quando chega a hora, é diferente. Mesmo sabendo que nossa cidade está segura até então”. Neste momento, o marido de Iasmin está no porão da casa deles, por questão de segurança. A cidade vizinha está sob risco de bombardeio. Os moradores de Terebovlya, até então, acreditavam que, se houvesse conflito, este não chegaria ao oeste do país. Iasmin e o marido, Mykola, no casamento dos dois (Foto: Acervo Pessoal) A invasão russa à Ucrânia aconteceu na última quinta-feira, logo depois de um pronunciamento televisionado do presidente da Rússia, Putin, às 05h55 do horário de Moscou. Na gravação, Putin disse que o confronto é inevitável. Militares russos invadiram a Ucrânia ao longo dos trechos leste, sul e norte, segundo comunicado oficial ucraniano, depois de dois meses de pressão militar e disputa diplomática. >
O Itamaraty não sabe quantos brasileiros vivem na Ucrânia - a estimativa é que são, pelo menos, 500. A Embaixada do Brasil no país recomenda que, quem pode, deixe o país. Mas ainda não há plano oficial para uma campanha de retirada dos brasileiros.>
Na viagem de carro para Ucrânia, acompanhada de uma amiga, Iasmin viu comboios militares, carros cheios de pessoas em fuga, esperou uma fila de 20 quilômetros para entrar na Polônia e presenciou o desespero de pessoas impedidas de deixar a Ucrânia.“Aqui há gente sem passaporte, sem visto, está um verdadeiro caos. Tivemos que descer no posto da Ucrânia, passar por ele e seguir andando, por uns quatro quilômetros. Só crianças estão conseguindo passar com as mães”, contou.Leia relato completo: >
'Chorei muito. De choque, incerteza, por deixar meu marido'>
Minha cunhada é policial e ligou para gente cedo, pedindo que fizéssemos uma mochila de emergência, porque o estado de guerra tinha sido declarado. A partir disso, nem ela, nem meu marido podem sair do país. Isso aconteceu por volta das 7 horas da manhã daqui. A gente não imaginou que seria tudo tão rápido.>
Acordamos com a chamada e já começamos a arrumar as malas. Eu já tinha algumas peças simples separadas e medicamentos em uma bolsa. Pegamos os documentos e colocamos tudo na mochila. Minha sogra ligou e disse que ia para a Polônia, porque um amigo dela ia para a fronteira buscar a família. Ela disse que eu deveria ir também."Chorei muito. De choque, incerteza, por deixar meu marido. Eu e ele tínhamos conversado sobre isso algumas vezes, mas quando chega a hora, é diferente. Meu marido não pode mais sair do país, passou a noite no porão da nossa casa, por segurança. A cidade vizinha teve risco de bombardeio".Sai cedo de lá, eram umas 9 horas da manhã. Agora, enquanto falo com você, já são 15h. A fronteira tem movimento, há muita gente passando, alguns comboios militares. Parece que o ataque teve mais a intenção de nos assustar. Meus pais, que estão em Salvador, estão super preocupados com a situação.>
O marido da minha amiga, com quem eu viajei junto, já chegou na fronteira e está nos esperando. Aqui há gente sem passaporte, sem visto, está um verdadeiro caos. Quando chegamos à fila de controle da Polônia, para entrar no país, ela já estava muito grande. Tivemos que descer no posto da Ucrânia, passar por ele e seguir andando, por uns quatro quilômetros. "Não estamos mais conseguindo passar, só crianças passam com as mães. Estou com muito frio, você não tem noção e ainda estamos esperando. Faz três horas que estamos tentando entrar na Polônia, as pessoas já estão com ânimos exaltados, estão há muitas horas aqui. A fronteira está complicada. Há pessoas ajudando, como voluntárias, levando as pessoas de um lado para outro".Depois de mais de seis horas em pé no frio para controle de passaporte, consegui chegar à Polônia e estou realmente exausta. Quando chegamos à fila para conseguir passar pela fila de controle e entrar na espera, foram 20 quilômetros de fila. Me chocou o desespero de uma moça com ataque de pânico porque o marido foi barrado na entrada. Tudo está sendo chocante.>
É revoltante ver uma guerra em que milhares de famílias inteiras estão sofrendo por decisão de um louco. >