Filhas de Gandhi animarão festa que marcará Dia de Iemanjá como Patrimônio Imaterial

Evento será neste sábado (1), às 10h, no Rio Vermelho

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  • Da Redação

Publicado em 31 de janeiro de 2020 às 15:31

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

A cerimônia que marcará celebração da Festa de Iemanjá como Patrimônio Imaterial cultural de Salvador terá o comando musical do grupo Filhas de Gandhi. O evento será neste sábado (1º), às 10h, na Colônia de Pescadores Z1, no Rio Vermelho.

A inclusão será feita pela Prefeitura, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), na véspera do dia 2 de fevereiro, quando é comemorado o dia da Rainha do Mar. O ato solene terá a presença do prefeito ACM Neto, do presidente da FGM, Fernando Guerreiro, além de outras autoridades, religiosos e devotos.

Após a concessão do registro que reconhecerá a festa como Patrimônio Imaterial de Salvador, a FGM irá elaborar um Plano de Salvaguarda junto com pescadores da colônia, visando a elaboração de conhecimento, fortalecimento e divulgação da festa.

Para Guerreiro, esse tipo de homenagem é importantíssima. “Nosso calendário festivo é único, ele só existe dessa maneira na nossa cidade. Começamos com o Dia do Samba, depois vem a Festa da Conceição, do Bonfim, da Ribeira, de Itapuã e agora do Rio Vermelho, essa última reconhecida em todo mundo. Nada mais justo que registrar essas manifestações como nosso patrimônio cultural. Recebemos a solicitação da OAB, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural aprovou, o prefeito assinou e agora temos o registro que é a garantia que a festa de Iemanjá será mantida e aperfeiçoada”, explica.

Já na opinião da diretora de Patrimônio e Humanidades da FGM, Milena Tavares, o ritual reforça a fé no culto afro-brasileiro. “O registro protege a manifestação na medida em que garante o compromisso de apoio, divulgação e a produção de conhecimento e documentação acerca da manifestação”, assinala.

Celebração O pedido de registro e reconhecimento da festa como Patrimônio Cultural de Salvador foi feito pela Ordem dos Advogados do Brasil – Secção Bahia, com o apoio da própria Colônia de Pescadores, que organiza a festa. 

Para abertura do processo, a equipe técnica da Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) consultou pescadores do Rio Vermelho, que também assinaram declaração de anuência quanto ao registro da festa de Iemanjá como Patrimônio Cultural do Município.

Ao CORREIO, a FGM informou que o Registro Especial do Patrimônio Imaterial pela Prefeitura, por meio da lei 8550/14, "se constitui em ação de valorização e reconhecimento da Festa de Iemanjá do Rio Vermelho". Acrescentou ainda que "o presente do Rio Vermelho vem sendo promovido por pescadores desde a década de 20 do século passado, reforçando a fé no culto afro-brasileiro, e alcançou espaço no calendário, reunindo pessoas de todas as partes do mundo, reforçando os laços de pertencimento com o mar do Rio Vermelho e sua história, que está integrada ao universo macro da cidade do Salvador, logo trata-se de referência cultural local digna de nota".

Ainda segundo a fundação, após o registro ser feito neste sábado (1), haverá uma reunião com detentores e produtores da Festa de Iemanjá  para a elaboração de um Plano de Salvaguarda, que tem como objetivo promover ações de apoio à celebração e implementar as ações de curto, médio ou longo.

O CORREIO conversou com Roberta Casali, presidente da Comissão de Responsabilidade Social da OAB Bahia e secretária geral da Comissão Nacional de Meio Ambiente da OAB, responsável por tomar a iniciativa de propor a imaterialização da festa dedicada à sereia.

"Tomei a iniciativa de fazer a proposta à Ordem e fizemos uma petição de requerimento após uma longa pesquisa envolvendo a Festa de Iemanjá. O requerimento foi feito para a FGM, para que haja imaterialização em Salvador, mas também mas também para o Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural do Estado da Bahia), para que tenhamos esse reconhecimento no estado, e para o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), para que seja nacional também. Esses dois últimos estão tramitando ainda", disse.

Ela acrescenta ainda que a festa é uma das mais importantes do calendário baiano. "A Festa de Iemanjá é a com maior visibilidade na região, não temos nenhuma outra assim. Fora isso, acho um festejo riquíssimo em representatividade, principalmente para o candomblé", completou.

Já para Cristiane Sobrinho, doutora em Antropologia e mestre em Estudos Étnicos e Africanos, esse processo de patrimonialização imaterial será de suma importância. "É importantíssimo, porque a Festa de Iemanjá é a única da cidade que não tem relação direta com o catolicismo, que não tem esse sincretismo direto com a igreja católica", avalia.

A pesquisadora enaltece ainda a força que tem os festejos de 2 de fevereiro. "A festa acontece desde o século 20, feita pelos pescadores. Isso mostra uma resistência. A Colônia de Pescadores do Rio Vermelho, que é a ais antiga da Bahia, tem uma força imensa e conseguiu manter essa festa com fortes tradições. Ela passa por mudanças ao longo dos anos, como a própria preocupação com a ecologia, o meio ambiente, mas segue seus rituais. Então, essa imaterialização também é uma forma de assegurar um apoio instituicional para que ela siga", completa.Pedido O CORREIO teve acesso ao documento que solicita a imaterialização da Festa de Iemanjá. Veja na íntegra as justificativas que sustentaram o pedido:

1.    Por ser a principal festividade em homenagem à Iemanjá do mundo; 2.    Por expressar, a um só tempo, tradicional comemoração em religiões de matriz africana, como Candomblé e Umbanda, bem como manifestação secular de comunidade de pescadores locais; 3.    Por ser uma celebração de continuidade histórica, representativa que está sempre se (re)elaborando e se atualizando na construção e fortalecimento da identidade religiosa e cultural, pública e popular;  4.    Por congregar hoje não apenas povos de terreiros e pescadores como também, diante da magnitude que alcançou, atrair devotos de diversas religiões, curiosos e turistas locais, nacionais e internacionais; 5.    Por oferecer visibilidade e proporcionar a difusão de saberes das manifestações tradicionais afro-brasileiras na cidade; 6.    Por ser um instrumento no combate ao racismo e à intolerância religiosa, por meio de seus ritos e suas práticas, fortalecendo a compreensão da pluralidade cultural; 7.    Por reconhecer práticas e conhecimentos de culturas afrodescendentes, que expressam as culturas do povo do Axé; 8.    Por se trata se evento de grande relevância e promover a imagem do país no exterior, haja vista movimentação do setor de turismo e comércio em decorrência da divulgação de suas belíssimas imagens e canções por todo o mundo; 9.    Por ter sido reconhecida como patrimônio cultural em outros estados brasileiros; 10.    Por ser considerada como a inauguração do calendário de carnaval do estado da Bahia; 11.    Por ser imprescindível a preservação e difusão da memória cultural brasileira por intermédio do instrumento do registro de festas populares, previsto no Decreto Federal nº 3.551/2000; e 12.    Pelo fato de que o registro recomendará ações de salvaguarda, possibilitando a manutenção da “memória coletiva” e seu reconhecimento com o patrimônio cultural nacional.

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